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The Crown - 6ª (e última) temporada

Na crítica da quinta Temporada de The Crown, mencionei que o ano em questão parecia uma grande preparação. Mais morno, seus episódios colocavam as peças no tabuleiro para uma "bombástica" sexta temporada. Eu não estava enganada, mas também, não estava de todo certa. 

Começando direto no conturbado relacionamento entre Diana (Elizabeth Debicki) e Dodi  Al Fayed (Khalid Abdalla), os primeiros quatro episódios lançados cerca de um mês antes do restante da temporada, mostram como duas almas inseguras, magoadas e solitárias constroem um relacionamento que sob outras circunstâncias talvez nunca existisse. 

O planejamento de Mohamed Al Fayed (Salim Daw) para jogar a Princesa nos braços do filho, e sua cobrança constante para o rapaz fisgar a moça. Do outro lado, o isolamento de Diana, a hostilidade da família real, e a relação de amor e ódio da imprensa com a princesa. Além da cadeia de escolhas infelizes, que pareciam irrelevantes no momento, mas resultaram no acidente fatal do casal. 

Tudo isso, feito com esmero redobrado, para atender à memória coletiva ainda fresca na mente popular. Momentos icônicos são recriados  à perfeição, em um esforço notável de figurino, maquiagem, fotografia e direção de arte. E também de Elizabeth Debicki em personificar a princesa novamente, dessa vez mais melancólica e angustiada que afrontosa, mas ainda muito imponente.  Já Khalid Abdalla consegue nos fazer perceber o homem inseguro e frágil por trás da figura do playboy que ele era. 

É nas consequências do fato que a produção escorrega, ao oferecer à Charles (Dominic West), Mohamed e Elizabeth (Imelda Staunton) a chance de ter as desejadas conversas que nunca teremos com pessoas que partiram repentinamente. O recurso parece tentar conceder um perdão, especialmente ao Príncipe de Gales, para que sua história possa seguir em frente. Mas além de não funcionar a escolha ameniza muito do impacto da tragédia. 

Mesmo com isso, esta é a parte realmente "bombástica" e forte da temporada, que amorna e perde em carisma à partir dali. Tal qual a verdadeira família real perdeu com a morte de sua mais popular princesa. 

Os seis episódios seguintes se dividem entre Charles, William (Ed McVey) e Elizabeth, sendo a volta de foco na monarca a linha narrativa mais interessante. Acompanhamos o impacto da morte da mãe no jovem príncipe, que culpa o pai e se revolta, antes de voltar ao caminho de bom menino e conhecer sua futura esposa. 

A premeditação da entrada de  Kate Middleton (Meg Bellamy) na família real é interessante, mas soa interrompida já que a série termina antes de qualquer compromisso formal ser feito. Seria curioso ver, por exemplo, a candidata a princesa passar pelo mesmo teste de Balmoral que Diana e Tatcher.

Enquanto isso tanto  Dominic West quanto o roteiro constroem um Charles muito diferente do imaginário popular, e da persona apresentada pelo seu interprete anterior Josh O'Connor. Ainda a escalação, e agora a abordagem mais equivocada de toda a série. Um príncipe voluntarioso e confiante muito diferente da persona travada e irritadiça que vemos em eventos públicos. A tentativa de humanizar o personagem não funciona, uma vez que suas intenções e ações não combinam. Até mesmo  Camilla Parker Bowles (Olivia Williams) com menos tempo de tela, parece mais coerente  que o parceiro.

E por falar em pouco tempo de tela, personagens que antes eram centrais agora são relegados ao segundo plano, especialmente o Duque de Edimburgo (Jonathan Pryce) e a princesa Margareth (Lesley Manville ), embora esta última ganhe um dos melhores episódios da temporada. Sua despedida relembra a união entre as irmãs revisitando sua juventude, com um elenco jovem muito bem selecionado. Beau Gadsdon e Viola Prettejohn criam versões adolescentes da princesa que muito se assemelham às jovens mulheres que conhecemos na primeira temporada. 

É provavelmente o Príncipe Harry quem mais perde. Relegado ao papel de figura comparativo do irmão, ele é retratado sem conflitos próprios. Marcado apenas como o "príncipe problema". A falta de esmero com ele é tanta que seu intérprete adolescente Luther Ford substitui o pequeno Fflyn Edwards, após uma passagem de tempo de dias e ninguém nota! O intérprete de William também é trocado, mas a mudança de idade não é tão discrepante ao ponto de se fazer incômoda.

Por outro lado, quem mais ganha é Elizabeth. A série reencontra o caminho para a rainha, e protagonista original, continuando a discussão sobre sua obsolescência. Agravada pelas perdas de entes próximos, pelo vislumbre da própria morte e pelo desgaste da imagem da família real. A rainha realmente se questiona se não seria a hora de passar o bastão e se aposentar. 

Sabemos que ela não fará isso, mas acompanhar sua dúvida, discussão interna, e incapacidade de buscar apoio nas gerações seguintes é fascinante. Culminando em uma despedida informal de seu reinado, ainda que saibamos que ela ainda vai ficar no trono por mais duas décadas depois dos eventos da série. O roteiro se despede transformando a monarca em um merecido pilar e símbolo de uma era.

A sexta temporada de The Crown não é a despedida imponente que esperávamos. Talvez por de fato não encerrar a história. Talvez porquê a família real tenha ficado menos misteriosa, intrigante e interessante depois dos anos 2000. Tema que também é debatido em cena. Tem uma primeira parte empolgante, e amorna para se despedir dos personagens. Mas à exceção da Rainha, ninguém realmente tem um desfecho. 

Ainda sim, é uma produção impecável e inspirada. Continuando vários degraus à frente das outras produções da plataforma. E com o bônus de ser planejadamente encerrada, uma raridade em uma era marcada por cancelamentos da Netflix. Provavelmente gostaríamos de acompanhar o reinado de Elizabetth até o final (agora que de fato se encerrou), mas o desfecho de sua monarquia fictícia é satisfatório o suficiente. 

The Crown tem seis temporadas, com 10 episódios cada, todos disponíveis na Netflix. Leia as críticas das temporadas anteriores.



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