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O sistema monetário internacional através da lente do protesto social


(Language: Portuguese).


Entre as bordas muitas vezes difusas e muito complexas entre as quais encontramos  dia a dia as políticas e reestruturações do Fundo Monetário Internacional ou das  diversas instituições do Banco Mundial, raramente encontramos freios sociais ou resistências ou protestos de grande peso e importância que logrem diminuir consideravelmente ou reverter algumas dessas políticas e reestruturações. Agora bem, sobre o protesto social, possamos dizer que em um cenário envolto em uma complexa rede de lutas e tensões entre grupos ou no plano comum do cotidiano e a normalidade, existe uma série de armações, idéias ou contextos pelos quais um protesto social hoje pode ser aceito ou rejeitado ou mesmo criminalizado. Da mesma forma, existem entidades, grupos, discursos e instituições sobre os quais é preferível para muitos fazer recair um protesto, como por exemplo um governo local ou um determinado decreto. A partir daí, no presente texto eu vou falar brevemente sobre os Acordos de Bretton Woods de 1944 e de como muitos protestos tem mantido uma "causa invisível" contra tais acordos, ou contra acordos similares, mesmo sem que os atores participantes hajam estado plenamente conscientes disso. Uma "causa invisível", de fato, em contra de certos padrões e esquemas estruturais que mantêm e reproduzem a cada dia fortes desigualdades.

O protesto social como cenário necessário de pulsões institucionalizadas e de pulsões muito mais transgressoras e espontâneas

Um mundo globalizado e com uma desigual hierarquização produtiva e financeira internacional, é um mundo que tende a reconhecer o direito básico do protesto social, enquanto o reprime, o faz complexo e muitas vezes  também o criminaliza. O protesto social, de fato, tem essa ambivalência, esse entendimento duplo e antagônico. O protesto social, por outro lado, tem sido desde os inícios da civilização a máxima expressão de descontentamento e de resistência ea sua força transformadora tem sido motor de mudanças realmente únicas e significativas. No entanto, hoje vivemos em um mundo com uma dominação não só de tipo vertical, mas horizontal (Tedesco: 2012), um mundo com diferentes tipos de capital e estruturas de poder, no entanto, os aspectos, ou melhor, os entes específicos contra os quais muitas vezes devemos protestar, ja sejam elos de natureza física ou discursiva, ja não são, afinal de contas, tão facilmente identificáveis como nos dias de idade.

Acontece então, desta forma, na esfera continuamente dinâmica do social, algo muito semelhante ao que Vanessa Bravo (2012) afirma que acontece com a rede e a informação digital, isto é, que existem nodos, os quais, independentemente da sua localização geográfica, estão interligados através de uma infinidade de passos e relevoa. Assim, a informação viaja através dos diferentes nodos sem estabelecer distribuições hierárquicas verticais a priori, e quando isso acontece, está o problema mencionado linhas atrás dos relevos. Por esse motivo, o poder é dispersado sob a forma de redes que se interligam e são relevadas, por isso às vezes é difícil identificar a entidade estrutural específica frente a qual devemos realizar um determinado protesto, o qual, é necessário dizer, é a expressão do descontentamento em um mundo caracterizado pela desigualdade nos sistemas produtivos, no jurídico  e até mesmo no cultural e educativol. Além disso, não podemos esquecer o que diz David Garcia Casado (2010), que a resistência social em nossas sociedades foi homogeneizada e perdeu muita  potência por causa das novas e mais sutis formas de repressão do mundo de hoje, caracterizadas não por a usurpação ou violação direta dos direitos fundamentais dos indivíduos, mas por a contenção e homogeneização das suas paixões.

Por outro lado, parece ser uma tendência do mundo contemporâneo, e dentro da esfera de opinião e de deliberação pública, identificar certas idéias e problemas estruturais com o modo de ser, os erros e experiências de uma pessoa em específico. Assim, se a motivação para o protesto é a pobreza ou algúm programa público ou social, o mais provavel é que ocurra um protesto contra um prefeito em particular e não contra as mesmas situações estruturais ou os entes mais grandes e gerais que promovam tais situações. De essa mesma forma, muitas pessoas identificam certas idéias e também uma grande quantidade de preconceitos com grupos bastante específicos, identificam por exemplo as idéias marxistas com ideias de coerção ou negação da liberdade, mesmo sem ter revisto nem um pouco a análise social detalhada eo grupo de conceitos amplamente trabalhados e interligados que podemos encontrar em obras de grande peso e profundidade como as de Marx.

Mas a situação vai além disso. Hoje nas redes sociais como o Facebook, por exemplo, a tendência parece ser não falar em forma crítica dos partidos políticos e os seus programas, mas, ao contrário, dos próprios políticos em específico. Assim, se desenrola diante deles,é dizer, diante os políticos, uma grande quantidade de preconceitos e idéias semelhantes, clara sinal, sem dúvida, de que a "sociedade do espetáculo", tem permeado a maneira em que nós resistimos frente aos nodos biopolíticos e as estruturas de poder mais opressivas. De fato, muitas pessoas e grupos fazem dos protestos um espetáculo, dessa forma, fazer valer os direitos mais fundamentais, algo em si bastante clássico, está começando a parecer um pouco monótono e repetitivo. Assim este assunto, o cenário mais escuro é o de que toda sociedade que tende culturalmente adesprezar a defesa dos direitos mais fundamentais, estará condenada sem dúvida a que eles sejam constantemente trasgredidos. Claro, defender os direitos como a honra, o trabalho, o bom nome, e o mesmo direito de greve, deve ser essencial não só dentro do espaço legal e da evolução constitucional, mas também dentro da mesma esfera cultural.
Neste sentido, algumas das soluções em forma de proposta frente à complexidade do acima, seriam, primeiro, na medida do possível, levar o protesto e a resistência a factores ou enclaves discursivos muito mais estruturais, factores ou enclaves que se mudassem em verdade mudaria com isso um certo estado de coisas desiguais. Neste texto, vou mencionar, portanto, como um exemplo, os Acordos de Bretton Woods de 1944, os quais estabelecem e regulam condições estruturais no mundo muito específicas, umas situações relacionadas com o chamado "sistema financeiro internacional".
No entanto, deve notar-se antes um aspecto importante sobre a ambivalência dos protestos de hoje. Por um lado, diz-se que os direitos coletivos, tais como a liberdade de circulação não podem ser pisoteados pelos protestos, então partindo dali, os governos frequentemente, na actualidade, transferem a responsabilidade dos protestos aos cidadãos que realizam tais práticas (Personería de Medellín: 2011). Por outro lado, o apoio dos governos não necessariamente está hoje com os grupos oprimidos que protestam, não há que esquecer que hoje em dia a legalidade e as leis são manipuladas ou instrumentalizadas por os grupos mai poderosos (Barbero: 2010), uma prática bastante comum. Obviamente, os protestos devem sempre tentar respeitar os direitos dos outros, isso é algo fundamental, mas, no entanto, o tentar organizar e institucionalizar as suas diferentes facetas, é de algúm modo subtrair-lhes força e, por outro lado, fazer difusos tanto o ente da responsabilidade social do mesmo protesto e o ente frente ao qual é dirigido o protesto em questão.
Sobre os Acordos de Bretton Woods de 1944, e a oposição ao sistema
Entre 1 e 22 de Julho de 1944, é dizer, no final da Segunda Guerra Mundial, foi realizado na famosa e elegante resort de Bretton Woods, uma reunião que reestruturaria a economia mundial. Nessa reunião, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial foram criados, e, da mesma forma, o dólar foi adotado como o padroeiro de mudança principal do  planeta no domínio monetário e financeiro. Assim, o governo dos EUA, que nessa reunião teve praticamente todos os poderes de tomada de decisão para impor facilmente qualquer ideia, impôs a sua moeda e, portanto, toda uma visãoe  divisão da economia global. A reunião em si é pouco analisada dentro da historiografia e as ciências sociais, por causa de que os eventos militares e as ideologias em disputa durante a Segunda Guerra Mundial tendem, em geral, a roubar toda a atenção da época.

O fato é que é um pouco desconhecido que nessa reunião foram analisados dois pontos de vista diferentes. Um deles foi o que, eventualmente, triunfou, que foi a proposta de Harry Dexter White. É dizer, a proposta de substituir o padrão ouro por o dólar, equilibrando, assim, todo o mundo a favor dos Estados Unidos, no momento centro indiscutível de grande parte da indústria global. A outra, a nosso conhecimento, foi a proposta desenhada por John Maynard Keynes. Esta última incluia a criação de uma organização de compensação internacional, a qual seria responsável dela emissão de uma moeda internacional (O Bancor), através da qual os países superavitários financiariam os países deficitários. Esta última opção, em princípio, poderia ser muito mais justa e equitativa. Uma proposta que poderia ter evitado a profunda diferenciação financeira e produção internacional que existe hoje. Claro, hoje é conhecido que inclinar as políticas financeiras internacionais para uma determinada moeda favorece que os investimentos e em geral o forte econômico seja concentrado em um lugar muito específico, fazendo com isto que exista uma periferia mundial com pouca vantagem competitiva.
A partir do exposto, nunca poderia, portanto, ser uma medida de solução para o problema da periferia, inclinar o sistema financeiro hacia uma nova moeda, como o Yuan chinês, não devemos esquecer que a economia chinesa é hoje em dia muito forte, que recentemente tem feito grandes empréstimos para países latino-americanos, e, de acordo com especialistas na área como Michael Snyder (RT: 2015), a China não tem planos para viver em um mundo dominado pelo dólar muito tempo. No entanto, ter o Yuan ou outra moeda como o principal só criaria uma nova periferia e, portanto, novas desigualdades. Na minha opinião, uma medida econômica como a que era contemplada por Keynes era muito mais solidária e cooperativa, no entanto, acabou impondo-se o modelo americano acima mencionado.

Não há nenhum âmbito hoje que seja tão controlado e tão restrito pelos países mais poderosos, como o âmbito financeiro. O dólar nem sequer precisa hoje que Estados Unidos possua uma grande reserva de ouro, simplesmente funciona como um padrão internacional pela mesma confiança que é suposto que a moeda fornece. E esse panorama reestrutura o mundo, como já tem sido mencionado linhas  atrás, criando assim, uma periferia. Dessa forma, se a maior parte dos protestos é devido à pobreza e à desigualdade nos países da periferia, então, muitos destes protestos possuem o que poderia ser chamado de uma "causa invisível", ou pelo menos não explícita, em contra de acordos que reestruturam a economia mundial como os de Bretton Woods de 1944.

Talvez com o tempo, podam existir movimentos sociais contra os principais fatores estruturais e contra algumas das políticas dos grandes organismos supranacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que por ser supranacional, são daqueles organismos que são difíceis de identificar por o descontentamento da opinião pública. Os movimentos sociais parecem ser o futuro, mas parece que os grandes órgãos de poder já começam a organizar e institucionalizar as suas facetas para que as tecnologias de poder possam, a qualquer momento controlá-los no possível. No entanto, muitos movimentos sociais terão sempre uma dinâmica humana bastante . espontânea. Não devemos esquecer em relação com isto o que Matias Aretze (2011)  nos diz citando a Shuster:

 

Assim, os novos movimentos sociais são caracterizados por a espontaneidade e metas de mobilização que compõem "novos problemas", como de gênero, direitos humanos, ecologia e assim por diante. O foco da análise é plotada no conformação particular de identidades através de envolvimento pessoal e emocional, se constituem organizações -identidades coletivas- com alguma continuidade no tempo e extensão no espaço (Schuster, 2005: 48). Além disso, a escola americana retoma ações de protesto coletivo.







Termino dizendo que este texto não pretende chamar a protestos ou colocá-los acima da importância do ordem público, mas para identificar a importância que estes tem e devem ter atualmente e o papel desempenhado a o longo da história.  Também sobre o fato de que os protestos possam transformar-se sem perder o poder e a força capaz de mudar a sociedade, que possam ser capazes de identificar os principais fatores estruturais e mobilizar a população oprimida. A sociedade e a civilização em si são muito complexas e sempre existirá, portanto, apesar das grandes conquistas que hoje temos, algo que pode ser mudado, algo, no entanto pequeno ou grande que seja, que possa ser mudado para um maior bem-estar para todos.



Bibliografia:

Aretse, M. (2011) Las acciones colectivas de protesta y el conflicto social en la Argentina de 1990: Apuntes sobre sus caracterizaciones. Sociohistórica (28), 107-129. En Memoria Académica.

Barbero González, Iker, (2010), Hacia modelos alternativos de ciudadanía: Una análisis socio-jurídico del movimiento Sinpapales. Tesis Doctoral Europea 2010, Universidad del País Vasco.

Bravo Nieto, Vanesa (2012), “¿Seguridad o control en la red?: un análisis del ejercicio del poder y la resistencia en los entornos virtuales a través de los medios de comunicación”. Vol. 6 (1) 2012 [ ISSN 1887 – 3898 ] Intersticios: Revista Sociológica de Pensamiento Crítico: http://www.intersticios.es 145-163.

García Casado, David (2010). La resistencia no es modelo sino devenir. Crítica de lo radical contemporáneo. Revista Estudios Visuales.

Personería de Medellín (2011). PROTESTA SOCIAL: ENTRE DERECHO Y DELITO*. Revista Kavilando. V2 Nº 2 Jul- Dic 2010 P. 113 P. 212 ISSN: 2027-2391 Medellín-Colombia.

Tedesco, Juan Carlos (2003), “Los pilares de la educación del futuro”. Debates de educación, Barcelona, Fundación Jaume Bofill, Universitat Oberta de Catalunya, 2003 [http://bit.ly/XIIAb0], fecha de consulta: 12 de diciembre de 2012.


Referências da Internet:

Wikipedia: Acuerdos de Brretton Woods: http://es.wikipedia.org/wiki/Acuerdos_de_Bretton_Woods.

RT: (2015). China: Todo listo para dar jaque mate al dólar y establecer una nueva moneda mundial.http://actualidad.rt.com/economia/168148-china-dolar-eeuu-moneda-mundial.

Originalmente publicado em espanhol em: http://ssociologos.com/2015/03/13/el-sistema-monetario-internacional-bajo-el-lente-de-la-protesta-social/

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