Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Trading in The Zone: Audiobook Completo em Português – Mark Douglas – Capítulo 3


Introdução

O mundo do Mercado financeiro está repleto de desafios e oportunidades. Porém, para realmente se destacar e ser bem-sucedido como trader, não basta apenas dominar técnicas e estratégias. O aspecto mental é tão crucial quanto qualquer ferramenta técnica que você possa utilizar. Mark Douglas, em seu renomado livro “Trading in The Zone”, aborda justamente a importância da mentalidade correta ao operar no mercado. E neste artigo, vamos mergulhar no capítulo 3 deste incrível audiobook, agora disponível em português.


Trading in The Zone – Capítulo 3

Assumir responsabilidade

Embora as palavras assumir responsabilidade pareçam simples, o conceito não é fácil de entender nem fácil de pôr em prática num ambiente de trading. Todos somos confrontados com a necessidade de assumir responsabilidade tantas vezes nas nossas vidas que é fácil darmos como certo saber o seu significado.

Assumir a responsabilidade no trading e aprender os princípios de sucesso estão intimamente relacionados. Tem de compreender muito bem as formas como é e como não é responsável pelo seu sucesso enquanto trader. Só então pode assumir as características que lhe permitirão aderir ao grupo restricto dos Traders que são consistente- mente bem sucedidos nos mercados.

No final do capítulo 1, introduzi a ideia de se projetar a si próprio no futuro. Por outras palavras, o trader consistentemente bem sucedido em que se quer transformar ainda não existe. Tem de criar uma nova versão de si mesmo, tal como um escultor cria a imagem de um modelo.

Moldar o ambiente mental

As ferramentas necessárias para criar esta nova versão de si mesmo são a disponibilidade e o desejo de aprender, alimentados pelo entusiasmo do sucesso. Se a disponibilidade e o desejo de aprender são as suas ferramentas fundamentais, então qual é o seu veículo? Um artista que cria uma escultura pode escolher trabalhar com diversos materiais, por exemplo, argila, mármore ou metal. Um trader, se quiser criar uma nova versão da sua personalidade para ser bem-sucedido, só tem à disposição as suas convicções e as suas atitudes. O veiculo para o seu esforço artístico será o seu ambiente mental onde, com o desejo de a prender , pode reestruturar e implantar as convicções e as atitudes que são necessárias para alcançar o seu objetivo final.

Parto do princípio que o seu objetivo final é ganhar dinheiro de forma sustentada. A maioria dos traders não concretiza por completo o potencial das oportunidades que o mercado lhes oferece. Para tirar partido desse potencial e o concretizar, o seu objetivo principal tem que ser aprender a pensar como um trader de sucesso.

Recorde que os melhores traders adquiriram uma estrutura mental que lhes permite fazer trading sem medo e, ao mesmo tempo, os impede de se precipitarem e de cometerem erros com base no medo. Esta atitude mental tem um conjunto de componentes, mas o principal é que os traders de sucesso praticamente eliminaram os efeitos do medo e da impulsividade dos seus trades. Estas duas características fundamentais permitem-lhes alcançar resultados sustentados.

Quando adquirir esta atitude mental, também conseguirá estar no trading sem medo. Deixará de estar à mercê dos erros motivados pelo medo que resulta de uma atitude de encontrar desculpas, distorcer informações inconscientemente, hesitar, agir precipitadamente ou ter esperança. Quando os seus medos tiverem desaparecido, simplesmente deixará de haver razões para cometer erros destes e, consequentemente, praticamente desaparecerão dos seus trades.

No entanto, eliminar o medo é só uma parte da equação. A outra parte é a necessidade de desenvolver a prudência. Os muito bons traders aprenderam que é essencial ter disciplina interna ou um mecanismo mental para compensar os efeitos negativos da euforia ou do excesso de confiança que advêm de uma sequência de trades ganhadores. Para um trader, ganhar é extremamente perigoso se não tiver aprendido a controlar-se a si mesmo.

Se partirmos do princípio que para criar consistência os traders têm de concentrar os seus esforços em desenvolver uma atitude mental de trader, então é fácil perceber por que razão tantos traders não são bem-sucedidos. Em vez de aprenderem a pensar como traders, pensam como podem ganhar mais dinheiro aprendendo mais sobre os mercados. É quase impossível não cair nesta armadilha. Há diversos fatores psicológicos que levam a deduzir que é o pouco conhecimento dos mercados a causa das perdas e da falta de resultados sustentados.

No entanto, isto não é assim. A consistência que procuramos está na nossa mente, não nos mercados. São as atitudes e as convicções sobre estar errado, perder dinheiro e a tendência para nos tornarmos eufóricos quando as coisas correm bem que causam a maioria das perdas, não os conhecimentos técnicos ou de mercado.

Por exemplo, se pudesse escolher um dos dois traders seguintes para gerir o seu dinheiro, qual deles escolheria? O primeiro utiliza uma técnica de trading simples, eventualmente medíocre, mas possui uma atitude mental que não distorce inconscientemente as informações do mercado, não hesita, não arranja desculpas, não vive de esperança, nem age de forma precipitada. O segundo trader é um analista fenomenal, embora sujeito aos medos típicos que o tornam vulnerável a todos os males psicológicos de que o outro trader já está livre. A escolha certa devia ser óbvia. O primeiro trader irá obter muito melhores resultados com o seu dinheiro.

A atitude produz melhores resultados do que a análise ou a técnica. É claro que a situação ideal é ter ambas, mas na realidade não precisamos de ambas, porque com a atitude correta – a atitude mental correta – tudo o resto será relativamente fácil, simples e, certamente, muito mais divertido. Sei que para algumas pessoas é difícil aceitar isto e pode mesmo ser angustiante, especialmente se há anos que se esforçam para aprender o máximo que podem sobre o mercado.

É interessante verificar que a maioria dos traders se encontra mais próxima desta forma de pensar quando exercem trading no início das suas carreiras do que mais tarde. Muitas pessoas começam a fazer trading com uma ideia muito irrealista acerca dos perigos envolvidos. Isto é particularmente verdade se o nosso primeiro trade corre bem. Então vamos para o segundo trade com pouco ou nenhum medo. E se esse trade for também ganhador, vamos para o trade seguinte ainda com menos preocupação. Cada ganho subsequente convence-nos que não há nada a temer e que o trading é a forma mais fácil de ganhar dinheiro no mundo.

Esta falta de medo traduz-se num estado despreocupado, semelhante ao que muitos grandes desportistas conhecem. Se já teve oportunidade de experimentar este estado nalgum desporto, então sabe que é um estado mental em que não sente medo e em que o corpo e a mente estão em perfeita sintonia agindo e reagindo de forma instintiva. Não se ponderam alternativas, nem se temem consequências, falhanços ou críticas. Está-se no momento a fazer seja o que for; exatamente o que precisa ser feito.

A maioria dos atletas nunca atinge este nível de desempenho, porque nunca ultrapassam completamente o medo do erro. Os atletas que chegam a um ponto de ausência total de medo do fracasso irão entrar normal e espontaneamente num estado mental que é estruturalmente criativo e do qual saem se, por algum motivo, pensam racional ou conscientemente sobre as suas ações.

Muito embora não nos possamos obrigar ou decidir entrar nessa zona mental, podemos definir o tipo de condições mentais que são mais conducentes a experimentá-la, desenvolvendo uma atitude ganhadora. Defino uma atitude ganhadora como esperarmos um resultado positivo pelos nossos esforços, com a aceitação de que os resultados que obtemos, sejam eles quais forem, são um reflexo perfeito do nível do nosso desenvolvimento e do que aprendemos melhor.

É isto que os grandes atletas têm: uma atitude ganhadora que lhes permite ultrapassar facilmente os erros e seguir em frente, em vez de ficarem paralisados numa autocrítica negativa, desmotivados e frustrados. Não há muitas pessoas que cheguem a desenvolver uma atitude ganhadora. A anomalia curiosa do trading é que se começarmos com um trade ganhador, iremos automaticamente experimentar o tipo de atitude mental que é um subproduto de uma atitude ganhadora, sem termos desenvolvido a própria atitude em si. Sei que isto pode parecer um pouco confuso, mas tem algumas implicações profundas.

Se uns quantos trades ganhadores podem fazer com que entremos no tipo de estado mental despreocupado que é uma componente essencial para o sucesso, mas não está baseado nas atitudes adequadas, então o que temos é um mal-entendido sobre a natureza do trading que resulta inevitavelmente numa catástrofe tanto emocional como financeira.

Realizar alguns (ou mais) trades ganhadores não significa que nos tornámos traders, embora seja esse o nosso sentimento, porque entramos num estado mental que só as pessoas mais completas experimentam de forma regular. O facto é que achamos que não precisamos da mais pequena perícia para abrir uma posição ganhadora e se é possível abrir uma posição ganhadora sem a mais pequena perícia, é certamente possível realizar outro e outro trade ganhador.

Quando nos sentimos confiantes e livres de medos e de preocupações, não é difícil conseguir uma sequência de trades ganhadores porque é fácil entrar num fluxo, uma espécie de ritmo natural, em que aquilo que precisamos de fazer parece óbvio ou evidente. É quase como se o mercado nos gritasse quando devemos comprar ou vender, sem ser precisa muita sofisticação analítica. E, é claro, como não temos medo, podemos executar os nossos trades sem qualquer discussão ou conflito interno.

O que quero dizer é que vencer é sobretudo uma questão de atitude. Muitas pessoas certamente sabem isto, mas ao mesmo tempo, a maioria das pessoas não compreende o papel significativo que a atitude tem nos seus resultados. Na maioria dos desportos, os participantes têm de desenvolver capacidades físicas bem como capacidades mentais sob a forma de estratégias. Se os adversários não tiverem as mesmas capacidades, aquele que for melhor normalmente vence (embora nem sempre). Quando um adversário inferior vence um adversário superior, qual é o fator determinante? Quando dois adversários estão ao mesmo nível, qual é o fator que faz a balança pender mais para um lado do que para o outro? Em ambos os casos, a resposta é: atitude.

O que torna o trading tão fascinante e, ao mesmo tempo, tão difícil de aprender é que na realidade não precisamos de muitos conhecimentos; só precisamos de uma atitude ganhadora genuína. Experimentar uns quantos trades ganhadores pode fazer-nos sentir vencedores e é essa sensação que sustém a tendência ganhadora. É por isto que é possível um trader principiante obter uma sequência de trades ganhadores, quando muitos dos melhores analistas de mercado dariam tudo por uma sequência ganhadora deles. Os analistas têm os conhecimentos, mas não têm a atitude ganhadora. Operam com base no medo. O trader principiante experimenta a sensação de uma atitude ganhadora porque não tem medo. Mas tal não significa que tenha uma atitude ganhadora; só significa que ainda não experimentou qualquer dor emocional ou financeira em resultado das suas atividades de trading que o faça ter medo.

Reagir à perda

O nosso trader principiante irá acabar por experimentar uma perda e um erro, mais cedo ou mais tarde, independentemente do quão motivado ele se sinta. Perder e errar são realidades inevitáveis do trading. Uma atitude positiva conjugada com as melhores capacidades analíticas, não podem evitar a experiência de uma perda. Os mercados são demasiado erráticos e há demasiadas variáveis a ter em conta para que todos os traders estejam sempre certos.

O que acontece quando o trader principiante finalmente perde? Que efeito terá no seu estado mental despreocupado? As respostas irão depender das suas expectativas ao entrar no trade e do modo como ele interpreta a experiência. E o modo como ele interpreta a experiência está relacionado com as suas convicções e atitudes.

E se ele estiver a operar convicto de que não é possível evitar uma perda, porque perder é uma consequência natural do trading – como, por exemplo, o dono de um restaurante ter de comprar comida? Além disso, suponhamos que ele aceitou completamente o risco financeiro ou emocional, significando que considerou e justificou tudo o que noutras circunstâncias seriam possibilidades inaceitáveis no comportamento do mercado. Com estas convicções e expectativas, não é provável que ele experimente uma deterioração da sua atitude e avançará simplesmente para o trade seguinte. A propósito, isto é um exemplo de um conjunto ideal de convicções e atitudes de trading.

Agora suponhamos que ele não aceita o risco. E se não esperasse do mercado um comportamento diferente daquele que queria? Da sua perspetiva, se o mercado não fizer o que ele quer, então sentirá dor emocional. As expectativas são as nossas representações mentais do modo como iremos olhar, ouvir, sentir, cheirar ou sentir algum momento futuro. Dependendo de quanta energia está por detrás da expectativa, pode doer muito ou pouco não satisfazê-la.

Das duas perspetivas anteriores, qual será mais provável ser assumida pelo nosso trader principiante? A última, é claro. Só os melhores traders adquiriram a perspetiva descrita no primeiro cenário. E, tal como indiquei no capítulo 1, a menos que sejam educados em famílias de trading bem sucedidas ou tenham super traders como mentores (que lhes incutiram atitudes adequadas sobre risco e perda desde o início das suas carreiras), praticamente todos eles tiveram a experiência comum de perder dinheiro antes de terem percebido como precisavam de pensar para serem consistentemente bem sucedidos.

É esta mudança de atitude que contribui para o sucesso e não uma compreensão brilhante do mercado, como a maioria dos traders erroneamente pensa. Este pressuposto errado prevalece entre a generalidade dos traders porque muito poucos realmente compreendem, no seu nível mais profundo, como esta atitude é crítica na determinação do sucesso.

Após uma perda, o nosso trader principiante entrará num estado de dor emocional. Em resultado disso, perderá o estado mental despreocupado mas, mais importante, irá sentir que o mercado o fez sofrer e lhe retirou o sentimento de vencedor ao tê-lo sujeitando a uma perda.

O nosso trader atribuirá aos mercados a responsabilidade pela sua perda ou por aquilo que não obteve. Repare também como é natural sentirmo-nos como ele se sente. Pense quantas vezes nas nossas vidas, especialmente em crianças, estávamos a fazer alguma coisa de que realmente gostávamos, como brincar com um brinquedo ou com os nossos amigos e alguém com mais poder e autoridade nos obrigou a parar e a fazer algo que não queríamos. Todos nós já perdemos alguma coisa, já nos foi retirado algo que queríamos, já nos foram negadas coisas que queríamos ou acreditávamos merecer, já fomos impedidos de continuar uma atividade em que estávamos a meio ou já fomos interrompidos numa ideia com a qual estávamos entusiasmados.

A questão é que em muitas destas situações, não tivemos que assumir uma responsabilidade pessoal por aquilo que nos aconteceu ou pelo desgosto que sentimos, porque éramos impotentes para reagir. Não escolhemos ser obrigados a sair de um estado de alegria e felicidade para um estado de dor emocional. A decisão estava fora das nossas mãos, era contra a nossa vontade e provavelmente foi tomada de forma abrupta. Muito embora nos possam ter dito que éramos responsáveis por isso, provavelmente não acreditámos nem compreendemos o que isso significava.

O que é um facto indiscutível, é que estávamos a divertir-nos e alguém ou algo nos afastou desse divertimento e nos causou desgosto. Não foi nossa escolha. A causa da nossa mágoa chegou do exterior; por conseguinte, seja qual for a força que tenha agido sobre nós naquele momento foi mais poderosa e incontrolável. Aprendemos não só que sentir-nos bem pode ser instantaneamente substituído por sentirmo-nos mal sem que se deva a um erro nosso; também aprendemos o que é traição. Sentimo-nos traídos porque muitas dessas situações foram completamente inesperadas ou imprevistas significando que não estávamos preparados para o modo como algumas pessoas das nossas vidas se podiam comportar. Se o seu comportamento nos fez transitar bruscamente para um estado de dor emocional, então muito naturalmente sentimo-nos traídos.

Como nota, sinto que é importante dizer que muitas das nossas experiências passadas emocionalmente dolorosas resultaram da ação de pais, professores e amigos bem intencionados, muitos dos quais só estavam a fazer o que acreditavam, na altura, ser o melhor para nós. O melhor exemplo é uma criança a brincar com um brinquedo perigoso. Se lhe tirarmos o brinquedo, a criança irá gritar para exprimir a dor emocional que sente e, se estivermos a lidar com uma criança muito nova ou imatura, é muito provável que ela não oiça nada do que digamos sobre as razões por que não pode brincar com aquele brinquedo.

Mas, ao mesmo tempo, muitas pessoas têm pais imaturos e irracionais ou encontram professores emocionalmente perturbados que, de forma inconsciente ou intencional, infligem os seus problemas pessoais sobre quem sintam que têm mais poder. O que é ainda pior é que muitas das pessoas que têm essas tendências também são suficientemente maldosas para o fazer de um modo que leva as suas vítimas a acreditarem que foram elas que lhes causaram a sua própria raiva. Em qualquer caso, se as nossas experiências dolorosas são o resultado de um ato de amor ou de um ato intencional, é cada um de nós que tem de o determinar.

O ponto principal é que quando entramos em modo de trading na idade adulta, não temos consciência de como é natural associar a mudança instantânea da alegria para a tristeza que experimentámos em crianças com aquela que experimentamos quando negociamos no mercado. A consequência disso é que se não tivermos aprendido a aceitar os riscos inerentes ao trading e se não nos soubermos prevenir desta associação natural com o passado, acabamos por culpar o mercado pelos nossos resultados em vez de assumirmos a responsabilidade por eles.

Embora a maioria das pessoas que fazem trading se considerem a si próprias adultos responsáveis, só os melhores traders terão alcançado o ponto em que aceitam a responsabilidade pelos resultados dos seus trades. Todos os outros, numa medida ou noutra, consideram que estão a assumir responsabilidade, quando na realidade querem que o mercado o faça por eles. A generalidade dos traders quer que o mercado satisfaça as suas expectativas, as suas esperanças, os seus sonhos.

A sociedade pode funcionar desta forma mas os mercados não. Na sociedade, podemos esperar que as pessoas se comportem de forma razoável e responsável. Quando não o fazem e se sofremos por isso, a sociedade disponibiliza soluções para retificar o desequilíbrio e, normalmente, regressamos ao nosso estado de expectativa inicial. O mercado, por seu lado, não assume qualquer responsabilidade em nos retribuir algo. Pode não ser esta a forma como os mercados são divulgados, mas a verdade é que todos os traders que participam nos mercados fazem-no para seu próprio benefício. A única forma de um trader ganhar dinheiro é se algum outro trader o perder, seja no imediato, num trade de futuros ou numa oportunidade perdida.

Quando realizamos um trade, antecipamos que vamos ganhar dinheiro. Todos os outros traders no mundo que realizam um trade fazem-no pela mesma razão. Quando olhamos para a nossa relação com o mercado deste ponto de vista, podemos dizer que o nosso objetivo é extrair dinheiro dos mercados mas, da mesma forma e em simultâneo, o único objetivo do mercado é extrair-nos dinheiro.

Se o mercado é constituído por um grupo de pessoas a interagir para extraírem dinheiro umas das outras, então qual é a responsabilidade do mercado em relação ao trader individual? Não tem responsabilidade nenhuma, a não ser seguir as regras estabelecidas pelos reguladores para a atividade. A questão é: se já culpou o mercado ou se sentiu traído por ele, então não deu a devida importância às consequências do que significa jogar um jogo de soma nula. Qualquer culpa que dirija ao mercado significa que não aceitou a realidade de que o mercado não lhe deve nada, independentemente daquilo que quer ou pensa ou de quanto empenho coloca no seu trading.

No mercado, os valores sociais tradicionais de intercâmbio não entram. Se não compreende isso e se não descobrir um modo de conciliar as diferenças entre as normas sociais com que cresceu e a forma como o mercado funciona, irá continuar a projetar no mercado as suas esperanças, sonhos e desejos, acreditando que ele irá fazer algo por si. Quando não o faz, sente-se zangado, frustrado, emocionalmente perturbado e traído.

Assumir responsabilidade significa reconhecer e aceitar, na parte mais profunda do seu ser, que você – não o mercado – é completamente responsável pelo seu sucesso ou fracasso como trader. É certo que o objetivo do mercado é separá-lo do seu dinheiro; mas ao longo desse processo, também lhe proporciona um fluxo interminável de oportunidades que lhe permitem tirar dinheiro dele. Quando os preços se movimentam, esse movimento representa as ações coletivas de todos os que nele participam naquele momento. O mercado também gera sinais sobre si mesmo e torna extremamente fácil entrar e sair de trades (dependendo, é claro, do número de pessoas que participam).

Deixe-me colocar uma questão. Sente-se responsável por satisfazer as expectativas, esperanças, sonhos e desejos de outro trader? Claro que não. Até a pergunta parece absurda. No entanto, se alguma vez der por si a culpar o mercado e a sentir-se traído, é isso essencialmente que está a fazer. Está à espera que as ações coletivas de todos os que participam no mercado façam com que este aja de forma a dar-lhe aquilo que quer. Temos que aprender como obter aquilo que queremos dos mercados. O primeiro grande passo neste processo de aprendizagem é assumir uma responsabilidade completa e absoluta.

Assumir uma responsabilidade completa e absoluta significa acreditar que todos os resultados se geram a si mesmos; que os resultados se baseiam nas interpretações que fazemos das informações do mercado, nas decisões e ações que tomamos. Assumir algo que não seja uma responsabilidade completa e absoluta gera dois grandes obstáculos psicológicos que irão bloquear o sucesso. Primeiro, estabelece uma relação antagónica com o mercado que exclui o trader do fluxo de oportunidades. Segundo, induz o erro de acreditar que os problemas de trading e a falta de sucesso podem ser retificados através de uma análise de mercado.

Consideremos o primeiro obstáculo. Quando atribuímos ao mercado a responsabilidade por nos deixar ganhar dinheiro ou reduzir perdas, o mercado assume facilmente a qualidade de um adversário ou inimigo. Perder (quando esperamos que o mercado nos deixe ganhar) faz com que tenhamos o mesmo tipo de sentimentos infantis de dor, raiva, ressentimento e impotência que sentimos quando na infância alguém nos tirava alguma coisa, não nos dava ou não nos deixava fazer o que queríamos.

Ninguém gosta de ser contrariado, especialmente se acreditamos que ter o que queremos nos fará mais felizes. Em cada uma destas situações, algo ou alguém exterior não nos deixa concretizar a nossa vontade. Por outras palavras, alguma força externa age contra a força interna dos nossos desejos e expectativas.

Em resultado disso, achamos natural atribuir ao mercado o poder de uma força externa que dá ou tira. Mas ponderemos no facto de o mercado apresentar a sua informação de forma neutra. Isto significa que o mercado não sabe o que nós queremos ou esperamos dele e nem se interessa por tal, a menos, é claro, que façamos uma transação que tenha um impacto imediato no preço. Cada momento, cada proposta, cada oferta dá-nos a oportunidade de agir de determinada maneira. Podemos abrir uma posição e ganhar ou sair a perder. Isto significa que temos de ser rápidos, focados na informação disponível e exercer o trade em conformidade.

Para o mercado, cada momento é neutro; para o trader, cada momento e alteração de preço tem um significado. Mas onde residem esses significados? Os significados manifestam-se através do que aprendemos e estão registados na nossa mente, não no mercado. O mercado não anexa interpretações à informação que gera sobre si próprio (embora haja pessoas que as ofereçam a quem estiver disposto a ouvir). Além disso, o mercado não sabe como definimos um sinal de entrada ou de saída. O mercado não sabe se o vemos como um fluxo interminável de oportunidades para entrar e sair de trades, com ganhos e perdas, ou se como um monstro ganancioso e com vontade de devorar o nosso dinheiro.

Se para si o mercado é um fluxo interminável de oportunidades para entrar e sair sem crítica ou angústia, então estará no melhor estado mental para agir a seu favor e aprender com as suas experiências. Se, por outro lado, o que vê nos sinais de mercado é angústia, então tentará naturalmente evitá-lo bloqueando de forma consciente ou subconsciente essas informações. No processo do bloqueio, irá sistematicamente excluir-se a si mesmo de quaisquer oportunidades; isto é, do fluxo de oportunidades.

Além disso, irá achar que o mercado está a agir contra si, mas apenas no caso de esperar dele alguma coisa ou acreditar que lhe deve algo. Se alguém ou alguma coisa está contra si e lhe causa dor, qual é a sua reação? Sente-se compelido a lutar, mas está a lutar exatamente contra quê? O mercado certamente não está a lutar contra si. Sim, o mercado quer o seu dinheiro, mas também lhe dá a oportunidade de o ir buscar. Embora possa parecer que está a lutar contra o mercado ou que o mercado está a lutar contra si, a realidade é que está a lutar contra as consequências negativas de não aceitar totalmente que o mercado não lhe deve nada e que precisa de aproveitar sozinho as oportunidades que ele lhe apresenta; 100 por cento sozinho, nem um ponto menos.

A forma de obter o máximo proveito de uma situação em que lhe oferecem oportunidades ilimitadas de ganhar é entrar no fluxo. O mercado tem mesmo um fluxo. Frequentemente é errático, especialmente nos intervalos de tempo mais curtos, mas exibe padrões simétricos que se repetem. Obviamente que é uma contradição entrar num fluxo com o qual está contra. Se quer perceber o fluxo do mercado, a sua mente tem de estar relativamente livre de sentimentos de medo, raiva, pesar, traição, desespero e desilusão. Deixará de sentir estas emoções negativas quando assumir uma responsabilidade completa e absoluta.

Anteriormente referi que quando não assumimos responsabilidades, um dos principais obstáculos psicológicos que podem bloquear o nosso sucesso é erradamente tendermos a acreditar que os nossos problemas de trading e falta de consistência podem ser resolvidos através da análise de mercado. Para ilustrar este ponto, regressemos ao nosso trader principiante que partiu de um estado mental de despreocupação até ter vivido a sua primeira perda.

Após ganhar dinheiro tão facilmente e sem esforço, a mudança abrupta para a experiência da dor emocional pode ser chocante, mas não suficientemente chocante para desistir de fazer trading. Além disso, na sua mente, não teve qualquer culpa da situação; foi o mercado que a causou. Em vez de desistir, como tem ainda fresca na sua mente a sensação de sucesso a inspirá-lo, irá continuar a exercer trading com um grande sentido de determinação.

Mas agora ele vai ter uma atitude mais esperta. Vai fazer algum esforço e aprender tudo o que pode sobre os mercados. É perfeitamente lógico pensar que se conseguiu ganhar não sabendo nada, conseguirá ganhos maiores quando souber alguma coisa. Mas há aqui um grande problema do qual muito poucos traders têm consciência, até muito depois de os estragos estarem feitos. Aprender sobre mercados é bom e não causa em si nenhum problema. O que se pode revelar ruinoso em última análise, é a razão por que se quer aprender sobre o mercado.

Como disse há pouco, a alternância súbita da alegria para a tristeza cria normalmente um choque psicológico fortíssimo. Muito poucas pessoas aprendem a conciliar estas experiências de forma saudável. Há técnicas disponíveis, mas não são amplamente conhecidas. A reação típica da maioria das pessoas, especialmente do tipo de pessoa atraída pelo trading, é a vingança. No pensamento típico de um trader, a única forma de conseguir essa vingança é conquistar o mercado e a única forma de conquistar o mercado é através do seu conhecimento. Por outras palavras, a razão subjacente por que o trader principiante quer aprender mais sobre o mercado é para o dominar, para provar alguma coisa ao mercado e a si mesmo e, mais importante, para evitar que o mercado o volte a magoar. Ele não está a aprender a conhecer o mercado simplesmente como um meio para ganhar consistentemente, mas sim como uma forma de evitar magoar-se no futuro ou provar algo que não tem absolutamente nada a ver com olhar para o mercado de uma perspetiva objetiva. O nosso trader não percebe, mas quando parte do princípio que saber mais sobre o mercado o vai impedir de sofrer ou ajudar a satisfazer o seu desejo de vingança, ele definiu o seu destino de perdedor.

Efetivamente, o que ele fez é o resultado de um dilema inconciliável. Está a aprender a reconhecer e a compreender os padrões coletivos de comportamento e isso é bom. Até sabe bem. Está motivado porque considera que está a aprender sobre o mercado para se tornar um ganhador. Em resultado, procura aprofundar os seus conhecimentos e aprender o máximo sobre linhas de tendência, padrões gráficos, suportes e resistências, candlesticks, perfis de mercado, gráficos de preços e volumes, ondas de Elliot, rácio de Fibonacci, osciladores, RSI estocástico e muitas outras ferramentas técnicas. Curiosamente, muito embora os seus conhecimentos tenham aumentado, ele agora descobre novos problemas ao executar os seus trades: hesita, critica-se, não abre uma posição apesar do sem-número de sinais claros para o fazer. Tudo é frustrante, mesmo irritante, porque o que acontece não faz sentido. Ele faz o que deve fazer – o que aprendeu – e descobre que quanto mais aprende, menos capacidades tem. Não pensará ter feito mal aprender mais; simplesmente, fê-lo pelas razões erradas.

Não vai conseguir negociar eficazmente se estiver a tentar provar tudo e mais alguma coisa. Se qualquer um de nós tiver que ganhar, se tiver que acertar, se não puder perder ou errar, irá sentir-se pressionado e interpretar os sinais do mercado como angustiantes. Por outras palavras, iremos achar que esses sinais são capazes de nos provocar dor emocional se for em contrários ao que pretendemos.

O dilema é que as nossas mentes estão programadas para evitar a dor física e a dor emocional e aprender sobre os mercados não vai compensar os efeitos negativos que os nossos mecanismos de proteção para evitar a dor emocional exercem sobre o trading. Todos percebem a natureza do gesto de evitar a dor física. Se puser acidentalmente a mão no lume, a sua mão afasta-se automaticamente do calor: trata-se de uma reação instintiva. No entanto, quando se trata de evitar dor emocional e as consequências negativas que esta cria, especialmente para os traders, muito poucas pessoas compreendem a dinâmica. É essencial para o seu desenvolvimento que compreenda estes efeitos negativos e aprenda a dominar conscientemente como cumprir os seus objetivos.

As nossas mentes têm diversas formas de nos proteger das informações que aprendemos a identificar como causadoras de dor emocional. Por exemplo, a um nível consciente, podemos arranjar desculpas, justificar ou apresentar argumentos para manter uma posição perdedora. Algumas das formas mais típicas de o fazer é telefonar a colegas de trading, ao nosso corretor ou olhar para indicadores que nunca usamos, tudo com o único objetivo de reunir informação que negue a validade da informação indesejada. A um nível subconsciente, as nossas mentes irão automaticamente alterar, distorcer ou excluir especificamente informações do nosso consciente. Por outras palavras, não nos apercebemos, a um nível consciente, que os nossos mecanismos de proteção contra a dor emocional estão a excluir ou a alterar as informações do mercado.

Imagine que tem uma posição aberta e que regista perdas num momento em que o mercado está a fazer o máximo dos máximos ou o máximo dos mínimos ou o mínimo dos máximos ou o mínimo dos mínimos contra a sua posição e que se recusa reconhecer que está num trade perdedor porque centra toda a sua atenção nos tiques a seu favor. Em média, só um de quatro tiques vai em direção à sua posição; mas não lhe atribui importância porque em cada ocorrência convence-se de que o mercado inverteu a tendência a seu favor. Mas em vez disso, o mercado continua contra si. Nalgum ponto, a perda de dinheiro torna-se tão evidente que não a pode mais ignorar e sai finalmente do trade.

Normalmente, a primeira reação dos traders quando analisam um exemplo destes, é: “porque é que eu não assumi a minha perda e saí?”. Era fácil reconhecer a oportunidade para abrir uma posição na direção oposta quando não estava nada em jogo. Mas nós não conseguimos ver esta oportunidade quando estamos envolvidos no trade, porque naquela altura a informação que o indicava foi definida como negativa, pelo que a bloqueámos e não deixamos que a nossa consciência se apercebesse dela.

Quando o nosso trader hipotético começou a exercer trading pela primeira vez, estava a divertir-se, estava num estado de espírito despreocupado, não tinha agendas pessoais nem nada a provar. Enquanto estava a ganhar, realizava os seus trades de uma perspetiva de “vamos ver o que acontece”. Quanto mais ganhava, menos considerava a possibilidade de alguma vez perder.

Quando finalmente aconteceu perder, deu por si num estado de espírito com que não contava. Em vez de assumir que a causa da sua angústia foi a expectativa errada sobre o que o mercado deveria fazer ou não, ele culpou o mercado e decidiu que adquirindo mais conhecimentos poderia evitar que tais experiências se repetissem. Por outras palavras, fez uma mudança drástica no seu ponto de vista, passando de um estado de despreocupação para um estado de prevenção procurando evitar dor emocional e, por conseguinte, perdas.

O problema é que não se pode prevenir a dor emocional evitando perdas. O mercado gera padrões de comportamento e os padrões repetem-se, mas não sempre. Por isso, novamente, não é possível evitar perder ou errar. O nosso trader não irá perceber estas realidades de trading, porque está a ser impulsionado por duas forças indutoras:

Quer recuperar desesperadamente a sensação de ganhar e está extremamente entusiasmado com todos os conhecimentos de mercado que está a adquirir.

O que não percebe é que, apesar do seu entusiasmo, quando ele transitou de um estado de espírito despreocupado para se focar em prevenir e evitar a dor emocional, ele mudou de uma atitude positiva para uma atitude negativa.

Deixou de estar concentrado em ganhar, mas sim em como evitar a dor emocional tentando impedir que o mercado agisse contra si. Este tipo de perspetiva negativa não é diferente da do jogador de ténis ou de golfe que está tão concentrado em não errar que quanto mais tenta mais comete erros.

No entanto, este modo de pensar é muito mais fácil de reconhecer no desporto porque há uma relação mais percetível entre o centro de atenção de uma pessoa e os seus resultados. Com o trading, a relação pode ser ténue e mais difícil de reconhecer, em resultado dos sentimentos positivos gerados com a descoberta de novas relações nos dados e comportamentos do mercado.

Como se sente bem, não há razões para suspeitar que algo esteja errado, mas à medida que o seu foco de atenção pende no sentido de evitar a dor emocional, também vai criar, precisamente na mesma proporção, as experiências que tenta evitar. Por outras palavras, quanto mais tem a ganhar e não a perder, menos tolerância terá para qualquer informação que possa indicar que não vai obter o que pretende. Quanto mais informação consegue bloquear, menos irá conseguir aperceber-se de uma oportunidade para agir na direção do que pretende.

Aprender mais sobre os mercados com o objetivo de evitar a dor emocional irá constituir um problema porque quanto mais aprende, mais irá esperar dos mercados, fazendo com que tudo se torne ainda mais difícil de suportar quando os mercados não fizerem o que ele espera. Criou, involuntariamente, um ciclo vicioso em que quanto mais aprende, mais debilitado se torna; quanto mais debilitado se torna, mais se sente obrigado a aprender. O ciclo irá continuar até ele desistir de exercer trading por aversão ou por reconhecer que a causa básica dos seus problemas de trading é o seu ponto de vista, não a sua falta de conhecimentos do mercado.

Ganhadores e perdedores. Subidas e correções

É preciso algum tempo para que a maioria dos traders desistam ou descubram a verdadeira origem do seu sucesso. Entretanto, alguns traders conseguem compreender o suficiente sobre o trading para entrar naquilo a que normalmente se chama o ciclo de subidas e correções. Contrariamente ao que algumas pessoas podem deduzir do exemplo do trader principiante, nem todos têm uma atitude estruturalmente negativa e estão, por conseguinte, destinados a perder dessa forma. Sim, é verdade que alguns traders perdem persistentemente, e com frequência, perdem tudo ou desistem do trading porque não conseguem tolerar mais dor emocional. No entanto, também há muitos traders que são estudantes afincados do mercado e têm uma atitude ganhadora suficiente para que quando entram no trading, apesar das muitas dificuldades, acabam por aprender como fazer dinheiro; ainda não aprenderam a contrariar os efeitos negativos da euforia ou a compensar a hipótese de autossabotagem. A euforia e a autossabotagem são duas forças psicológicas poderosas que terão um efeito extremamente negativo nos seus resultados. Mas não são forças com que tenha de se preocupar até começar a ganhar, ou começar a ganhar de forma consistente, e isso é um grande problema. Quando está a ganhar, é menor a probabilidade de se preocupar com alguma coisa que possa tornar-se um problema potencial e, muito menos, com algo que seja tão bom como a euforia. Uma das principais características da euforia é que cria uma sensação de confiança suprema em que a hipótese de alguma coisa correr mal é praticamente inconcebível. Inversamente, os erros que resultam de autossabotagem têm a sua raiz em conflitos que os traders desenvolvem sobre merecer o dinheiro ou merecer ganhar. É quando se ganha que ficamos mais suscetíveis de cometer um erro, executar um trade além das possibilidades, assumir uma posição grande demais, violar as próprias regras ou agir como se não fossem necessários limites ao nosso próprio comportamento. Podemos mesmo ir ao extremo de pensar que somos o mercado! No entanto, o mercado raramente concorda connosco e quando discorda, sairemos magoados. A perda e a dor emocional são normalmente significativas. Experimentamos um período de subida, seguido de uma inevitável correção. Se eu classificasse os traders com base no tipo de resultados que eles obtêm, dividi-los-ia em três amplas categorias. O grupo mais pequeno, provavelmente menos de 10 por cento dos traders ativos, é o dos ganhadores sustentados. Têm uma curva de resultados a crescer regularmente conhecendo perdas relativamente pequenas de tempos a tempos. As perdas que experimentam são o tipo de perdas normais em que qualquer metodologia ou sistema de trading incorre. Não só aprenderam a fazer dinheiro, como já não estão vulneráveis às forças psicológicas que causam os ciclos de subidas e correções. O grupo seguinte, que é composto por 30 a 40 por cento dos traders ativos, são perdedores persistentes. As suas curvas de resultados são imagens espelhadas das curvas dos ganhadores sustentados, mas na direção oposta – muitos trades perdedores com um ganhador ocasional. Independentemente de há quanto tempo exercem trading, há ainda algo que não aprenderam. Ou têm ilusões sobre a natureza do trading ou são viciados de tal forma que é quase impossível serem ganhadores.

O maior grupo, os restantes 40 a 50 por cento de traders ativos, são os que estão no ciclo de subidas e correções. Aprenderam a fazer dinheiro, mas não aprenderam que há um conjunto de aptidões de trading que têm de ser dominadas por forma a manterem consigo o dinheiro que fazem. Em resultado, as suas curvas de resultados parecem percursos de montanha-russa, com uma subida regular e simpática seguida de uma queda abrupta, depois outra subida seguida de outra queda abrupta. O ciclo da montanha russa continua sem parar. Trabalhei com muitos traders experientes que criaram sequências ganhadoras incríveis, por vezes passando meses sem que tivessem um único dia de perdas; ter quinze ou vinte trades ganhadores consecutivos não é incomum para eles. Mas para os que estão no ciclo de subida e correções, estas tendências terminam do mesmo modo – com enormes perdas em resultado da euforia ou da autossabotagem.

Se as perdas são o resultado da euforia, na realidade não interessa a forma como a tendência se formou – algumas vitórias consecutivas, uma curva de resultados com crescimento regular ou um único grande trade. Cada um parece ter um limiar diferente para quando o excesso de confiança ou euforia se apodera do processo de pensamento. No entanto, no momento em que a euforia se apodera, o trader já está com grandes problemas. Num estado de excesso de confiança ou euforia, não consegue sentir o risco porque a euforia faz acreditar que nada pode correr mal. Se nada pode correr mal, não há necessidade de regras ou limites que governem o comportamento. Assim, assumir uma posição maior do que o habitual não só é atraente, como é irresistível.

No entanto, logo que assume essa posição maior, coloca-se em perigo. Quanto maior for a posição, maior o impacto financeiro que pequenas flutuações no preço terão nos seus resultados. Combinar o impacto maior do que o normal de um tic na sua posição com uma convicção determinada de que o mercado irá fazer exatamente aquilo que espera, temos uma situação em que um tic na direção oposta o faz imediatamente entrar num estado gélido e paralizante. Quando finalmente fecha a posição, fica confuso, desiludido e com o sentimento de traição perguntando como uma coisa destas pode ter acontecido. De facto, foi traído, mas pelas suas próprias emoções. No entanto, se não conhecer ou não compreender a dinâmica básica que acabei de descrever, não terá outra escolha a não ser culpar o mercado. Se acreditar que o mercado lhe causou essa perda, então irá sentir-se compelido a aprender mais sobre o mercado de forma a proteger-se. Quanto mais aprender, mais confiante se irá naturalmente sentir em relação à sua capacidade de ganhar. À medida que a sua confiança cresce, é mais provável que em algum momento ultrapasse a euforia e comece o ciclo outra vez.

As perdas que resultam da autossabotagem podem ser igualmente nocivas, mas regra geral são de natureza mais subtil. Cometer erros como subscrever uma compra em vez de uma venda ou vice-versa ou deixar que a sua atenção se desvie na altura mais inoportuna são exemplos típicos de como os traders garantem maus dias para si próprios. Porque é que alguém não iria querer ganhar? Na realidade, não é uma questão de querer, porque todos os traders querem ganhar. Mas ganhar gera alguns conflitos. Às vezes estes conflitos são tão poderosos que descobrimos que o nosso comportamento está em conflito direto com aquilo que queremos. Estes conflitos podem resultar de uma educação religiosa, ética do trabalho ou certos tipos de traumas de infância. Se estes conflitos existirem, significa que o seu ambiente mental não está completamente alinhado com os seus objetivos. Por outras palavras, nem tudo em si defende o mesmo resultado. Assim, não consegue atribuir a si mesmo a capacidade de ganhar muito dinheiro através do trading, apenas porque o mercado o disponibiliza. Um broker de futuros de uma das maiores sociedades de corretagem dizia aos seus clientes quando os visitava que todos os traders de commodities são doentes terminais e era seu dever mantê-los felizes até eles desaparecerem. Ele disse isto na brincadeira, mas há muito de verdade nesta frase. Obviamente, se perdermos mais dinheiro do que ganhamos, não podemos sobreviver. O que é menos óbvio, e um dos mistérios do sucesso, é que se ganharmos, podemos tornar-nos igualmente doentes terminais; ou seja, se ganharmos e não aprendermos a criar um equilíbrio saudável entre confiança e prudência, ou não aprendermos a reconhecer e a compensar o nosso potencial para a autodestruição, mais cedo ou mais tarde, vamos perder.

Se está entre os que se movimentam no ciclo de subidas e correções, pense nisto: se pudesse refazer cada posição perdedora que foi resultado de um erro ou imprudência sua, quanto dinheiro teria agora? Com base nestes resultados recalculados, como seria agora sua curva de resultados? Tenho a certeza que muitos traders se colocariam na categoria de ganhadores sustentados. Agora pense como reagiu às suas perdas quando elas ocorreram. Assumiu total responsabilidade por elas? Tentou perceber como podia alterar a sua perspetiva, atitude ou comportamento? Ou olhou para o mercado e interrogou-se sobre o que devia aprender sobre ele para evitar a repetição dessa perda? É óbvio que o mercado não tem nada a ver com a sua imprudência, nem tem nada a ver com os erros que cometeu em resultado dos seus conflitos internos acerca de se merece ou não o dinheiro.

Provavelmente uma das ideias mais difíceis de assimilar pelos traders é o facto de o mercado não criar a sua atitude ou estado mental; simplesmente age como um espelho que reflete o que está dentro de si. Se estiver confiante, não é porque o mercado o faz sentir assim; é porque as suas convicções e atitudes estão ordenadas de uma forma que lhe permite avançar para um trade, assumir responsabilidade pelo resultado e extrair a informação disponibilizada. Mantém o seu estado mental confiante simplesmente porque está constantemente a aprender. Inversamente, se estiver irado e com medo, é porque, nalguma medida, acredita que o mercado cria os seus resultados e não o contrário.

Em última análise, a pior consequência de não assumir responsabilidade é entrar num ciclo de sofrimento e insatisfação. Pense nisto por um momento. Se não for responsável pelos seus resultados, pode considerar que não tem nada a aprender e pode ficar exatamente como está. Não irá crescer e não irá mudar. Em resultado disso, irá interpretar os acontecimentos exatamente do mesmo modo e, por conseguinte, reagir a eles da mesma forma e obter os mesmos resultados insatisfatórios.

Ou pode também considerar que a solução para os seus problemas é obter mais conhecimentos sobre o mercado. É sempre bom aprender, mas neste caso, se não assumir responsabilidade pelas suas atitudes, então está a aprender algo valioso pelas razões erradas, razões que irão fazer com que use aquilo que aprende de forma desadequada. Inconscientemente, irá usar os seus conhecimentos para evitar a responsabilidade de assumir riscos. Ao longo deste processo, acaba por criar precisamente o que está a tentar evitar, mantendo-se num ciclo de sofrimento e insatisfação.

No entanto, há um benefício tangível que ganha ao culpar o mercado por não ter obtido o que pretendia. Pode proteger-se temporariamente da sua própria autocrítica implacável. Digo temporariamente porque, quando transfere responsabilidade, exclui-se de tudo o que precisava de aprender com aquela experiência. Lembre-se da nossa definição de uma atitude ganhadora: uma expectativa positiva dos seus esforços, com uma aceitação de que os resultados que obtém, sejam eles quais forem, são um reflexo do seu nível de desenvolvimento e daquilo que precisa de aprender a fazer melhor. Se transferir a culpa com o objetivo de travar a dor que resulta de bater em si próprio, tudo o que fez foi colocar um penso adesivo infe- tado sobre a ferida. Pode pensar que resolveu o problema, mas o pro- blema vai ressurgir mais tarde, mais grave do que antes. Será assim simplesmente porque não aprendeu nada que o fizesse desenvolver as interpretações que resultam numa experiência mais satisfatória.

Já pensou porque é que fazer um negócio que se revela financeiramente menos vantajoso do que o esperado é frequentemente mais difícil do que assumir uma perda? Quando perdemos, há muitas maneiras de transferir a culpa para o mercado e de não aceitarmos a responsabilidade. Mas quando fazemos um negócio financeiramente menos vantajoso do que o esperado, não podemos culpar o mercado. O mercado não fez nada a não ser dar-nos exatamente aquilo que queríamos, mas por uma razão qualquer, não fomos capazes de aproveitar essa oportunidade. Por outras palavras, não há forma de arranjar uma explicação racional para a dor emocional.

Um trader não é responsável pelo que o mercado faz ou deixa de fazer, mas é responsável por tudo o resto que resulta das suas atividades de trading. É responsável por aquilo que aprende, bem como por tudo o que não aprendeu ainda e que está à espera de ser descoberto por si. O caminho mais eficaz para descobrir o que precisa para ter sucesso é desenvolver uma atitude ganhadora, um ponto de vista estruturalmente criativo. Não só uma atitude ganhadora o prepara para aquilo que precisa de aprender, como também produz o tipo de atitude mental que é mais conducente à descoberta do que ainda ninguém descobriu ou experimentou.

Certamente pode argumentar-se que alguns traders experimentam perdas porque não compreendem o suficiente sobre os mercados e, por conseguinte, optam pelas posições erradas. Por muito razoável que isto possa parecer, a experiência diz-me que os traders com atitudes perdedoras escolhem as posições erradas, independentemente do que sabem sobre os mercados. Em qualquer caso, o resultado é o mesmo: eles perdem. Por outro lado, os traders com atitudes ganhadoras que não sabem praticamente nada sobre os mercados podem entrar com posições ganhadoras; e se souberem muito sobre os mercados, podem ainda optar por mais posições ganhadoras.

Se quer passar de uma atitude receosa para uma atitude confiante perante os mercados, se quer mudar os seus resultados passando de uma curva errática para uma curva crescente, o primeiro passo é assumir a responsabilidade e parar de esperar que o mercado lhe dê ou faça alguma coisa por si. Se a partir deste momento decidir fazer tudo sozinho, o mercado já não será seu adversário. Se parar de lutar contra o mercado, o que na realidade significa que para de lutar contra si mesmo, ficará espantado com a rapidez com que consegue reconhecer exatamente o que precisa de aprender e a rapidez com que o fará. Assumir responsabilidade é o pilar de uma atitude ganhadora.

Desenvolver uma atitude ganhadora é a chave para o seu sucesso. O problema de muitos traders é que eles pensam que já a possuem, quando na verdade não a têm ou esperam que o mercado desenvolva a atitude por eles dando-lhes posições ganhadoras. O trader é responsável por desenvolver a sua própria atitude ganhadora. O mercado não o fará por si e, quero ser o mais enfático possível, nenhuma quantidade de análise de mercado irá substituir o desenvolvimento de uma atitude ganhadora se não a tiver. Compreender os mercados irá dar-lhe o que precisa para executar alguns trades ganhadores, mas isso não fará de si um ganhador consistente se não tiver uma atitude ganhadora.


Conclusão

O capítulo 3 do livro “Trading in the Zone” de Mark Douglas é uma profunda exploração da mentalidade necessária para se tornar um trader consistentemente bem-sucedido. Douglas argumenta que a maioria dos traders não alcança o sucesso não por falta de conhecimento técnico ou habilidades analíticas, mas sim por causa de crenças limitantes, emoções e atitudes inapropriadas em relação ao mercado e à negociação.

Os pontos chave deste capítulo incluem:

  1. A Natureza das Crenças: Douglas sublinha que as nossas crenças sobre o mercado, sobre nós mesmos e sobre o que é possível moldam a nossa experiência de negociação. Se não acreditarmos que podemos ser bem-sucedidos, nossas ações (ou falta delas) refletirão essa crença.
  2. Medo e Ganância: Estas são duas das emoções mais dominantes na negociação. Elas podem distorcer o nosso julgamento e nos levar a tomar decisões irracionais. Dominar essas emoções é fundamental para se tornar um trader bem-sucedido.
  3. Aceitação do Risco: Para ser um trader bem-sucedido, deve-se aceitar totalmente o risco inerente à negociação. Isso não significa ser imprudente, mas sim reconhecer que cada trade tem um resultado incerto e estar em paz com qualquer resultado.
  4. A Mentalidade de Probabilidade: Douglas defende que os traders devem adotar uma mentalidade de probabilidade, onde se reconhece que a negociação é um jogo de probabilidades e não de certezas. Cada trade é apenas uma oportunidade, e o sucesso a longo prazo é determinado pela capacidade de executar uma estratégia de forma consistente ao longo do tempo.

Em conclusão, o capítulo 3 do “Trading in the Zone” enfatiza a importância da mentalidade e das crenças na negociação. Enquanto muitos traders focam na análise técnica, estratégias e algoritmos, Douglas argumenta que a verdadeira chave para o sucesso na negociação reside na mente do trader. Assim, para realmente prosperar no mundo da negociação, deve-se trabalhar tanto na própria psicologia quanto em suas habilidades técnicas.


A Obra de Mark Douglas

Mark Douglas é amplamente reconhecido no mundo do trading por seus insights sobre a psicologia dos traders e por seus ensinamentos sobre como abordar o mercado com uma mentalidade disciplinada e orientada ao sucesso. Ao longo de sua carreira, Douglas publicou diversos livros que se tornaram leituras essenciais para traders de todos os níveis de experiência. Aqui está uma lista dos seus livros mais influentes, juntamente com breves resumos:

   


This post first appeared on Com Lucro, please read the originial post: here

Share the post

Trading in The Zone: Audiobook Completo em Português – Mark Douglas – Capítulo 3

×

Subscribe to Com Lucro

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×