Uma das causas que ganhou mais notoriedade nos últimos tempos foi a do refúgio: a dura realidade de pessoas que vive fora de seu país-natal por conta de dificuldades financeiras, políticas ou religiosas foi alvo do novo projeto de Gregg Segal, fotógrafo norte-americano conhecido por seus ensaios críticos. O Daily Bread, por exemplo, virou livro em 2019 e retratou as refeições diárias de crianças ao redor do mundo (confira aqui mais sobre ele!)
O novo projeto, no entanto, busca registrar todo alimento consumido em um dia por refugiados venezuelanos. Além disso, os pertences trazidos por eles do seu país de origem também compõem as fotos. Este projeto foi possível graças a uma parceria entre o fotógrafo, a sede colombiana da agência Publicis e a Agência de Refugiados das Nações Unidas, ACNUR.
As imagens permitem observar a realidade vivida por aqueles que precisaram fugir do regime do ditador Nicolás Maduro. Atualmente, as famílias retratadas vivem na Colômbia, mas ainda enfrentam problemas relacionados à economia e à realidade social. Por isso, a alimentação é basicamente composta por pães e arepas, massa tostada característica da Venezuela tostada.
Em alguns casos, as famílias podem dispor de apenas uma destas opções e de um pouco de água. Entre os pertences trazidos estão algumas roupas, brinquedos e, talvez, livros. Um vestígio de memória para aqueles que foram obrigados a abandonar suas casas, deixando uma vida inteira para trás.
Além da crítica e da reflexão promovidas, as fotos também fizeram parte de uma campanha que levantou fundos para fornecer cuidados médicos essenciais aos refugiados. Entre os relatos mais surpreendentes, Segal ouviu de uma garota que ela não comia ao menos uma maçã nos últimos três anos. Isso porque o preço da fruta girava em torno de 5 mil bolivares, aproximadamente 2,2 mil reais ou 500 dólares.
Sobre os pertences, o fotógrafo foi tocado pelo desabafo de uma mãe que trouxe o último dever de casa feito pelo filho com o intuito de ele não perder memórias de sua infância. Além disso, um menino, após a sessão de fotos, pediu para levar um pão para não Sentir Fome Novamente.
Nathalia Rodríguez, 9 anos, foi fotografada em 27 de setembro de 2019 em Bogotá, na Colômbia. Entre seus pertences estão roupas, cobertores e um livro de histórias bíblicas. Sua alimentação é composta por pão, biscoitos, arepas, batatas fritas, água, suco, dois pirulitos e bananas, a única fruta pela qual sua família podia pagar. Devido ao preço das maçãs, a última vez que Nathalia comeu a fruta foi há três anos. A falta de garantias para suas necessidades básicas, como nutrição e cuidados mínimos de saúde, coloca seu futuro em dúvida.
Michell, 19, e Seus Dois Filhos foram fotografados no dia 27 de setembro de 2019 em Bogotá, Colômbia. Esta é a segunda vez que ela está na Colômbia já que, da primeira vez, foi enviada de volta à Venezuela. Durante a viagem, Michell teve um ataque epilético e perdeu a consciência, mas o dinheiro que ganha vendendo jornais não é suficiente para cobrir o custo de seus remédios. Seus bens e comidas escassos não ofuscam sua vontade de fazer o melhor por si mesma e pelos seus filhos. O menino, após a sessão de fotos, levou dois pães na esperança de não sentir fome novamente.
Aleska, Arianny e Lucas fotografaram 27 de setembro de 2019. Para a viagem a Bogotá, Arianny Torres separou algumas mudas de roupa e alguns brinquedos, além de remédios, fraldas, uma mamadeira, fotos de parentes e sua bíblia. Com tudo isso organizado em uma pequena mala, viajou, com seus dois filhos pequenos em busca de uma vida mais esperançosa. Arianny vende doces na Praça Bolivar e consegue dar a seus filhos três refeições diárias. Essa é mais um retrato de uma mãe disposta a dar um futuro melhor para seus filhos com muita força, coragem e determinação.
Fotografado em 27 de setembro de 2019, Williams, de 7 anos, fugiu da Venezuela na companhia da mãe, Yudith. Em sua velha mochila, o menino carrega algumas coisas, como seu último dever de casa de sua antiga escola. No caminho até a Venezuela, Williams e Yudith comiam apenas pão, pedaços de frutas e bebiam água.
Yosiahanny deixou a Venezuela com suas duas filhas e um bebê a caminho, mas apenas uma foi fotografada no dia 27 de setembro de 2019. Para a viagem, Yosiahanny preparou uma dúzia de arepas e arrecadou dinheiro para garantir a fórmula para as pequenas. Ela trouxe consigo algumas mudas de roupa, sua Bíblia e o ursinho de pelúcia que ganharam da avó. O marido de Yosiahanny trabalha como segurança, mas, ainda assim, o dinheiro ganho é pouco, o que faz com que a proprietária dos quartos alugados apresse a mudança da família. Para Yosiahanny, o amor é o que torna a crise tolerável.
