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Nimona

Dentre as muitas escolhas erradas que a Netflix tem feito em relação ao seu conteúdo, uma das mais recentes é não dar à Nimona a mesma divulgação viral que produções como Resgate 2 ou Matilda. Particularmente, pra mim, a animação sequer apareceu na aba de novidades quando lançado. Felizmente, o boca-a-boca está fazendo o trabalho que a plataforma não fez e divulgando a produção para o mundo. E eu estou aqui para engrossar esse coro.

Em um feudo medieval futurista, (é isso Mesmo que você leu, a história se passa em um sistema medieval, mas a tecnologia vai além da que temos no mundo real), Ballister Boldheart (Riz Ahmed), o primeiro cavaleiro de origem não nobre está prestes a ser sagrado quando é incriminado por um crime que não cometeu. Clandestino, em busca de provar sua inocência ele recebe a inesperada, e inicialmente indesejada, ajuda de Nimona (Chloë Grace Moretz). Uma menina com personalidade única, habilidades especiais, e capaz de fazer o cavaleiro questionar o sistema em que foi criado pela primeira vez. 

É a ambientação o primeiro elemento a chamar a atenção em Nimona. Um feudo moderno enclausurado em suas muralhas há mil anos por medo de monstros, povoado por cavaleiros honrados e publicidade do século XXI. Uma ideia criativa, que cria uma sociedade complexa, que já adoraríamos apenas conhecer mais. Satisfatoriamente, história igualmente rica se passa nesse reino único.

Isto porquê apesar de ser uma animação facilmente compreensível, e com muito apelo visual para os pequenos, Nimona não tem receio que trazer camadas e interpretações extras para quem estiver disposto à enxergá-las. À começar pela quebra dos estereótipos do medievo,  Ballister ama Ambrosios (Eugene Lee Yang), e mesmo quando o casal é colocado em lados separados da disputa não há heróis e vilões definidos, apenas pessoas, tentando viver. 

Mas nada, nem ninguém é mais rico e complexo que a própria Nimona. A jovem metamorfa, que é incapaz de não se transformar. A jovem literalmente diz sentir dor ao ser obrigada a assumir uma forma específica, e sempre que perguntada sobre sua natureza responde apenas que é Nimona. Ou seja, ela mesma, sem rótulos, ou amarras, mesmo que isso faça com que os outros a vejam como monstro. Sinta-se livre para colocar como paralelo aqui, qualquer característica execrada pelos padrões da sociedade. Desde a causa LGBTQIAPN+ (a relação mais evidente e direta), até racismo, gordofobia e xenofobia. Tudo e todos que são diferentes, e que em algum momento se sentiram coagidos a se encaixar em um padrão, indo contra a sua natureza. 

Ao mesmo tempo que exalta a luta de Nimona e Ballister para serem vistos como eles mesmos (o cavaleiro quer provar que não é um vilão), o roteiro ainda critica a fé cega em instituições, manipulação das massas e os mitos que as guiam e dão identidade. O reino acredita fielmente no mito de Gloreh, que como toda história tem dois lados (no mínimo!), mas eles só conhecem um. 

Já a estética representa essa autenticidade e individualidade ao trazer formas distintas para os personagens, ângulos traços próprios para refletir a personalidade de cada um. Ao mesmo tempo que o estilo que remete à animação tradicional em 2D, e a profusão de cores,  traz o tom lúdico e remete à origem da história dos quadrinhos. A graphic novel homônima de N. D. Stevenson, que vale mencionar é uma pessoa trans, que estava em processo de autodescoberta enquanto escrevia esta história. 

O elenco de vozes faz um trabalho excelente na composição de personagens. O destaque obviamente fica com o excelente Riz Ahmed, e principalmente Chloë Grace Moretz, que cria uma protagonista frenética e em constante transformação, sem nunca perder a essência. E com um apreço ainda maior por violência que a Hit Girl, personagem que lançou Moretz para o mundo. Quem prefere a versão dublada, as vozes nacionais mantém o excelente padrão do original. 

Nimora era originalmente um projeto da Blue Sky, braço de animação da 20th Century Fox responsável por A Era do Gelo e Rio. Mas fora descartado após a compra da Fox pela Disney, já que não atende ao "perfil" da casa do Mikey. O projeto foi resgatado pela Annapurna Pictures e lançado pela Netflix, que deveria tê-lo divulgado melhor. 

Escondido na plataforma, Nimona é surpreendente como sua personagem título. É único, diferente e complexo, e tem orgulho disso. Extremamente divertido, é belo estética e narrativamente, mas acima de tudo honesto e relevante!

Nimona
2023 - EUA/Reino Unido - 101min
Aventura, Fantasia, Animação



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