Jürgen Klopp chegou ao Liverpool no decorrer da última temporada. Sem ter podido ir ao mercado fazer contratações de seu interesse, o alemão foi aos poucos dando sua cara aos Reds. Ao final da campanha de 15-16 já era possível enxergar semelhanças entre a equipe inglesa e o Borussia Dortmund que consagrou o técnico em análise. Todavia, nada melhor do que dispor de tempo para trabalhar e, nesse sentido, podendo contratar, Klopp vai moldando aquele que poderá ser chamado de “Liverpool de Klopp”. As chegadas de Georginio Wijnaldum e Sadio Mané não deixam dúvidas quanto a isso.
Intensidade é possivelmente o adjetivo que melhor descreve o modelo de jogo adotado pelo treinador germânico. Foi assim durante toda sua trajetória no aurinegro do Vale do Ruhr. Recuperação rápida de bola, qualidade no passe para fazer uma transição velocíssima e letalidade à frente da baliza foram as chaves que escancararam as portas da Alemanha e da Europa para o Borussia passar. A técnica para o passe e a feitura de forte pressão contra os adversários se fez presente em jogadores de quase todas as posições, aperfeiçoando a aplicação do famigerado gegenpressing.
Nesse sentido, o holandês Wijnaldum tem demonstrado ao longo de sua carreira grande aptidão para esse estilo de jogo. Por vezes meia ofensivo e em outros turnos volante (como na Copa do Mundo de 2014), o jogador tem impressionante capacidade física, movimenta-se constantemente e mostra competência para fazer o jogo correr, recuperar e dar destinação rápida a bola.
Mesmo em meio ao deserto de idéias que foi o Newcastle na última temporada, o atleta conseguiu aproveitamento de 85% de aproveitamento nos passes – além de 56% em duelos e 71% nas finalizações. O ex-jogador dos Magpies é figura escassa no mercado, justamente por ter um dinamismo muito peculiar e ser incansável, características muito prezadas por Klopp.
“Ele pode jogar em algumas posições para nós, e jogadores que passam pelo sistema holandês usualmente têm bom entendimento tático e flexibilidade. Isso é realmente importante”, disse Klopp após o anúncio da contratação.
Por sua vez, Mané é aquela figura capaz de acelerar o jogo no contragolpe. Se por um lado Wijnaldum será importante para recuperar a bola e começar os contra-ataques, Mané terá vital importância para dar-lhes execução acurada. Sua impressionante velocidade, inteligente movimentação entre linhas e faro de gol, trazem algo que o clube não possuía. Embora a tendência seja vê-lo pelas pontas, é possível até mesmo imaginá-lo como referência, à Aubameyang. Klopp já havia tentado sua contratação para o Borussia Dortmund.
“Eu tenho acompanhado Sadio por muitos anos, desde seu desempenho impressionante nos Jogos Olímpicos de 2012 (...) Desde que cheguei aqui [ao Liverpool] tenho conversado muito com meu staff sobre ele e sempre senti que ele seria uma boa contratação para nós. Ele tem muitas qualidades, trabalha muito duro e tem um histórico muito bom de gols marcados”, revelou Klopp ao anunciar o senegalês como reforço.
A despeito de terem chegado por valores exorbitantes (€27,5M para o meia e €41,2M para o atacante), são contratações que fazem sentido. E mais: conhecem as exigências físicas da Premier League. Os novos contratados dos Reds são apostas apenas na medida em que qualquer outra contratação o são, constituindo negócios muito bem pinçados em um mercado competitivo e que trabalha com valores que ultrapassaram o limite do razoável há tempos.
Quem mais deve ganhar com isso é Philippe Coutinho, que não mais terá a pesada responsabilidade de criar sozinho a maior parte das jogadas do Liverpool. Com melhores companheiros, terá mais tempo para se adaptar ao estilo de fortíssima pressão desejado por Klopp. O processo é difícil, mas não impossível, uma vez que jogadores com Marco Reus e Mario Götze, criativos em essência, conseguiram. Aos poucos, o alemão vai modelando seu time, dando a sua cara. Se as almas de clube e treinador casaram imediatamente, com o suor do trabalho, seus corpos ao poucos também vão se integrando.
