Um pequeno número de diretores entrega uma obra excepcional em sua estreia. A maioria, opta por trabalhos mais modestos e seguros para iniciar suas carreiras. Alguns decidem entrar com os pés na porta, e tenta ousar, sejam quais forem as consequências. Aparentemente, esta foi a escolha de Matthew Reilly escritor australiano de best-sellers de ação, que estreia também como roteirista neste filme distribuído pela Netflix.
Em Interceptor, um ataque coordenado coloca 16 mísseis em posição para atingir os Estados Unidos. A corajosa Capitã J. J. Collins (Elsa Pataky) é a única sobrevivente da ação, capaz de interceptar a rota dos projéteis antes de atingir seus alvos. Para tal, ela precisa usar toda sua habilidade e experiência para derrotar sozinha os terroristas.
Com clara inspiração em Duro de Matar, que vai da regata branca da protagonista aos longos diálogos entre a mocinha e o vilão (Luke Bracey), Interceptor também é, provavelmente a transposição para as telas do formato que Matthew Reilly utiliza em seus best-sellers. Um herói solitário que salva o mundo nos últimos segundos. Independente da qualidade de seus livros (admito, nunca li nenhum), escrever para as telas é um processo bastante diferente, dirigir mais ainda. Reilly assume as duas tarefas, e fica evidente que ainda não está pronto para a grandiosidade que pretende entregar.
O Roteiro até traz alguns bons temas, o assédio nas forças armadas, os vilões suprematistas brancos, além do ataque iminente que conferiria urgência à trama. Mas os dois primeiros são apenas mencionados, sem grandes discussões. Ela sofreu um assédio e foi punida por denunciar, mas segue em frente, logo é durona. Os terroristas são brancos, odeiam outras etnias, e as querem fora dos EUA. Os fatos, é tudo que o filme entrega sobre estes temas.
A edição permite que observemos as sequencias de luta de forma clara, sem muitos cortes ou confusão espacial. O que acaba evidenciando a coreografia engessada, digna de séries de super-heróis da CW. Elsa Pataky se esforça para conferir os golpes e fazer a maior parte de suas cenas de ação, mas nada muito empolgante ou inovador é entregue, na forma como as sequencias são coreografadas e filmadas. De fato, é tudo muito simples e burocrático.
E por falar em Pataky, o elenco de desconhecidos entrega atuações engessadas e exageradas, acompanhando o tom do roteiro. Tudo é muito sisudo e cheio de frases de efeito, em um roteiro que se leva a sério demais. É uma situação absurda, reconhecer isso e apostar no bom humor, tornaria as falhas mais aceitáveis, e todo o cenário mais crível.
A exceção fica por conta da participação especial de Chris Hemsworth (produtor executivo, amigo do diretor e marido de Pataky). Completamente descolada da trama principal, a aparição é a única que faz piadas com o absurdo, ao mostrar seu personagem empolgado com a ação, como nós deveríamos estar.
A direção de arte é outra que conta pontos negativos. O minúsculo cenário em que se passa toda a ação, é limpo, brilhante e extremamente plástico. Parece amador, além de nunca proporcionar o senso de claustrofobia que acrescentaria muito à tensão. O mesmo vale para o figurino, cujo único momento de "inspiração" é emular a regata branca de John McClane, assim que possível. A mocinha assume o visual aos 15 minutos de projeção.
Ação burocrática, previsível e diálogos forçados, Interceptor pretendia ser um grande filme de ação. Maior que seu roteiro e habilidade da equipe permitia, especialmente seu diretor estreante. Talvez faça sucesso, com quem procura entretenimento raso, ou tenha pouca bagagem para comparação. Mas é um filme ambicioso e muito abaixo da média, onde pouco, ou quase nada se salva.
Interceptor
2022 - Australia / EUA - 99min
Ação