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Barbie

Você pode assistir ao filme da Barbie de duas formas. A primeira é aproveitando a camada superficial e extremamente divertida das aventuras de uma boneca que sai de sua rotina. E tá tudo bem, esse é o jeito que a criançada vai se relacionar com o filme. Ou você pode ir além e observar todo o subtexto por trás dessa aventura aparentemente inofensiva e despretensiosa. Eu te convido para a segunda opção!

A Barbie (Margot Robbie) estereotipada, aquela tradicional, branca loira e perfeita que pensamos quando alguém menciona a boneca, vive uma vida perfeita na Barbielândia. Ao lado das outras centenas de Barbies, cada uma prefeita em sua função, presidente, médica, cientista, além de outra centena de Kens, (que são apenas Kens), todos sempre vivendo um dia perfeito após o outro, com a certeza que sua existência ajudou a inspirar um mundo real muito melhor. E tudo segue perfeitamente até que deixa de estar, a Barbie original está tendo uma crise existencial, e precisa resolvê-la para ter sua vida perfeita de volta.

Reparou na quantidade de vezes que escrevi a palavra "perfeita" nessa sinopse? Isso porquê essa obrigatoriedade da perfeição, sustentada pela nossa sociedade capitalista é uma das grandes discussões desse filme que fala muitas verdades por trás de sua aventura simples, com bom humor e ironia. A Barbie sai, conhece o mundo real, descobre que ele não é nada perfeito. E pior sua existência talvez não tenha ajudado em nada a melhorar a vida das mulheres por aqui. Além disso, sua partida tem consequências devastadoras, na Mattel e na Barbielândia. 

Toda mulher que brincou de Barbie um dia (ou mesmo com similares como Susie e afins) tem sentimentos confusos em relação a boneca. Isso porque ela é sim uma brincadeira divertida que a gente amava, incentivou as meninas a serem o que quisessem, mas ao mesmo tempo ela é a síntese da objetificação e da obrigatoriedade da perfeição a que somos submetidas desde muito cedo.

Constantemente o "tudo que podemos ser", entra em embate direto com o que tudo que a sociedade exige que sejamos. E muitas vezes é esse lado tóxico da boneca que prevalece. Greta Gerwig tem ciência dessa relação complexa, que exemplifica perfeitamente a forma como a sociedade lida com mulheres reais e coloca essa discussão no cerne de seu filme de forma orgânica. Esses conflitos não surgem de forma didática ou panfletária, mas como consequência das experiências pelas quais a protagonista está passando. E também na posição que os Kens ocupam na sociedade das bonecas. 

Ainda sobre o Ken (Ryan Gosling), mas especificamente o tradicional, loiro e estereotipado. Sua descoberta de como é muito melhor ser homem no mundo real, e sua reação diante diante disso, é ao mesmo tempo hilária e triste. Uma vez que ressalta ainda mais todas as dificuldades vividas pelas mulheres que a Barbie descobre e enfrenta pela primeira vez nesse filme. 

Também são discutidos de forma natural, a relação de mãe e filha e suas mudanças diante do amadurecimento, retratadas pelas personagens de America Ferrera e Ariana Greenblatt. Apenas, o personagem de Will Ferrell, CEO da Mattel, e seus lacaios que parecem deslocados do filme. Mera ferramenta para dar urgência às atitudes dos personagens, o grupo de engravatados repete constantemente a mesma piada e crítica. Homens bobos, que se acham mais capazes que são, e acreditam que sabem do que mulheres gostam e precisam. 

Com tantas qualidades em seu roteiro e temática, Barbie funcionaria mesmo com uma produção mais modesta. Entretanto o universo criado para a existência das bonecas é caprichado, repleto de referência e nostalgia. Dos cenários, objetos, veículos e figurinos que recriam peças do brinquedo, passando pela iluminação artificial, até a caracterização e os movimentos do elenco, que simulam os bonecos. Um aceno aqui para Kate McKinnon, cuja Barbie estranha é o retrato perfeito daquelas bonecas detonadas de tanto brincar que estão sempre largadas em poses estranhas na caixa de brinquedos. 

E por falar no elenco, Margot Robbie estará para sempre associada a imagem da boneca, não apenas pela similaridade física, mas por sua composição acertada que vai da perfeição plástica à humanização total da personagem. Já o Ken de Ryan Gosling, cativa mesmo quando ganha ares de vilão temporário, já que compreendemos completamente as motivações de suas ações, mesmo que erradas. E o ator consegue sempre manter o tom cômico que nunca permite que ele se torne um vilão de verdade.

America Ferrera e Ariana Greenblatt são o acertado contraponto humano realista, e guia sentimental para a protagonista. Já a narração de Helen Mirren é informativa, extremamente bem humorada, e nunca redundante. Will Ferrel entrega seu humor de sempre. Enquanto o restante do enorme elenco faz divertidas participações, alguns com mais função na trama, outros com pequenas aparições. Entre os nomes estão Kingsley Ben-Adir, Emma Mackey, Simu Liu, John Cena, Michael Cera, Alexandra Shipp, Emerald Fennell, Issa Rae e Ncuti Gatwa.

A trilha sonora repleta de musicas pop, e o visual multicolorido da Barbielândia, mantém a energia da produção no topo, sem nunca atrapalhar os momentos mais emocionais e reflexivos. Tornando excepcionalmente leve, um filme com uma quantidade considerável de discussões sérias. 

Ciente de que o amor e o ódio pela boneca mais famosa do mundo andam juntos. Barbie, é inteligente ao aceitar as falhas do brinquedo, e ressaltar os acertos. É um ícone capitalista de objetificação e sexualização das mulheres? Sim, mas também é inspiração para meninas perseguirem seus sonhos, está  presente nas relações entre mulheres e meninas de diversas gerações. E agora que começou abraçar a diversidade e tem um filme tão consciente endossado pela marca, pode estar encontrando o caminho para colocar os prós muito além dos contras. 

De volta ao longa, o roteiro diálogos excelentes, muita crítica e ironia,  referências e nostalgia aos montes, e acima de tudo é extremamente divertido. Barbie prometeu tudo, e que surpresa, entregou ainda mais!

Barbie 
2023 - EUA - 114min
Aventura, Comédia



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