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Os campos de concentração no Ceara

 

Se voce ouvir campos de concentração vai logo vir a sua cabeça  Auschwitz , 2° guerra , nazismo , judeus .....

Mas nunca ira pensar que existiram campos de concentração aqui no Brasil , mais precisamente no nordeste, mas ao invés de soldados alemães temos soldados brasileiros , e a burguesia, e no lugar de judeus , tinhamos fragelados das enormes secas que castigavam o nordeste no final do seculo 19 e começo do seculo 20 , e não errado falar que castiga até hoje.

Confira aqui no blog O Mundo Real esse post que tras um pouco do "nosso passado de absurdo gloriosos ", em adaptação da materia do site  http://plus.diariodonordeste.com.br


Foto do Relatório da Comissão Médica de 1932 - Visitados todos os Campos de Concentração da Seca de 32
CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO PATU - SENADOR POMPEU - CEARÁ

Os campos de concentração parecem uma realidade distante do que vivemos atualmente. No entanto, há mais de 80 anos, a situação aconteceu em solo cearense. Apesar de o nome remeter aos campos nazistas na Alemanha, de acordo com o livro "Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na Seca de 1932", da autora Kênia Rios, o que aconteceu no nosso Estado foi consequência da seca que assolava o Ceará desde 1930 e antecedeu os alemães.

Foto de uma das vítimas da Grande Seca, Ceará, 1878. Foto de Joaquim Antônio Correia, “Vítimas da Grande Seca”, Albúmen, Carte de Visite, 9 X 5,6 cm, Ceará, CA. 1878. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil.





Em 1932, a situação piorou e os retirantes chegavam a Fortaleza na esperança de encontrar uma solução para escapar da falta de chuva no sertão. Os jornais da época chamavam a atenção para o clima alarmante com o desembarque dos flagelados. Era comum, na época, ainda segundo o livro de Kênia, notícias que relatavam o comportamento dos retirantes, como invasões a trens e indícios de revoltas. Criou-se com isso a imagem de homens e mulheres que poderiam se tornar ameaçadores. Entre as classes dominantes de Fortaleza, surgiu o hábito de temer o grupo de pessoas.



"As famílias ficavam espalhadas pelas cidades do Interior, mas a partir de 1930 o rumo certo era Fortaleza. As elites, então, começavam a conclamar na imprensa, tanto em Fortaleza, como em Sobral e no Cariri, para a formação desses campos de concentração. E as providências foram tomadas na construção desses espaços", relata Kênia, em entrevista ao Diário Plus.


Mapa da cidade de Fortaleza no ano de 1932 indicando a localização das concentrações de Matadouro e Urubu Foto: Livro Isolamento e poder Fortaleza e os campos de concentração na Seca de 1932

A historiadora e professora do departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC) conta que a construção dos locais se insere na política de obras contra a seca. "A proposta do projeto era de salvar os flagelados, oferecer comida e assistência médica. O problema é que no Brasil nada acontece como está no papel. O que ocorreu foi que essas pessoas ficaram amontoadas".

Vítimas da seca. Crianças e adultos jazem ao lado da linha férrea que levava para o Campo de concentração de Senador Pompeu. De forma assustadoramente parecida, as cenas brasileiras dos currais humanos lembravam bastante os campos de concentração nazistas



Kênia explica que foram construídos, ao todo, sete campos de concentração no Ceará, distribuídos em lugares estratégicos para garantir o encurralamento de um maior número de retirantes, sendo dois em Fortaleza e os outros em Ipu, Quixeramobim, Senador Pompeu, São Mateus e Crato. De acordo com estatísticas oficiais, pouco mais de um mês após a abertura dos campos, os espaços somavam 73.918 aprisionados. "Eles ficavam próximos a vias férreas, porque os sertanejos se deslocavam de trem. Quando eles desciam, eram encaminhados para os campos. Lá era um confinamento, eles eram vigiados e não podiam sair sem autorização. Os que saíam, eram considerados fugitivos e a ocorrência era registrada na delegacia. Havia um grande número de pessoas confinadas em um espaço para duas mil, e aí aconteceu o inevitável. Muitas doenças, epidemias e o número de mortes diárias era grande. A alimentação, além de ser escassa, era ruim".



A professora relata em seu livro que entre abril de 1932 e março de 1933 foram registrados mais de 1.000 mortos somente no Campo de Concentração de Ipu. Ela ainda relata que era possível perceber distinções na estrutura arquitetônica dos campos. Alguns eram cercados de forma circular e outros recebiam uma conformação mais quadrangular, entretanto, havia uma estrutura básica presente em todos: posto médico, cozinha, barbearia e casebres separados por família.



O professor e doutorando em História pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Universidade Federal Fluminense (UFF), Airton de Farias, cita mais detalhes: "Os homens tinham os cabelos raspados a zero. Os campos ainda tinham banheiros, capela e casebres divididos em pavilhões para homens solteiros, viúvas e famílias. Havia uma espécie de cadeia para os retirantes desordeiros e oficinas (de olaria, carpintaria, alfaiataria etc.) para não deixar os concentrados inativos, o que era, aliás, uma preocupação das autoridades".



"Vários dos retirantes eram 'recrutados' dos campos também para as obras de emergência do governo e até para lutar na revolução paulista de 1932. Atraídos pelas promessas de trabalho, alimentação e assistência médica, os sertanejos eram privados de sua liberdade, não podendo sair sem autorização dos inspetores dos campos. Guardas constantemente vigiavam os movimentos dos concentrados para evitar fugas. Esses campos de concentração eram chamados pela população de 'currais do governo'. Houve casos de revolta dos retirantes contra aquele controle sufocante e a administração dos campos", explica ainda Airton.

Vítimas das secas de 1877/1878, no Ceará – Brasil. Foto: autor desconhecido, Biblioteca Nacional



"Junto com os retirantes, as epidemias 'encontraram' condições favoráveis para se alastrarem, devido ao ajuntamento de pessoas, falta de higiene, saúde debilitada. A mais grave dizimou em Fortaleza em um único dia, 10 de dezembro de 1878, 1004 pessoas. Foi para evitar a repetição desses eventos que os campos de concentração foram pensados. O lugar seria um lugar que sertanejos receberiam apoio governamental, mas a realidade foi bem diferente", acrescenta a pesquisadora e blogueira Fátima Garcia.

Foto do Relatório da Comissão Médica de 1932 - Visitados todos os Campos de Concentração da Seca de 32
CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO PIRAMBU - FORTALEZA - CEARÁ 

Airton de Farias frisa que no imaginário das pessoas de hoje os campos de concentração ficaram associados à Alemanha, por isso é importante que tenham acesso à história do Brasil. "Os que haviam no Ceará eram diferentes, tinham outros sentidos e objetivos. Campos de concentração, como o nome sugere, são onde ficam pessoas concentradas, confinadas, em virtude de surtos de doenças, guerras, secas, etc. Vale lembrar que a criação dos campos contou com grande apoio da sociedade, como se pode perceber nos artigos elogiosos dos jornais da época, afinal, os flagelados estariam isolados e bem assistidos, o que na verdade não aconteceu. Historicamente, no nosso Estado, secas são momentos de tensão social, em que a ordem estabelecida corre riscos ante a fome e desespero das pessoas".

"A ideia de confinar, controlar e vigiar pessoas em locais 'apropriados' já tinha acontecido na seca de 1877, com os abarracamentos em torno de Fortaleza. Na seca de 1915 houve o primeiro campo de concentração na região do Alagadiço, atual São Gerardo".

Registro fotográfico dos flagelados da seca de 1877 na estação ferroviária de Iguatu à espera de trem para Fortaleza. Na seca de 1877, Fortaleza chegou a receber retirantes que representavam mais do triplo de sua população. Fonte: "Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na Seca de 1932"

 pesquisadora também reforça que, assim como os campos de concentração, outros pontos da história do nosso Estado são desconhecidos pelo povo. "Nossa história não é contada nos livros didáticos nem ensinada nas escolas. Pessoalmente acredito que o assunto é relevante em primeiro lugar porque revela um aspecto pitoresco que foi vivenciado por uma parcela de nossos antepassados; e depois porque mostra que o fenômeno da seca no Nordeste, apesar de secular, nunca é tratado de forma efetiva, sempre é uma solução pontual, visando aquele período, aquele grupo de flagelados. Acredito ainda, que não haja empenho das chamadas Secretarias de Cultura ou de Patrimônio ou similares, em preservar essas histórias, o que existe é um esforço para que sejam esquecidas, como se o passado os envergonhasse".

Notícia sobre o Campo de Concentração dos Flagelados, publicada no Jornal O POVO, em 16/04/1932.



COMO TERMINOU


No ano seguinte, com as primeiras chuvas de 1933, a imprensa efetivou uma forte campanha para o fim dos campos de concentrações. "As poucas chuvas que começaram a cair no sertão já forneciam uma certa segurança para os fechamentos das concentrações. Pensava-se que a cidade não corria mais o risco de invasão", conta Kênia em seu livro.

"Os campos duraram exatamente um ano, feitos em março de 1932 e desfeitos entre março e abril de 1933 porque começou a chover, então o governo distribuiu passagens e sementes para os concentrados retornarem aos seus lugares de origem. Nas concentrações de Fortaleza (nos bairros Otávio Bonfim e Arraial Moura Brasil), os campos deram origem ao surgimento de favelas, como é o caso do Pirambu".

"Havia muita rotatividade nos campos de concentrações, quando estavam muito cheios as pessoas eram encaminhadas para outros. Somente no Crato, chegou a passar durante o ano 65 mil pessoas", complementa a professora.

TOMBAMENTO


No último dia 17 de abril, com o objetivo de proteger o patrimônio histórico-cultural de Senador Pompeu, cidade distante 273 quilômetros de Fortaleza, o Ministério Público do Estado do Ceará (MP/CE) firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura do município para promover o tombamento de diversos pontos históricos da região.

Na lista de locais citados no acordo estão o sítio arquitetônico da “barragem do Patu”, a “Vila dos Ingleses”, o “cemitério” e o “campo de concentração do Patu”, além do registro do bem imaterial da “Caminhada das Almas”.

Cemitério do campo de concentração em Senador Pompeu 

No último dia 17 de abril, com o objetivo de proteger o patrimônio histórico-cultural de Senador Pompeu, cidade distante 273 quilômetros de Fortaleza, o Ministério Público do Estado do Ceará (MP/CE) firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura do município para promover o tombamento de diversos pontos históricos da região.

Na lista de locais citados no acordo estão o sítio arquitetônico da “barragem do Patu”, a “Vila dos Ingleses”, o “cemitério” e o “campo de concentração do Patu”, além do registro do bem imaterial da “Caminhada das Almas”.

A "Caminhada das Almas", em Senador Pompeu, leva milhares de pessoas todos os anos em peregrinação para homenagear os mortos do campo de concentração

Segundo o promotor de Justiça do Juizado Especial de Senador Pompeu, Geraldo Nunes Laprovitera Teixeira, um inquérito civil público e um relatório técnico foram realizados pelo MP/CE e concluíram que o tombamento do campo de concentração é benefício para a defesa da cultura e história cearense por apresentar “inegável valor histórico-cultural”. O município assinou o TAC e, em caso de descumprimento, será aplicada multa de R$ 5 mil por mês.

Fátima Garcia explica que Senador Pompeu teve uma estrutura que resistiu ao tempo porque utilizou uma área construída pelos ingleses. "Havia um casarão construído no final dos anos 1910, conhecida por Vila dos Ingleses. Os estrangeiros estiveram na região para construção de uma barragem, do Açude Patu, que não chegou a ser concluída por falta de verbas. O casarão servia de residência aos estrangeiros e foi encampado pelo governo".



Fontes: http://plus.diariodonordeste.com.br
             http://valdecyalves.blogspot.com
             http://www.museudeimagens.com.br


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