Paul Thomas Anderson é um diretor extremamente talentoso. Quanto a isto não há discussão. No entanto, seus últimos dois filmes, apesar de ótimos, estão longe de ser excepcionais como as suas três maiores obras: Boogie Nights (1997), Magnólia (1999) e Sangue Negro (There will be blood, 2008). Este último filme será o comentado aqui hoje.

O que ele tem de bom? Absolutamente tudo! Mas vamos como Jack Estripador: por partes.



Roteiro e personagens: PTA não faz filmes simples ou fáceis. Nunca! O roteiro de There Will Be Blood é muito complexo, assim como os principais personagens da película. Estes talvez cheguem a ser, de certa forma, indecifráveis. A história, que acompanha a trajetória de Daniel Plainview, de garimpeiro miserável a magnata do petróleo, traz uma conotação acerca da formação das raízes dos Estados Unidos da América. Os pilares que construíram a maior potência global estão aqui: ganância, petróleo e religião. Plainview é um homem ganancioso, insidioso, colérico. Como ele se define, é "um homem do petróleo". Alerta de spoiler: a cena em que ele diz para o seu suposto irmão (um dos pouquíssimos momentos no filme em que o personagem se "abre" emocionalmente) que vê o lado ruim das pessoas e que as odeia, bem como que pretende ganhar sempre mais dinheiro, para se afastar de todo mundo, além de extraordinária, denota um grande estudo de personagem. Outra coisa: por que o personagem protagonista da película apresenta uma negação a Deus, passando até para o campo da aversão? Para mim, Plainview tem tanta sede de poder que não suporta a ideia de alguém Todo-Poderoso. Falemos acerca da outra figura chave em Sangue Negro: Eli Sunday. O pastor local é o típico líder carismático e sem caráter de uma cidadezinha, munido de uma grande ambição (principalmente a do sucesso e poder eclesiástico) e de um forte poder de manipulação. Além disso, o personagem ainda tem sérios problemas psíquicos (o que torna o personagem ainda mais interessante). O embate entre Eli e Daniel é o grande combustível para o estouro que é esse filme!

Fotografia: a cinematografia de Sangue Negro, ao meu ver, é uma das melhores da história do Cinema. O diretor de fotografia Robert Elswit, grande parceiro do PTA, se superou desta vez. Os quadros capturados daquela paisagem inóspita e linda, são absolutamente fabulosos. 

Trilha sonora: o filme aqui comentado também possui uma das melhores trilhas de todos os tempos. Eu sei que parece exagero estar sempre falando que isso ou aquilo são os melhores e coisa e tal, mas acredite: estamos a tratar de uma das maiores obras artísticas da humanidade. Voltando à trilha sonora, é importante dizer que o guitarrista da banda Radiohead fez um trabalho estupendo em Sangue Negro! À base de violino, violoncelo e percussão, a música da projeção é estranhíssima, dissonante, e combina perfeitamente com a crueza da temática, com a inquietude do protagonista e com o próprio espírito do filme. 

Direção de Arte: a essa altura está mais do que provado que PTA sabe, como pouquíssimos, nos transportar para uma época passada nos EUA. Lindos figurino, locações e maquiagem. 

Atuações: todo elenco manda bem aqui, mas é importante frisar o quanto as estrelas do filme arrebentam em Sangue Negro. Daniel Day Lewis, um dos melhores atores de todos os tempos, nos brinda com a provável melhor performance de sua carreira. Ele mais uma vez some no personagem, destruindo tudo através de sua voz, gestos e expressões faciais. Um arraso! O Paul Dano também está excelente e consegue segurar a onda do Day Lewis. Está mais que comprovado que ele interpreta muito bem personagens estranhos e/ou nojentos. 

Direção: PTA dá um show no comando dessa película. Coordena todos os aspectos técnicos com destreza e invejável segurança. Nos transporta para o início do século XX. Seus enquadramentos, movimentos de câmera e planos-sequências são de cair o queixo! 

Conclusão:

Sangue Negro, em minha opinião, é a melhor película da década passada. Foi totalmente injustiçado no Oscar de 2008, ao perder os prêmios de melhor filme, direção e roteuro adaptado. É a melhor projeção de um dos maiores diretores da atualidade. Uma obra-prima imperdível! 

Obs: tem no Netflix.