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O Problema dos 3 Corpos

Eu admito, apesar de ter devorado o livro de Cixin Liu, O Problema dos Três Corpos em 2017, não sou a melhor pessoa para explicar a trama da "ficção científica pesada". Isso porque a obra, exige e apresenta muito mais ao leitor que um produto mais simples do mesmo gênero. Logo, é de se imaginar o misto de apreensão e ansiedade quando a Netflix anunciou a adaptação do livro com produção de David Benioff e D.B. Weiss.

A dupla de produtores de Game of Thrones, que aqui ainda contam com um terceiro parceiro, Alexander Woo, é literalmente uma faca de dois gumes. Se por um lado acertaram ao transpor os livros de G.R.R. Martin, antes considerados inadaptáveis. Por outro parecem ter ficado perdidos quando os livros acabaram e mais preocupante, enjoados da tarefa antes do fim, entregando um desfecho preguiçoso, para a maior série da década passada. 

A trilogia Lembrança do passado da Terra, mais conhecida como Trilogia dos 3 Corpos, ao menos conta com uma vantagem sob a obra passada em Westeros, está terminada! Todos os três livros estão disponíveis, para que as supressões, adições e mudanças necessárias a uma adaptação sejam feitas de forma consciente. Assim como todo o trajeto está definido. 

E a grande mudança que percebe-se imediatamente na versão da Netflix, e que também causa reações mistas, é a "universalização" da história. Leia-se, trazer boa parte dela para o ocidente. Compreensível, se pensarmos em lógica de mercado, e identificação do público alvo. Com essa escolha, vem a mudança de alguns personagens e relações. Mas estou me adiantando, pois esta história começa lá na China, com uma mulher apenas.

A jovem astrofísica Ye Wenjie (Rosalind Chao e Zine Tseng na versão jovem)  tem a vida destruída pelas forças de repressão da Revolução Cultural na China dos anos 1960. Com um intelecto considerado um recurso importante, é recrutada para um projeto ultra secreto, que molda o caminho para a trama nos dias atuais. Falar mais que isso seria spoiler. 

É nos dias atuais, que estão as maiores mudanças, já que a história é trazida da China para Londres. Enquanto um grupo de personagens diversos dividem a jornada de um único personagem no livro. Os amigos de faculdade e cientistas brilhantes Auggie, Saul, Jin, Will e Jack (Eiza González, Jovan Adepo, Jess Hong, Alex Sharp e John Bradley respectivamente) começam a vivenciar fenômenos incomuns, quase sobrenaturais, e logo se veem presos em uma trama muito maior, mais complexa e decisiva do que imaginavam. 

Ok, antes de tudo um adendo. Esses personagens não estão apenas dividindo um arco, acredito que alguns deles tenham sido puxados do segundo livro A Floresta Sombria (que ainda não li). A primeira temporada cobre o primeiro livro e parte do segundo. Então, sua inclusão da história desde cedo, seria um bem vindo adendo, para dar mais tempo de nos apegarmos a eles. 

Ainda sim, o desequilíbrio na divisão de tempo e funções é visível. Há quem tenha muito foco nos episódios iniciais, e desapareça no fim. Bem como quem só existe nos primeiros capítulos, para ganhar uma importância descomunal ao final. Auggie por exemplo desaparece no desfecho, enquanto Saul passa seis episódios esperando o que fazer. Passagens de tempo, e localização no planeta são igualmente mal distribuidas, Mesmo com eventuais letreiros em cena. 

Já a discussão científica e filosófica e simplificada e pasteurizada, em relação ao livro. O que é uma pequena decepção, mas não uma surpresa, ou uma escolha impensada. A série precisa alcançar um grande público se quiser seguir em frente. 

Mesmo com estes escorregões,  O Problema dos 3 Corpos consegue manter a premissa base, e o tom intrigante da história de Cixin Liu. Seja pela qualidade da história, que transcende alguns dos erros, seja pelos acertos, como a boa escolha de elenco, e cenas impactantes bem conduzidas. 

E por falar no elenco, do grupo de jovens cientistas, o único ponto fraco é Eiza González, que acostumadas a "sex-simbols duronas" não consegue embutir nuances e as expressões de uma cientista confusa e atormentada. Enquanto o elenco mais velho, além da competente Rosalind Chao, traz boas performances de Jonathan Pryce, Benedict Wong e Liam Cunningham.

O design de produção e efeitos especiais atendem ao que a história pede na maior parte do tempo. Tendo seu auge, ao representar o jogo que os personagem jogam em cena. Mas não escapam de um ou outro efeito de CGI que não funciona. É, eu tô falando daquele macaco!

O livro O Problema dos Três Corpos além de uma trama intrigante e envolvente, tem muita crítica social, discussões políticas, desesperança quanto à humanidade, projetos ultrassecretos, assassinatos, teorias de conspiração e complexos experimentos científicos. A série O Problema dos 3 Corpos tem um pouco de tudo isso, mas de forma bastante simplificada, ouso dizer meramente apontada. 

Restando ao espectador se aprofundar na discussão, caso se interesse. O que acredito não ser a escolha da maioria, que está lá pelas cenas impactantes e para desvendar o mistério. Além disso, a necessidade da maratona, nos impede de aproveitar as discussões episódio à episódio. Mas isso é assunto para outro post!

Colocando tudo na balança O Problema dos 3 Corpos da Netflix é uma adaptação eficiente, mas não excepcional. Ao menos ainda não! Quem sabe temporadas futuras consigam contornar erros, preencher lacunas, e dar sustância e riqueza às discussões e possibilidades dessa história.  Afinal, Game of Thrones também não foi um fenômeno em seu primeiro ano. O melhor é esperar para ver, e torcer para que a Netflix não a cancele antes que possamos descobrir. 

O Problema dos 3 Corpos tem oito episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix. 

Leia a crítica do livro O Problema dos Três Corpos.



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O Problema dos 3 Corpos

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