Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Estudante e jornalista erram ao avaliar consequencialismo de Schwartsman

Fábio Palácios é um professor de jornalismo. Cristiano Capovilla é um estudante doutorando em filosofia. Eles aparecem na Folha de S. Paulo para comentar o agora já célebre artigo de Hélio Schwartsman, aquele sobre o desejo de ver Bolsonaro morto. No meio do texto que apresentam, destaco o seguinte trecho importante:

Afinal, da mesma forma que alguém pode pensar que a morte de Bolsonaro é justificável em função de suas consequências positivas, o próprio Bolsonaro, dentro do mesmo paradigma consequencialista, teria o direito de desejar (e, pior, o poder de agir para) a morte de todos os “comunistas” (seja lá o que esse termo signifique), pois isso poderia ser por ele considerado ótimo para, digamos, a manutenção das sagradas tradições, da livre iniciativa e do progresso da nação. (Lógica de Schwartsman também serviria para Bolsonaro justificar mortes, Folha, 16/07/2020)

Essa avaliação está errada. O consequencialismo aprovado por Hélio não é qualquer um. Ele mesmo disse de onde vem: John Stuart Mill. Desse modo, o cálculo não visa uma simples objetividade. Trata-se de uma perspectiva utilitarista ligada ao hedonismo moderno. O que se deseja é que se tome o mais útil para a coletividade, para a sociedade, e o mais útil para a sociedade é o que a deixa mais feliz. Para o hedonismo moderno ser mais feliz é evitar maximamente a dor. Nesse sentido, a morte de um único humano é um mal menor que a morte de mais de um indivíduo. Esse tipo de liberalismo britânico deu base para o socialismo da Ilha, bem diferente do socialismo do Continente.

Desse modo, a ética consequencialista não é propriamente consequencialista, em um sentido banal do termo. Ela condiciona a consequência. Ela também tem um princípio. Não é parecido com o princípio da ética do dever, de Kant, pois não parte de uma consciência transcendental, mas não deixa de ser uma moral: mais gente com menos dor em uma sociedade (pois perderam menos parentes possíveis) é melhor que mais gente com dor em uma sociedade (pois perderam mais pessoas). No caso específico posto por Schwartsman a eliminação de um homem em troca de poupar muitas outras pessoas está atrelada a uma premissa: o Algoz Dos Muitos é aquele que se deseja ver morto: Bolsonaro. O cálculo invocado por Schwartsman não parte de uma mentira ou de uma tolice. Nem um cálculo aleatório ou irracional. A morte é a morte justamente do algoz dos muitos.

Bolsonaro realmente, por tudo que se sabe de ciência, está induzindo pessoas ao perigo à medida que vem propagandeando a cloroquina. Além disso, também é algo bem plausível, avaliar que Bolsonaro tem tomado medidas de não proteção da população mais pobre, levando-a ao trabalho forçadamente, expondo-a aos coronavírus. As estatísticas colaboram com essa avaliação. Até a revista científica The Lancet chegou a publicar editorial dizendo que o vírus brasileiro era antes Bolsonaro que qualquer outro agente infeccioso. O auxílio emergencial maior e de modo mais racional, uma vez concedido, ajudaria mais. As medidas de isolamento social poderiam ser, então, mais eficazes. Bolsonaro fez tudo errado. Se ele some do mapa, ainda agora, pode-se corrigir rumos, e mais gente é poupada. Afinal, estamos ainda no meio da pandemia. Aliás, ela não se estenderia tanto se ele tivesse agido corretamente, como TODOS o aconselharam.

O Erro Dos Autores citados acima, no primeiro parágrafo, é acreditar que Bolsonaro pode desejar que seus adversários morram e, então, sair posando de ético a partir do consequencialismo. Não pode. Os tais “comunistas”, seus inimigos, não estão pondo em risco a população em sua maioria. Não há indícios disso. Do PSOL até Moro passando pelos fazedores de live, Dino, Ciro, Lula e tantos da esquerda absorvida por hábitos de classe média, ninguém está pondo em risco a maioria da população. Bolsonaro não pode desejar morte e justificar eticamente segundo um sonho dele. O consequencialismo tomado corretamente não autoriza tal postura. Schwartsman não partiu de um sonho, mas de uma constatação empírica fundamentada:  Bolsonaro é um Bolsovírus. A ética consequencialista faz um cálculo, mas não é um cálculo cego e tolo. O artigo citado erra feio ao admitir que a ética consequencialista funciona assim, como um cálculo abestalhado.

O erro dos autores é não conhecer corretamente como se deve aplicar a ética consequencialista, ou seja, como ela se vincula a preceitos do liberalismo humanista que, como disse e reitero, até deram para os britânicos um tipo de pensamento socialista. John Stuart Mill não era um tolo. Para tirá-lo da jogada é preciso muito mais que artigos de jornal. Se há algum problema com sua ética, esse problema é bem outro. E eu o apontei em artigo aqui nesse blog, com o título de O desejo de ver o Bolsonaro agonizar!

Paulo Ghiraldelli, 63, filósofo.



This post first appeared on -, please read the originial post: here

Share the post

Estudante e jornalista erram ao avaliar consequencialismo de Schwartsman

×

Subscribe to -

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×