"Filmes do Adam Sandler" são quase um subgênero da comédia, com o ator interpretando quase sempre o mesmo personagem, o tiozão do pavê de bom coração, em diferentes contextos. Há quem ame, há quem odeie, mas uma coisa é certa, o humor de Sandler tem apelo com as crianças, mesmo quando a obra não é necessariamente voltada pra elas. Logo, é até uma surpresa que uma animação, voltada assumidamente para os pequenos, nos moldes de sua comédia tenha demorado tanto a acontecer. É nesse contexto que estreia Leo, mais uma produção da parceria do ator com a Netflix. 

O lagarto Leo (voz de Adam Sandler no original, e de Alexandre Moreno, seu dublador oficial no Brasil) é um bichinho de sala de aula, que vive há décadas na classe do último ano do ensino médio, ao lado da tartaruga Squirtle (Bill Burr). Ao descobrir que só tem mais um ano de vida o réptil decide usar as obrigatórias idas as casas das crianças nos fins de semana para fugir. Mas acaba se envolvendo com os problemas dos pequenos, e mudando completamente a dinâmica da turma.

Um personagem cheio de sonhos, descobre que pode fazer a diferença e ter a vida que desejava de um jeito muito mais simples e inusitado que o planejado. A jornada de Leo não é das mais inventivas. É o contexto em que está inserido que traz originalidade à proposta. Uma sala de aula do século XXI, subitamente invadida por uma professora antiquada, e com crianças que refletem os dilemas das crianças de hoje e sempre.

Filhos de pais helicópteros, crianças ansiosas, inseguras, pressionadas a ser perfeitas, carentes pelo luto, enfrentando mudanças no corpo... não faltam dilemas para o lagarto resolver com conselhos dados no jeitinho Adam Sandler de comédia. Junto deles situações inusitadas, encrencas, piadas físicas e muitas, muitas referências aos tempos atuais e à cultura pop. Ao ponto de correr o risco de seu texto ficar datado rapidamente. 

O roteiro até arrisca algumas críticas aos extremos do estilo de educação. Do datado "cuspe e giz" com livros gigantes e assustadores, ao excessivo uso de tecnologia, e o exagero do politicamente correto e super proteção dos tempos de hoje. O discurso da busca do equilíbrio entre o que há de bom entre os dois estilos surpreende. 

O que não é surpresa, é o tratamento um tanto gordofóbico e etarista dado à "professora pesadelo" que atormenta o ano letivo dos alunos. Nada no entanto, que não seja comum nas comédias de Sandler. Piadinhas equivocadas, levemente de mal gosto, e que se estendem mais que o necessário são praticamente marca registrada do humorista. 

O que parece estar se tornando marca registrada também nas obras do ator é o nepotismo. Depois do bom Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá!, onde ele contracena com as filhas e a esposa. Sadie Sandler, Sunny Sandler e Jackie Sandler voltam a trabalhar juntas, dando vozes há alguns personagens. Quem também retoma sua parceria com Sandler, depois de algum tempo sumido é o amigo de longa data Rob Schneider.

O design de produção e a qualidade da animação são mais do que satisfatório quando ao que a produção precisa. Impressionante como aquele lagarto tem as feições de Adam Sandler. Já a música, usada em excesso e quase como obrigação (é uma animação, personagens tem que cantar!), é pouco criativa, interrompe a história, e tão repetitiva que não apenas cansa, irrita! Adam Sandler não é cantor, não é todo conselho que se pode transformar em música, o filme se beneficiaria muito com o corte desses números.

Leo é mais um filme do Adam Sandler! Só que animado, e com algumas boas lições e reflexões inesperadas. Mas a linguagem e a comédia são aquelas bem conhecida das produções do ator. Bom para quem gosta, legalzinho para os indiferentes, quem odeia recomendo passar longe. Em qual categoria você se encaixa!

Leo
2023 - EUA - 102min
Animação, Comédia