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Dois eventos globais e inesperados atingiram a Terra ao mesmo tempo. Uma pandemia letal que dizimou a população (sim, pode haver alguns gatilhos aqui), e o surgimento de bebês híbridos de humanos e animais. É claro que não demorou muito para a humanindade mergulhada no caos associar as crianças mutantes ao vírus, e passarem a perseguir estes bebês.
Por causa desse cenário, nosso protagonista Gus (Christian Convery), menino com características de cervo, cresceu isolado com o pai em uma floresta. É claro, para termos história, logo ele precisa deixar este refúgio e nos levar com ele para este novo Mundo cheio de inimigos, e com poucos aliados. O maior deles o sobrevivente solitário, ex-jogador de futebol Tommy Jepperd (Nonso Anozie), que a contragosto acompanha o garoto em sua busca por respostas.
Igualmente otimista, até certo ponto, é a visão de uma das histórias paralelas que acompanhamos. A psicóloga Aimee (Dania Ramirez), que encontrou lugar e propósito no mundo devastado, coisa que nunca conseguira antes. Não tão otimista é a terceira história que acompanhamos neste primeiro ano. O Dr. Aditya ( Adeel Akhtar), estava na linha de frente tanto do combate ao vírus, quanto na descoberta dos híbridos, e lida até hoje com as consequências dessa vivência.
Ainda sim, todas as histórias tem seus dilemas próprios e função no quadro geral deste universo. Temas que vão desde o tradicional medo do diferente, passando por atitudes condenáveis e necessárias para sobreviver, a preservação do planeta, até os limites da ciência. Sweet Tooth mostra que apesar do tom lúdico, está longe de ser uma trama leve ou infantil.
Uma pena apenas, que preso à estas tramas, a série explore pouco o mundo além. Por exemplo, pouco vemos outras crianças, além de Gus e Wendy (Naledi Murray), deixando apenas para a reação Dos Demais personagens, transmitir a informação de que o protagonista é especial, diferente dos demais híbridos. Talvez seja uma escolha, guardar alguns detalhes para temporadas futuras. Particularmente eu gostaria de ver mais. O que é um ótimo sinal!
Afinal, quando queremos ver mais é porque este universo nos encantou. E Sweet Tooth é encantadora, principalmente por causa de seu carismático protagonista, que consegue ser extremamente fofo, sem cruzar o limite do irritante. E pelas relações que ele cria, especialmente com seu extremo oposto e companheiro, o gigante Jepperd. Sweet Tooth (Bico Doce na tradução) e Big Guy (Grandão), como eles se referem um ao outro, tem química e carregam muito bem a aventura.
Os intérpretes dos demais núcleos também acertam no tom que suas jornadas pedem. Livre e corajoso para Aimee e Wendy. Cauteloso e temeroso para Dr. Adi. Apenas o General Douglas Abbot (Neil Sandilands) soa caricato demais, mesmo dentro deste universo de fantasia, tanto em ações, quanto em seu visual.
Mas é a maquiagem caprichada que dá vida ao mundo mágico, ao criar híbridos convincentes. Basta ver como os movimentos das orelhas de Gus acompanham suas expressões faciais, enquanto a maquiagem no rosto de Naledi Murray jamais atrapalham a atuação da garota. Há também a escolha pelo uso de animatrônicos, que apesar de menos realista que as próteses, tem mais peso e graça que a alternativa mais usada atualmente, o caro CGI.
Sweet Tooth é uma fábula no tradicional, e melhor sentido, da palavra. Uma alegoria rica, complexa e doce, com lições a transmitir e discussões a estimular. Além disso, é divertida, carismática, bem construída e extremamente doce. E claro, tem um final em aberto que nos deixa ansiosos por uma segunda temporada.
Sweet Tooth tem oito episódios com cerca de uma gora cada, todos já disponíveis na Netflix.