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Política de Saúde - O psicanalista e professor da Universidade de São Paulo Christian Dunker considera que há hoje uma industrialização da depressão que a desliga da forma como as pessoas vivem, focadas em resultados como se fossem uma empresa.



«A industrialização da depressão que a desliga da forma como as pessoas vivem. Dia Mundial da Saúde Mental assinala-se hoje, dia 10.

O psicanalista e professor da Universidade de São Paulo Christian Dunker Considera que há hoje uma industrialização da depressão que a desliga da forma como as pessoas vivem, focadas em resultados como se fossem uma empresa.

Em conversa com a Lusa, considera que o atual sistema socioeconómico, que denomina de neoliberal, põe o próprio indivíduo a ver-se como uma empresa – a entender como naturais conceitos como produtividade, concorrência, rentabilidade, métricas, em que tudo é sujeito à “lógica mercantil”, ao “custo benefício”, o trabalhador é “capital humano” e os filhos um “investimento no futuro” – e a sofrer por não conseguir cumprir tudo o que lhe é exigido e por sentir que os seus sonhos não são adequados.

“O paciente depressivo olha para si e julga que é insuficiente, que não está à altura”, afirma o psicanalista brasileiro e professor de psicologia da Universidade de São Paulo.

“Se a gente quer melhorar alguma coisa nos índices de saúde mental, quais são os procedimentos? Racismo zero, bullying zero, assédio sexual e moral zero, cuidado com a condição de desemprego, com a violência doméstica. Esta ligação óbvia, evidente, foi desfeita”, disse o psicanalista brasileiro no lançamento do livro “Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico”, que decorreu no Museu do Aljube, em Lisboa.

Para os organizadores do livro, Christian Dunker, Vladimir Safatle & Nelson da Silva Júnior, investigadores do Laboratório de Pesquisa em Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da Universidade de São Paulo, a depressão (termo usado até para descrever a crise financeira de 1929, a Grande Depressão) foi-se tornando paulatinamente “a categoria clínica central” do sofrimento psíquico, individualizando o sofrimento.

“Sofrer passou a ser, de alguma medida, estar no espetro que vai da depressão para a ansiedade e da ansiedade para a depressão”, afirmou Dunker na apresentação do livro.

Na conversa com a Lusa, Christian Dunker diz que “não é que não exista a depressão, mas há uma industrialização do sofrimento depressivo, do hiper-diagnóstico, do excesso de medicação”, em que se pensa a depressão como défice de neurotransmissores (falta de serotonina ou dopamina, como “se fosse uma diabetes mental” em que se repõe insulina) e “não como resultado da forma como se trabalha, fala e ama”.

Para Dunker, tal é evidente no mundo do trabalho quando se fala de aumentos salariais e as empresas respondem com a produtividade.

“Essa discussão sintetiza a moralidade que define o neoliberalismo, vamos ter de pressioná-lo mais, deixá-lo com mais medo, mais insegurança alimentar, mais insegurança no emprego para que você produza mais”, afirma.

Dunker considera mesmo que se passou de um tempo em que havia a ideia de que se devia proteger os trabalhadores (com férias, descanso, ergonomia), pois assim produziam mais, para um tempo em que se “prescinde disso, o neoliberalismo pressupõe que haver oferta de trabalho já é uma benesse” e se usa o medo como estratégia, entendendo que “as pessoas com medo trabalham mais”.

Para o investigador, são paradigmáticos os sistemas de avaliação nas empresas, nas escolas, nos hospitais.

“Há uma cultura em que as pessoas precisam de saber do valor agregado que estão a produzir ou entram no espectro do desemprego. O que é a cultura da avaliação? É a cultura que incita a sofrer individualmente. Se você perdeu o seu emprego é porque você fez algo errado, é administrar a culpa e individualizar a culpa”, considera.

Para Dunker, tudo isto “modifica a nossa relação connosco, com outros e implode toda a relação de solidariedade”, pois “o outro é concorrente, que pode produzir mais valor”.

Christian Dunker considera ainda que nesta cultura tem sido instrumental o uso do conceito de austeridade, um conceito moral que virou económico e em que quem não concordar com ele não é uma pessoa moralmente correta.

“Não pode gastar muito, não pode sonhar muito, conforme-se em ser pequeno, austero. O depressivo tem o sentimento de estar aquém do que gostaria, o desejo dele é algo secundário. Afeta a capacidade de o sujeito se envolver com os seus desejos, a anedonia”, diz.

// Lusa» in https://zap.aeiou.pt/depressao-viver-empresa-561189

(Como a psicanálise enxerga a depressão?)


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