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Persuasão

Nem é preciso ter lido a obra de Jane Austen para perceber que Persuasão da Netflix não é a melhor adaptação de seu livro. De fato, a produção parece tão perdida, que perde completamente o tom e o espírito das obras da autora.

Oito anos atrás Anne Elliot (Dakota Johnson) foi persuadida a não se casar com o amor de sua vida, pois o rapaz era um oficial pobre, sem nome e perspectivas. Agora, já mais velha, Ainda apaixonada e praticamente considerada uma solteirona, a mocinha reencontra seu amor de juventude, agora rico e bem sucedido. Será que ele ainda teria sentimentos por ela? Como reatar a relação sem parecer uma interesseira?

Atenção caro leitor, esta é uma sinopse do filme. Escrita por mim, única e exclusivamente influenciada pelo que vi em tela. Logo, não se espante se ela divergir em muitos aspectos do romance original. Tenho certeza que não apenas ela, mas a história como um todo diverge. Especialmente em tensão, peso e química.

A inspiração para a execução desta adaptação é bastante clara, Bridgerton! Se por um lado a diversidade do elenco, coisa inimaginável na época que o romance fora escrito, seria facilmente relevada e até bem vinda. Por outro, a atualização do texto para "se conectar com as gerações mais jovens", é extremamente falha. Perde não apenas em riqueza textual, mas também em impacto e ao abraçar o humor e o didatismo. 

Outra tentativa de aproximar o público da história vem através de um recurso dado à protagonista, a quebra da quarta parede. Aparentemente ciente das regras ultrapassadas de sua sociedade e da existência de um público, Anne constantemente compartilha suas impressões, comentários e julgamentos conosco. Seja através de diálogos diretos, ou meras olhadelas para a câmera. O recurso é utilizado com tanta frequência que interfere tanto na imersão do espectador, quanto no peso de cada cena. Uma rígida regra essencial para sua vida em sociedade é informada a mocinha, mas ela olha para a câmera de forma crítica, e logo o peso dessa imposição é perdido. 

Anne não parece estar presa ao pensamento e regras da sociedade. O que não condiz com o histórico da moça que se deixou persuadir e perdeu o amor de sua vida. É verdade, se passaram oito anos, ela pode ter mudado nesse período, mas sua inação diante dos dilemas também não combina com a suposta mudança. Enquanto no romance este amadurecimento da personagem se dá ao longo da história, no filme parece ter acontecido antes de começarmos a acompanhar. Anne está pronta. A dúvida quanto aos sentimentos do rapaz, ou a possibilidade de passar por interesseira aos olhos da sociedade, não parecem empecilhos suficientes para esta protagonista que nos mostra constantemente o quão moderna e crítica é. 

Dakota Johnson até tenta, mas o texto ruim somado ao anacronismo da personagem, impede que criemos uma conexão forte com a mocinha, tão pouco com seus dilemas. Uma vez que não conseguimos construir um elo com o personagem principal, parte da batalha está perdida. Nem o elenco,  que traz bons nomes como Richard E. Grant e Henry Golding consegue nos segurar por mais algum tempo.

Figurino, cabelo e maquiagem, ainda fazem algum esforço para situar o espectador no período histórico, ainda que não entregue nada de extraordinários, ainda é eficiente. Já a direção de Carrie Cracknell, se encontra perdida na tentativa de modernizar o clássico, equilibrar piadinhas e quebras de quarta parede com a história que precisa ser contada. 

O resultado é um amontoado de cenas, com personagens com os quais pouco nos importamos, cuspindo diálogos que não constroem romance ou tensão. Como se um assistente virtual estivesse enumerando os acontecimentos do livro em ordem, apenas para sabermos do que se trata. Sem envolvimento ou emoção. 

Perdida na sua tentativa de atualização para alcançar mais público, Persuasão não faz jus à obra de Austen. Tão pouco consegue conversar com a audiência que parece subestimar. É fria, simplória e nada persuasiva.

Persuasão (Persuasion)
2022 - EUA - 107min
Drama, Romance

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