Esta blogueira que vos escreve admite, aprendi mais sobre história com obras audiovisuais que na escola de fato. É claro, observando as omissões e licenças poéticas que uma adaptação de um período ou personalidade histórica necessita para funcionar. Os filmes e séries geralmente oferecem um plano geral, que serve de ponta pé na nossa curiosidade de pesquisar mais sobre algum fato ou figura histórica. Sem Limites, nova minissérie espanhola do Prime Video, é um exemplo perfeito deste tipo de obra.
O português Fernão de Magalhães (Rodrigo Santoro) tinha certeza de poder chegar as índias das especiarias navegando para oeste e encontrando um misterioso estreito que possibilitaria transpor o continente americano. Rejeitada por Portugal, sua aposta foi comprada pela coroa espanhola, com quatro navios e mais de duas centenas de homens, entre eles Juan Sebastián Elcano (Álvaro Morte de La Casa de Papel). Começa assim o cenário da expedição Magalhães-Elcano a primeira viagem de circum-navegação ao globo, que aconteceu entre 1519 e 1522.
É o cotidiano da navegação e as dificuldades enfrentadas pela tripulação que são abordadas por Sem Limites. Conflitos entre tripulantes, disputas de poder, encontro com nativos hostis e hospitaleiros, tempestades arrasadoras, marasmos que duram semanas, sede, fome, escorbuto, não faltam dificuldades para uma expedição marítima em uma nau do século XVI. Some-se aí toda a toda a incerteza em torno da existência de tal estreito. Praticamente uma missão suicida, sem garantia nenhuma de sucesso.
Logo, não é surpresa que o clima de tensão e perigo dominam todos os episódios da série, que ainda conta com uma fotografia escura e pouco horizonte, para reforçar o sentimento de depressão e incerteza que dominam os personagens. Qualidade técnica que impressiona, por conseguir transmitir com realismo através de cenários, maquiagem e figurinos as cruéis condições de quem vive no mar.
O roteiro distribui bem os eventos da viagem ao longo de seis episódios, apresentando gradualmente tanto a construção de um elo entre a tripulação, quanto a degradação de seus membros pelas condições insalubres. Entretanto o texto exagera na sisudez de suas falas em embates, no que parece ser uma tentativa de mostrar o quão épica é aquela jornada. Não era necessário, as dificuldades dão conta disso com facilidade. O texto engessado, apenas tornam o desenvolvimento mais aborrecido e cansativo, especialmente no início, quando ainda estamos conhecendo os personagens. O que pode ser um desafio e tanto para quem assiste séries em maratona.
Rodrigo Santoro e Álvaro Morte, encabeçam bem a jornada ao dar vida às figuras históricas. E fazem o melhor que podem com suas "falas sizudas", tornando até mais fluida a instabilidade da relação dos dois. O restante do elenco acompanha, mas sem grandes destaques, mesmo porque o foco mesmo é a dupla de navegadores que nomeia o feito.
E por falar no feito em si, a própria escolha de circum-navegar a terra é uma das reviravoltas da trama. Já que a expedição com fins mais comerciais e exploratórios nunca tivera a intenção de "dar a volta ao mundo", esta foi mais uma decisão impulsiva e arriscada de homens com a mente no limite. E que quase não deu certo. Contar um fato histórico com quinhentos anos ainda é considerado spoiler?
Uma história totalmente ficcional, afinal a Terra é plana, né?! Brincadeiras à parte, Sem Limites é aquela obra perfeita aprender história. Cobre um evento histórico com relativa fidelidade, além de apresentar o cotidiano duro da vida em um navio no século XVI. Não é divertida, e nem a intenção de ser, mas consegue nos fazer engajar naquela aula de história em que cochilamos. E quem sabe até nos faz querer saber mais sobre este feito que mudou a história do globo.
Sem Limites é uma minissérie com seis episódios de cerca de uma hora cada. Todos já disponíveis no Prime Video.
