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Vidas Passadas

Mais de uma década atrás, quando este blog ainda trazia pensamentos aleatórios desta blogueira que vos escreve, independente do tema (bons tempos!), eu publiquei um texto catártico/filosófico entitulado "O problema do "E Se?". Onde eu ponderava livremente sobre a duvida eterna gerada por possibilidades alternativas. Vidas Passadas é a dramatização (muito melhor articulada, que meu texto de 2010!) desse dilema real por qual todos passamos, mesmo quando não temos ciência disso. 

Os amigos de infância Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo) estavam começando a descobrir os relacionamentos amorosos, quando são separados pelas circunstâncias ainda crianças. A família dela resolve se mudar.  Duas décadas depois, e com pouquíssimas interações entre eles, os amigos se reencontram em Nova York e confrontam as escolhas e destinos que os levaram até ali.

Apesar do que parece, esta não é uma história de amor, mas de possibilidades perdidas. A diretora Celine Song nos leva a confrontar o temível "e se": e se ela não tivesse se mudado, e se eles tivessem mantido contato... O que ganhariam se as coisas fossem diferentes? Mas também o que perderiam. Teriam tido as carreiras e relacionamentos que tiveram? A vida seria completamente diferente? Seria melhor ou pior?

Tudo isso em uma conversa madura e desconfortável sobre se você abriria mão do que tem agora, pelo que você não sabe que poderia ter sido. O roteiro também de Song, não tem pressa ao construir os vários desencontros e momentos chave, especialmente na vida de Nora. Sem receio de parecer lento, ou cansativo, ciente que esta construção, é essencial para conferir o peso e a reflexão, que a complexa semana que o casal passa junto na vida adulta precisa. 

Greta Lee e Teo Yoo conseguem construir essas "pessoas reais", que sim tem sentimentos e conflitos, mas fogem dos clichês românticos do cinema. Eles sentem sim falta de seu romance platônico infantil, mas não significa que vão sair em rompante para os braços um do outro. Na verdade, vão refletir, ponderar e chegar a conclusão de que um passado distante e uma semana de reencontro talvez não sejam suficientes para justificar muda toda uma vida.

Uma atitude contemplativa, que talvez soe meio fria e racional demais para nossos "hábitos e personalidade latinos". Aí é a diferença cultural que temos que descobrir, compreender, e refletir. Caso não tenha ficado claro, a trama é sobre um casal de coreanos, vivendo na Coreia do Sul, Tóquio e Estados Unidos. 

São realidades muito diferentes da nossa. Tanto que a inspiração para o filme vem de um encontro de Celine Song com um amigo de infância. Agora imagina como a história poderia ser diferente se a diretora fosse de outra cultura, gênero, ou geração... e o "e se" se faz presente novamente. E se fosse um diretor latino de 68 anos contando essa história? 

De volta ao filme, a compreensão de destino e romance aqui, passa pelo conceito oriental de In-Yun. Onde relações entre pessoas são definidas por camadas de In-Yun, que seriam encontros em Vidas Passadas, e o acumulo destas conexões ao longo do tempo.

O "pé no chão" nas personalidades e relações abraçados pelo roteiro, se faz presente em outros aspectos da produção. Design de produção e figurino, por exemplo, constroem um mundo bastante comum, até propositalmente enfadonho. Enquanto a direção mantém o ritmo sem grandes reviravoltas, suspense, ou explosões dramáticas.

Esse tom mais contemplativo, pode afastar alguns. Para os que tiverem mente aberta, e a beleza por vezes despercebida da vida cotidiana, e as reflexões inerentes a ela que muitos postergamos, ou mesmo nunca fazemos, vão inundar os pensamentos. E te levar para uma reflexão similar a que tive em 2010 (e que repeti agora por causa do filme), e se cada evento da minha vida fosse diferente? Onde estaria? Qual realidade preferiria, esta ou as outras inúmeras possíveis?

Vidas Passadas (Past Lives)
2023 - Coreia do Sul/EUA - 105min
Dama, Romance



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