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A novela virtual do dia a dia

(Por Cristina Barbosa)

A cena já nos é familiar. Abrimos o Facebook ou o Instagram, e lá estão as bolinhas convidativas ao clique rápido. Poucas fotos e vídeos nunca parecem ser suficientes para mostrar como aquele show foi super legal, o quanto o dia está sendo divertido ou simplesmente para falar sobre o café da manhã. Quanto mais stories, melhor.

Com a duração de apenas 24 horas, anônimos e famosos vão mostrando todos os dias cada detalhe do que fazem, comem e vivem. Assim, acompanhamos mininovelas da vida de cada um. No início de 2019, o Facebook revelou alguns de Seus números publicamente, mostrando que o Instagram possuía cerca de 1 bilhão de usuários ativos e 400 milhões deles acessavam os stories todos os dias. Desses usuários, 2 milhões são anunciantes que pagam para ver seus anúncios serem veiculados na telinha dos usuários.

Unsplash/Priscilla du Preez

Diante desse fenômeno, o Twitter anunciou, no começo deste ano, seu novo recurso chamado fleet, adjetivo em inglês que quer dizer “fugaz”, “efêmero”. A proposta, implementada primeiramente no Brasil, sugere dar a oportunidade aos usuários de postar o que quiserem sem curtidas, retweets (quando alguém compartilha em sua página pessoal o que outra pessoa postou) ou comentários públicos.

O usuário pode escrever até 280 caracteres de texto, acrescentar fotos, GIFs e vídeos, e eles desaparecerão em 24 horas. O curioso é que, indo na contramão da paixão por stories, muita gente reclamou dessa inovação, inclusive compartilhando a hashtag #RIPTwitter como forma de protesto.

O argumento dos usuários é a de que essa é uma melhoria que eles não pediram, mas que a principal funcionalidade ainda não foi disponibilizada: a possibilidade de editar tweets, modificando o que já se escreveu um dia. O Twitter tem essa característica de rede social “permanente”, pois, uma vez que não é permitido editar o que foi postado, tudo fica guardado ali e, assim, pode ser acessado e revisitado por qualquer um. Esse incômodo é fácil de entender quando comparado aos stories, tão famosos por simplesmente desaparecerem em 24 horas.

A verdade é que as pessoas amadurecem, se arrependem, brigam, fazem as pazes e mudam de opinião o tempo todo. Quem nunca escreveu alguma coisa e se arrependeu depois que atire a primeira pedra. Ter todas essas opiniões postadas na rede social à disposição de qualquer um que possa trazer aquilo de novo à tona pode ser complicado.

Unsplash/Guilherme Stecanella

Tal qual uma novela, acompanhamos as vidas alheias através dos posts que compartilham diariamente. Vemos um pouco de suas casas, da forma como falam, da rotina de seus filhos, de como se maquiam, como se vestem, quais produtos nos vendem e lá permanecemos por longos minutos, assistindo o dia a dia de amigos, quando muitas vezes nem nos falamos mais com tanta frequência, ou de famosos, nos sentindo parte de suas vidas, com a infantil percepção de que estão ali falando conosco diretamente, mostrando suas rotinas porque querem dividir tudo, e não porque isso envolve patrocinadores ou um desejo excessivo de fama e exposição.

A tendência já mostrada em conferências de tecnologia é que outras redes sociais e sites de compartilhamento, como Google e LinkedIn, também sigam rumo aos seus próprios stories, implementando algumas particularidades que sejam próprias aos seus objetivos. A preferência pela efemeridade é uma realidade. Diante da sensação de que os dias passam rápido demais, mostrar uma foto ou um vídeo por apenas um dia faz essa sensação aumentar. Mas será que realmente nos importamos com o que o outro fala e como ele age? Talvez a vida alheia seja apenas mais um capítulo da nossa novela preferida. E que acaba no fim do dia.



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