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França 94: com Cantona e Papin, fora da Copa do Mundo

O futebol francês sempre teve tradição. Desde os anos 50, com a geração de Raymond Kopa e Just Fontaine e os times vitoriosos de Nice e Stade de Reims, foi se construindo uma identidade. Adiante, somaram-se o sucesso do Saint-Étienne e o surgimento da geração de Michel Platini, que, enfim, começou a consolidar o jeito de jogar de Les Bleus, com a miscigenação passando a aparecer, iconizada na figura de Jean Tigana. Foi na sequência desse período que surgiu um novo grupo de talentos, o projeto do time que conquistaria o Mundial de 1998. Contudo, ainda que contasse com uma base forte e dois craques de indiscutível capacidade, a equipe pereceu às vésperas da Copa do Mundo de 1994 e não foi aos Estados Unidos da América.



Depois de viver um período muito produtivo na década de 80, conquistando a Euro de 1984 e terminando as Copas do Mundo de 1982 e 1986 em quarto e terceiro lugares, respectivamente, a França não se classificou para o Mundial de 1990 e parou apenas na Fase de Grupos da Euro 92. Ainda assim, havia motivos para otimismo com relação ao retorno às disputas mundiais, o qual poderia acontecer em 1994. Isso porque, polêmica de lado, o país havia conquistado seu primeiro título europeu de clubes na temporada 1992/93, por meio do Olympique de Marseille, que era, naquele momento, a base de Les Bleus.

Acrescente-se a isso o fato de que o país havia emplacado, em 1991, o terceiro Bola de Ouro de sua história. Depois de Kopa e Platini, Jean-Pierre Papin fora eleito o melhor jogador europeu daquele ano e, ao lado de outro talento indiscutível (porém explosivo e temperamental), Eric Cantona, comandava o ataque francês. No entanto, nada disso bastou para levar o país à América. Isso porque, campanha fraca a parte (a Suécia se classificou como primeira colocada do grupo), outro jogador de grande classe, David Ginola, entregou bola fácil no apagar das luzes do jogo mais importante das Eliminatórias Europeias e a Bulgária, de Hristo Stoichkov e Emil Kostadinov (dentre outros nomes destacáveis), tomou, com sucesso, a vaga gaulesa.

O contexto dessa derrota, não obstante, já não era dos melhores. A França perdera em casa para Israel e se complicara. Ainda assim, decidiria em casa, no Parc des Princes. Como ainda hoje é costumeiro, havia se desenhado cenário de terra arrasada após a partida contra os israelenses; para muitos, já ali deveria ter sido destituído o treinador Gerard Houllier. Ele permaneceu até o final, tendo sido amplamente indicado como um dos maiores responsáveis pela decepção que se viu.

A França precisava de apenas um ponto nas duas últimas partidas que faria. Ambos os jogos eram em casa, contra Israel e Bulgária. O time contava com a base de uma equipe que fora campeã europeia, além de outros dois craques de indubitável classe. Nada parecia capaz de aplacar a classificação para a competição que levaria, enfim, soccer de alto nível aos EUA. Porém, veio o primeiro revés contra a Seleção Israelense. Ainda assim, a conquista de um ponto em casa, seguia sendo um objetivo plenamente crível. Essa impressão só ficou reforçada quando Cantona, assistido por Papin, colocou Les Bleus em vantagem no placar contra os búlgaros.

Entretanto, Kostadinov empatou o encontro de cabeça. O jogo se encaminhou para a classificação francesa, uma vez alcançado o minuto 90. Os gauleses tinham a posse da bola próxima à linha de fundo de seu lado direito. E foi aí que entrou o personagem Ginola. Reserva que havia ingressado na vaga de Papin, o habilidoso atacante cruzou bola despretensiosa na área búlgara, livrando-se dela. No contragolpe, a Bulgária foi perfeita e fatal, e o esférico terminou novamente em Kostadinov, que, dessa vez, fuzilou, impiedosamente o goleiro Bernard Lama.

Stoichkov definiu com perfeição o ocorrido, em entrevista concedida ao Guardian:

“Os franceses estavam tão amedrontados que jogaram travados. Sabíamos que eles viriam assim e baseamos nossa tática nisso. Eles jogaram por um empate e nunca buscaram a vitória. Eles não mereceram a classificação e nós os atingimos onde mais dói”.



O craque búlgara falava do orgulho nacional. A França caiu. Houllier caiu. Cantona perdeu a oportunidade de disputar um Mundial. Papin, que estivera na Copa do Mundo do México, em 1986,  e era o capitão de então, desperdiçou a chance de ser protagonista na maior competição do futebol. A crise do futebol francês nasceu e foi consumada com a investigação e punição ao Olympique de Marseille. 

Aimé Jacquet, o auxiliar técnico, assumiu Les Bleus, suportou enormes dificuldades e preparou o terreno para o título de 1998. Apostou em um grupo que ficou conhecido como a Génération black, blanc, beur (geração negra, branca e árabe). Escolheu a figura de Zinedine Zidane - que em diversas ocasiões teve seu comprometimento com a causa francesa questionado, em razão de sua origem argelina - como o centro de seu jogo. Venceu. Não sem antes viver enormes dificuldades e ser questionado por suas escolhas (inclusive, sofrendo críticas com viés racista).

Alguns nomes chegaram até 98, como os de Laurent Blanc, Marcel Desailly ou de Didier Deschamps. Outros ficaram pelo caminho, eternamente marcados pelo fracasso de 93. Ainda hoje, quando se pensa em seleções em que se apostava muito e que não cumpriram com as expectativas, essa equipe francesa aparece. Não é para menos: tratava-se de um time de alta qualidade, com grandes craques em bom momento e uma tarefa fácil: tirar um ponto em casa, ou de Israel ou de Bulgária. Falhou.



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