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Impressões do Tejo

Por Brunner Macedo

Eu conheci o Tejo em uma chuvosa tarde de novembro. Conheci o Tejo antes de poder me preparar. É que a estrada insistia em contorná-lo, quanto mais se aproximava de Lisboa, de Alfama e do Bairro Alto. E quanto mais eu me via em Lisboa, sentia que mais visitava o passado, e mais pressentia o Brasil.

Eu já estava em Madragoa, já sentia um calafrio, que esta língua portuguesa, tão repleta de proezas, não consegue descrever. Alta tarde, remexia o passaredo em acrobacias tão perfeitas, meio às sinas deste céu.

Sentei-me à ribeira do Tejo, e perdi-me nos movimentos das águas. Depois me perdi no movimento do tempo, tempo que passa, volta, segue e para. Eu estava às margens do Tejo, onde junto havia uma flor, deixada ali por algum transeunte, ou por algum contemplador. Mas o Tejo estava sério, suas águas escuras e seu leito farto. O Tejo seguia sem precisar voltar. Seguia para o mar, como seguiram os antigos.

Como pode a história reservar a dois mundos díspares, tão íntima relação? Tão distantes, a nova e a velha Lusitânia, mas tão cúmplices de um conto de renascença. Tantas máculas, manchas de sangue e pecado, derramados em fados e em chão pueril. Tantos dias, contadas as horas, luxúrias e glórias, Vera Cruz e pau-brasil.

Nestes dias em que me afasto de tudo, permaneço no todo, desbravando esse mar. Esse cais, fui contando em palavras, fui sentindo em metáforas, vidas que não vivi. E, nestas horas, que fujo do mundo, descubro que o mundo não é tão grande assim. Vou-me embora, levando na alma um resquício do Tejo e da chuva que cai sobre mim.




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