Distinguido com o prémio Artur Agostinho, galardão que recompensa mérito, trabalho e êxitos, o técnico do Tetracampeão aborda e desenvolve mais de 20 temas, frisando a determinação com que a Equipa benfiquista entra em 2018 para conquistar mais um título nacional e alcançar o histórico Pentacampeonato: "Vamos lutar pelo que é nosso."

Numa fase inicial, as coisas correram muito bem. E acabaram na parte final por não ser aquilo que queríamos. Mas a verdade é que, do ponto de vista dos títulos, conquistámos três. Nesse sentido, é uma nota positiva. Infelizmente, muitas vezes é a última imagem que fica, mas olhando para o ano civil, foi muito bom para o Benfica e para mim. Por isso, daria uma nota francamente positiva.

O mais alto foi obviamente a conquista do Tetra, numa luta difícil que tivemos. Um campeonato novamente muito difícil, mas no qual todos nos envolvemos. O Tetra ficará na minha história e também na do Benfica, o que é gratificante. O momento mais negativo, ou difícil, foi aquela noite de Basileia, apesar de não olhar para os momentos com muita profundidade, sejam eles positivos ou negativos. A verdade é que não foi um momento bom e talvez tenha sido o mais triste.

Não tenho bem essa noção, nem consigo colocar-me nesse papel. As coisas são como são e creio que aquilo que temos vindo a conquistar no Benfica, acima de tudo o Tetra (se não se fizesse o Tetra agora, dificilmente se faria em breve), foi um momento único. E isso justifica muito. Não creio que os adeptos dessem o prémio ao treinador ou ao jogador A ou B. O símbolo maior do Tetra é o nosso presidente. É ele que personifica tudo. Por isso, creio que o presidente seria o mais indicado.

Sim, faria. Porque quando tomo as decisões é em consciência. É muito difícil arrepender-me do que faço, porque consigo situar-me naquele momento e dizer que fiz as coisas em consciência, para o bem e para o mal. O passado serve apenas como referência. Os aspetos bons servem para querermos repeti-los. Os maus servem de ensinamento. Por isso creio que faria tudo na mesma.

É um sabor amargo, porque queremos sempre vencer. E quando somos eliminados da Taça de Portugal já não podemos ganhar aquilo que conquistámos antes. Daí um sentimento de tristeza. Por outro lado, há um sentimento de renovação de objetivos, de olhar para a frente e para o que temos de fazer e corrigir. A minha perspetiva de vida não é de lamentar o que passou. Claro que ficamos tristes, temos a noção das consequências e percebemos o contexto, mas estes momentos servem para partirmos para novas conquistas. A minha carreira foi feita à base de insucessos...

Felizmente, têm sido muitos mais os sucessos. Mas quando digo isto é no sentido de que são os insucessos que nos levam a refletir melhor, a repensar, a estar preocupados com mais um ou outro pormenor... Muitas das nossas conquistas, e particularmente as minhas, foram porque os momentos de insucesso serviram de aprendizagem. Vejo as coisas assim. Claro que o adepto normal pode não ver assim e todos nós ficamos tristes. Mas há um momento em que temos de levantar a cabeça para olhar em frente, porque há novos horizontes para procurar.

Queremos catalogar logo um treinador ou uma equipa de forma imediata e redutora no tempo. Percebo que a nossa sociedade seja de consumo rápido e o que é comentado hoje, passados dois ou três dias já não interessa. A leitura que faço é que essa foi, de facto, uma fase difícil, mas que iria passar, pois as coisas não se mantêm eternamente no mesmo estado. No que diz respeito à nossa postura contra as equipas mais fortes, numa fase inicial era também a entrada de um novo treinador. Qual é a postura dele neste tipo de jogos? Que relação fomos estabelecendo com os Jogadores para perceber também a posição de cada um? Até que houve um momento em que todos nós entendemos a forma que tínhamos de disputar esses jogos.

A mobilização e o foco eram enormes. Cada um desses jogos foi preparado com uma realidade distinta. Jogar fora ou em casa; jogar à frente ou atrás na classificação; ter de ir ganhar ou ter de não perder... E em função de cada jogo tomámos as melhores estratégias. O perder pontos com equipas teoricamente mais fracas... Não há equipa no mundo que não perca pontos com alguém. E isto mostra que nunca sabemos qual é o jogo mais difícil. O que me interessa ganhar um jogo contra um chamado grande, se a seguir perdemos pontos contra outra equipa qualquer? Da mesma forma que no primeiro ano foi o contrário. Era, de facto, o campeonato dos grandes. Mas batemos o recorde, somando pontos nos outros jogos todos. Cada campeonato tem uma realidade diferente e todos os jogos são decisivos para nós. Esse é um dado estatístico ao qual não dou grande relevância. Claro que sentimos satisfação quando também temos pontos e vitórias nesse jogos grandes, mas importante é somar mais pontos no final, porque a história dos campeonatos é feita disso.

Dizer que não temos nada a provar é o pior que se pode fazer. E digo isto de forma convicta. Quando algum jogador ou treinador diz que não tem mais nada a provar, isso não entra na minha cabeça. Primeiro, porque já não se pode fazer nada ao que conquistámos. Depois, porque quem anda nesta vida tem sempre de ter ambição. E a ambição é diária, constante. E um facto que, desde que chegámos, vencemos todas as provas nacionais. Mas isso só me leva para um caminho: ir à procura de novas vitórias e de fazer mais, ganhar mais troféus. Não propriamente para mim, porque estou em qualquer equipa como objetivo de ganhar títulos e fazer o melhor possível.

É, de facto, difícil. Não tanto pelo apuramento. Nos últimos dez anos, salvo erro, o Benfica passou três vezes à fase de grupos e duas delas foi connosco. Se fosse algo tradicionalmente normal, o Benfica teria seguido em frente mais vezes. É difícil passar da fase de grupos. Nós conseguimos duas vezes. Desta vez não deu. Gostava muito, mas a verdade é que não foi possível. Nesta nossa prestação na Liga dos Campeões criou-se uma espiral negativa da qual foi difícil sair.

No primeiro jogo tivemos um desempenho positivo e acabámos por perder. Depois, jogámos as fichas todas no jogo da Suíça e acreditava que poderíamos mesmo vencer em Basileia. O que aconteceu, afinal, foi aquela noite negra. E a seguir "virámos" o grupo contra a equipa mais forte, com dois jogos frente ao United. Foi uma série de circunstâncias que levaram a isto. Estou até convencido - e as pessoas não gostam muito de ouvir isto - de que se tivéssemos mais jogos teríamos na mesma muitas dificuldades em passar esta fase. Às vezes, é melhor pensar: "Ok, terminámos este ciclo, vamos atacar um novo".

Fica tristeza, mas não ficam marcas. Porque depois há o sentimento de grande satisfação dos dois anos anteriores. E muitos jogadores são os mesmos. Tivemos agora esta fase de grupos muito negativa, mas também olhamos para trás e sabemos que conseguimos fazer coisas boas. Até tivemos um percurso curioso, em que viemos de jogos da Liga dos Campeões que não correram bem e depois - se calhar quando a tendência das equipas é afundarem-se - demos sempre uma resposta positiva. Acaba por ser curioso. É evidente que mexe com as equipas, mas não é algo que nos leve agora a ficarmos todos traumatizados. Temos esta mensagem constante de superação, de ir sempre em busca de novas conquistas, de virar a página o mais rapidamente possível, apesar de não varrermos o pó para debaixo do tapete, atenção! Não é isso que fazemos. Mas ir à procura de novas conquistas é o que nos motiva todos os dias. Isto é o que deve acontecer em qualquer clube, mas mais ainda quando se está no Benfica.

O campeonato é algo que sempre quisemos. É verdade que gostaria de estar em mais provas, porque nos anos anteriores estivemos em mais competições e não foi por isso que deixámos de ser campeões nacionais. Este é um foco que temos: o campeonato. É a prova em que estamos envolvidos e vamos agarrar-nos a ela como em todas as outras. E ninguém pode dizer nada dos outros campeonatos, porque foram muito disputados, muito difíceis até final, e connosco sempre a dar resposta em várias competições. Agora, sabemos que vai ser novamente muito disputado até ao fim, mas vamos estar preparados para o que aí vem. E vamos lutar por aquilo que é nosso com muita convicção. Mas não passa agora a ser mais ou menos obrigatório. Claro que a análise das pessoas é muito factual e de dia a dia. Neste momento, a sensação é de tristeza pelas outras provas em que não tivemos sucesso, mas vamos por este com muita determinação.

A minha mensagem teve um destino generalizado, porque criou-se a ideia de que, quando fôssemos ao Dragão, sairíamos a oito pontos e estaríamos arredados do título. Achou-se que o Benfica ficaria fora do título a meio da prova. Não foi o que aconteceu e, nessa altura, essa foi claramente uma mensagem para dentro - para nós, jogadores e grupo - e também para fora: 'Calma, que estamos vivos'. Chegámos ao Dragão e fizemos uma primeira parte muito bem conseguida, com uma personalidade enorme, quando até à data tinha sido difícil jogar no Dragão. Depois, houve uma segunda parte melhor por parte do FC Porto, mas saímos de lá dentro do campeonato e a fazer o que temos feito. Vamos disputá-lo até ao limite. Já estivemos atrás, já andámos à frente… É um campeonato igual aos outros.

Vamos tomar as decisões que entendemos serem as mais indicadas para esta fase, mas deixando já isto bem claro: jogadores que possam entrar, serão sempre jogadores para acrescentar valor à equipa. Não vou buscar qualquer jogador só porque é quase moda ir buscar jogadores em janeiro ou porque se diz que é preciso ir buscar. Isso tem de ser muito bem analisado e é isso que estamos a fazer. Se houver um jogador que entendamos que, do ponto de vista prático, é melhor do que os que estão a jogar regularmente, poderá ser um alvo a equacionar.

Terá de ser mais cirúrgico, sim. Não farei nada só porque alguém diz que é preciso fazer isso ou porque os outros vão contratar. Vamos fazer contratações apenas se entendermos que determinado jogador, ao qual possamos chegar, pode acrescentar algo à equipa. Porque o mercado de janeiro tem uma percentagem mínima de aproveitamento em termos de positivo. De forma genérica, em cada dez há dois ou três que resultam bem.

Não sou treinador de imediatismos. Vejo as coisas além disto. Não estamos aqui a jogar só para um jogo. Faltam 19 batalhas e temos de nos preparar bem para elas. Vamos ao mercado se tivermos de ir, independentemente do resultado do dérbi. Vamos ver o que precisamos para terminar a época bem. É evidente que, neste mês de janeiro, haverá competição, mas isso faz parte. Não estamos preocupados com este ou aquele jogo. Se não tivermos alguém que venha acrescentar... não se acrescenta.

Não vou estar aqui a falar nisso, porque tenho um grupo de jogadores e respeito-os ao máximo. Não vou dizer o que o Benfica precisa. Ultimamente, então, lemos sobre prendas no sapatinho, ou porque se quer três ou cinco reforços, ou porque há mais ou menos milhões. Eu não penso assim. Os reforços do Benfica nos últimos anos têm vindo de dentro e vamos pensar isto com cabeça fria, com cautela. Temos soluções internas. Temos de ajustar, mas apenas se sentirmos que um ou outro jogador aparece no mercado e pode vir acrescentar valor. Mas não vou dizer concretamente do que precisamos.

É possível, acredito que sim. Mas se houvesse no mercado muitos jogadores com o perfil desses mais jovens que saíram, não vinham contratar aqui. E isto quer dizer que não é fácil substituir essas pedras. Temos de ir à procura de outra forma de montar uma equipa. E a nossa perspetiva foi a de saber que tínhamos em casa jogadores para substituir um ou dois. Depois, acreditar que o crescimento de outros ao longo da época poderia vir a suprir lacunas. Por isso, nunca tivemos a visão de encontrar um reforço só porque saiu um jogador.

Olhámos para a formação da equipa de outra maneira. Vou concretizar. Para lateral-direito, tínhamos o André Almeida, que no ano anterior até tinha jogado mais do que o Nélson Semedo. Para centrais, tínhamos um Jardel que acreditávamos que, nesta época, iria estar ainda melhor, porque as lesões não o iriam apoquentar dois anos seguidos. Era um jogador que estaria em condições de dar resposta. Ou seja, colmatávamos logo, de certa forma, a saída do Lindelöf. Na baliza, tínhamos o Júlio César, que era um guarda-redes valiosíssimo. Tínhamos era um Ederson, que é de topo mundial. O Júlio também é, mas já com uma idade diferente. De qualquer forma, acreditávamos que o Júlio poderia fazer perfeitamente esta transição. Na frente, para o lugar do Guedes, temos os alas que agora temos, e a reposição poderia ser de forma mais ou menos natural. Onde é que é pode haver aqui eventualmente alguma desconfiança na formação do plantei? A questão é que estes jogadores não entraram logo a segurar a equipa, a estabilizá-la.

O Júlio César, infelizmente, começou com lesões. O Jardel também. O André Almeida já estava lesionado e nem fez a Emirates Cup. Isto, naturalmente, não deu a estabilidade de que precisávamos para que depois, ao longo do ano, fôssemos acrescentando valor com os novos jogadores que passámos a ter. A fase de adaptação passaria. Reparem: dos jogadores de que falámos que foram vendidos, só um deles começou como titular: o Nélson Semedo. Os outros, não. Ninguém entrou na equipa na fase inicial. O Lindelöf foi a meio, o Ederson foi em Alvalade, o Renato Sanches foi num jogo em Astana , o Guedes começou titular, depois foi irregular e voltou... São jogadores que tiveram um percurso de maturação e só depois se deu a entrada. Era isso que queríamos fazer com estes jovens que temos. No fundo, o plano era este: numa fase inicial ter uma estrutura que segurasse e, depois, a decisão de entrada destes jogadores nunca seria fruto da necessidade, mas sim de uma decisão nossa.

Iríamos pôr um Rúben Dias quando entendêssemos que era a altura certa e não por necessidade. Lançaríamos um Svilar não por necessidade, mas sim por ter feito a sua evolução, por estar pronto a começar. A visão que tivemos foi a de não substituir por substituir. E ainda havia outra agravante: nunca é fácil substituir um jogador com estas características. Quem vem a seguir, normalmente, tem muita dificuldade, porque há sempre uma comparação com quem foi embora. Era preciso passar esta fase e isso fazia-se com jogadores mais seguros. E nós tínhamos isso: André Almeida, Júlio César e Jardel. Na fase inicial, andámos aqui um bocadinho sem essa regularidade que pretendíamos para manter tudo mais estável.

Bom, eu não disse "elevador". Esse foi o termo que vocês, jornalistas, utilizaram na pergunta. Eu falei sempre em "escadas". Esse é que deve ser o termo certo. O "elevador" dá a ideia de ser alguém que os leva para cima. E na realidade ninguém vai levar nenhum jovem para cima. Têm de ser eles a subir!Eles não vão chegar à primeira equipa só porque têm de chegar. Vão chegar - os que chegarem - por mérito próprio. São eles que vão subir e esse caminho faz-se pelas "escadas". Têm muito que trabalhar até chegarem ao patamar mais alto. Nós temos uma série de regras que demonstram claramente a exigência que existe a esse respeito.

Olhe, dou-lhe o caso do Renato Sanches: só começou a equipar-se no balneário da primeira equipa já muitos jogos depois de se ter estreado pela formação principal. O Renato já fazia jogos na Primeira Liga e continuava a equipar-se no balneário da equipa B. Portanto, isto é elucidativo da forma como se trabalha no Benfica. As coisas têm mesmo de ser conquistadas. E com os próximos que vierem vai ser a mesma coisa.

Há um conjunto deles. Mas estar a individualizar é estar já a pôr-lhes um "carimbo" e isso pode não ser bom. Portanto, não vou fazê-lo. As coisas nunca são definitivas em futebol. Está provado que 1+1 nem sempre são 2. Há casos surpreendentes de aceleração e desaceleração no crescimento dos jogadores. Umas vezes começam a aparecer mais depressa do que estava previsto e noutros casos eclipsam-se quando se esperava que explodissem. É preciso entender, nesses casos, as razões que estão subjacentes.

Tenho a certeza de que o Benfica tem uma franja de jogadores de qualidade e que lhe asseguram o futuro. É a minha clara perceção, mas isso também pode ser avaliado com dados estatísticos. Basta olhar para as seleções de Sub-17, Sub-19 ou Sub-21 e ver-se como o Benfica está representado nessas equipas. Há um exercício interessante de fazer: olhar-se dois anos para trás e ver o que faziam nesse tempo um Nélson [Semedo], um Victor [Lindelöf], um Guedes ou mesmo um Renato. A partir daí, e vendo a forma como eles evoluíram, o passo seguinte é ver o talento que temos hoje nos juniores e na equipa B e ter a capacidade de projetar dois anos para a frente.

O talento existe e quando assim é o que importa fazer é criar condições para que ele seja potenciado. Resta-nos, depois disso, manter um enquadramento favorável para que esses jovens jogadores com talento possam chegar à primeira equipa do Benfica. Digo isto sem qualquer pejo: há mesmo um lote de jogadores da formação que vai chegar à equipa principal. Não todos, porque isso não acontece em lado nenhum, mas chegarão vários. Tanto da equipa B, como dos juniores, como até dos juvenis. Digo mais: há determinadas posições que vamos barrar e para as quais não vamos contratar.

A partir do momento em que alguém entra nos juniores passa a estar no meu radar. Porque entra no campeonato da equipa B e ao poder estar na equipa B também pode estar perto de chegar à equipa principal. Logo, eu tenho de estar bem identificado com o trabalho que está a ser feito nos juniores. O primeiro grande crivo é equipa B e juniores. E depois um olhar atento sobre o que se passa nos juvenis e até nos iniciados. Quem olha para aí - e eu olho - fica com a certeza de que o futuro do Benfica está realmente garantido. Não vão todos chegar à equipa principal, como é óbvio. Mas se chegarem dois dos Sub-17 e mais dois dos Sub-19, então isso quererá dizer que se está a trabalhar muito bem.

Sabem que eu não gosto muito desse rótulo de 'treinador de 4x3x3' ou 'treinador de 4x4x2' ou de outra coisa qualquer. Nós hoje temos de ter um conhecimento muito alargado do que são os vários conceitos de cada um dos sistemas e dos modelos de jogo...

Quisemos um sistema de jogo alternativo e temo-lo. Mas isso não quer dizer que tenhamos pensado nisso apenas agora. A realidade é que, nos anos anteriores, existia um sistema que funcionava bem e como tal não existiam razões para fazer grandes mudanças. Tínhamos uma forma de jogar com dois homens no corredor central, à frente da defesa, e sempre nos demos bem assim. Se houvesse necessidade, claro que existiam soluções diferentes.

Pensámos nesta possibilidade do 4x3x3 antes de a época começar, sabendo que a mudança teria de ser gradual. Porque a pré-temporada teve algumas particularidades que aconselhavam isso mesmo. Tínhamos jogadores de férias, outros a competir pelas suas seleções, uns a chegar primeiro do que outros e, ainda por cima, tendo nós uma Supertaça para disputar que se realizou, este ano, mais cedo que era habitual.

Só tivemos os jogadores todos para trabalhar praticamente uma semana antes do primeiro jogo oficial, na Supertaça. O que é que pensámos? Vamos agarrar-nos ao que já sabemos e aos jogadores que já conhecem o nosso modo de funcionar. Fazia todo o sentido arrancar com as bases da época anterior. Fomos ao "disco rígido" e sem grande treino, praticamente de memória, recuperámos aquilo que já sabíamos fazer. Achámos mais seguro agarrar-nos ao que já dava garantias.

O sistema dos dois avançados exige dois médios num excelente momento de forma. Para além de que os dois avançados têm de estar sempre com mentalidade para um determinado tipo de trabalho. Houve um momento em que isso deixou de acontecer e optámos por introduzir um terceiro médio para que a equipa tivesse o equilíbrio que pretendíamos. Essa situação também passava muito pela adaptação de um jogador - o Jonas - que habitualmente jogava em zonas mais baixas.

Passada a ideia à prática, após uma conversa, o que se viu nos primeiros treinos? Jonas a assimilar muito bem o que se queria, a equipa também a adaptar-se bem às características do Jonas e, a partir daí, tomou-se a decisão: vamos alterar o sistema. Os jogadores começaram a sentir-se mais confortáveis; a equipa melhorada a nível defensivo, mais equilibrada, e as situações de golo a aparecerem com alguma facilidade. E o próprio Jonas a fazer até mais golos do que já fazia. Portanto, a razão é esta: só não começámos mais cedo com este sistema pelo simples motivo de que houve tempos diferentes na chegada dos jogadores após as férias. Mas houve ainda outra razão para termos pensado nisto...

O que vem aí atrás, em termos de valores na formação do Benfica, são jogadores muito formatados para o 4x3x3. Portanto, pensando no futuro, isto é o que faz sentido, quanto a mim. Os jogadores que chegarem à equipa principal já irão ter mais facilidade de adaptação porque, com este passo que foi dado, os jovens talentos estarão mais identificados com 'o nosso jogar' e não sentirão a diferença.

O Benfica tem jogadores para ambos os sistemas. Mas há aspetos que, por vezes, condicionam as decisões. Por exemplo: inicialmente já estava a pensar no 4x3x3 e tinha um jogador indicado para esse sistema, o Krovinovic. A verdade é que teve de ser operado um ou dois dias depois de assinar... Aí as coisas também devem ser repensadas. Fomos sempre claros com os jogadores. Conversámos sobre isto tudo no balneário e foi-lhes dito, aos jogadores, o que iria ser feito. Portanto, temos um sistema e sabemos que a qualquer momento poderemos recorrer ao outro, que está devidamente assimilado. Bastará, se assim o entendermos, ir ao 'disco rígido' buscar a informação necessária. Está lá tudo armazenado.

Há vítimas em qualquer dos sistemas. No 4x4x2, por exemplo, um Pizzi ou um Krovinovic também ficariam de fora. Temos três avançados e conto com eles seja qual for a opção tática. O Seferovic, de facto, começou bem, mas entendemos que houve um abaixamento. Temos de olhar para todos em função das necessidades do coletivo. Atualmente jogamos de determinada forma e aí o jogador que tem estado no ataque é o Jonas, que foi o melhor marcador nos últimos anos, tirando a época passada em que esteve lesionado bastante tempo. Portanto, como pode agora entrar o Seferovic? Tiramos o Jonas? É uma questão de voltar a esperar pelo seu momento. Mas isso vale para o Seferovic como vale para qualquer outro. Pouco ou nada olho para o passado. O jogador é o dia a dia e só me interessa aquilo que está a acontecer. Isso vale para os jogadores e também para os treinadores. De que vale já termos feito isto ou aquilo? O que está feito já lá vai. O que importa é o momento. No fundo, é o rendimento do jogador que vai determinar as decisões do treinador.

Costumo dizer que há uma vida na nossa caixa-forte e depois há uma outra novela que nos rodeia. E estes temas marginais nem são de agora, já começaram há dois anos, na época em que chegámos. Temos tido a capacidade de nos isolarmos. No nosso dia a dia nunca foi assunto de conversa. Não há temas proibidos, temos é prioridades quando estamos juntos e esse assunto em concreto não é, de todo, uma preocupação que tenhamos. Não podemos negar, no entanto, que há um ruído extra. Os jogadores são seres humanos, todos nós temos famílias, enfim, as pessoas acabam por ter acesso à informação, como é natural. Há uma generalização muito desagradável para toda a gente, acho que já ninguém gosta deste tipo de coisas.

Nunca tivemos uma estratégia particular. Uma coisa era sentirmos que o tema estaria a preocupar os jogadores. Se alguém me tivesse vindo perguntar: "Eh, pá, o que é isto que está a sair nos jornais?". Não houve nada disso. Portanto, não senti necessidade de alterar qualquer rotina. E há outra questão: cada um de nós dá a estes assuntos a importância que quer dar. Nos últimos anos as pessoas foram formatadas para um determinado tipo de informação. Talvez o mote tenha sido dado com aquele célebre pontapé no Big Brother, que foi notícia de abertura nos telejornais. Fomos todos levados para o escândalo, o drama, o sangue... Acho que isso se vai esgotar. É uma questão de tempo.

Filme - Não tenho um de eleição, mas gosto de uma história verídica. Seja de que género for: ação, romance, drama, o que for. Tem é de ser real. O tempo não pode ser desperdiçado com coisas que não valem a pena.

Música - Depende. De manhã posso precisar de uma música mais acelerada e ao fim do dia já posso preferir uma música mais calma. Não gosto de heavy metal, mas ouço diversos estilos. A música depende realmente do estado de espírito.

Comida - Tudo o que seja comida tradicional portuguesa. Temos uma gastronomia fabulosa. Não consigo eleger só um prato. Há vários de grande qualidade.

Futebol na TV - Vejo o que preciso de ver. Já não vejo os jogos todos que dão, isso não. Até porque era impossível. Gosto de ver um desafio que me permita tirar alguma coisa para mim. O tempo é precioso. Por isso, as horas que vou ficar a ver futebol têm de ter alguma utilidade para mim. O ideal é combinar o prazer de ver um jogo com a necessidade profissional.

Jornais e revistas - Não leio praticamente nada. Fico à espera que me digam se há alguma coisa que valha a pena ler. De há algum tempo a esta parte que não tenho qualquer preocupação com o que é publicado. E isso até me amargura um bocadinho, porque gostava de passar os olhos pelos jornais desportivos até para ir acompanhando o que estão a fazer muitos amigos meus que estão a trabalhar noutros clubes. Mas fruto de uma série de coisas, que para aqui não interessam, acabei por me desencantar.

Internet - Utilidade profissional, acima de tudo. Mas é obrigatório, nos dias que correm, estar ligado e perceber como evoluem as tendências. Creio que uso da mesma forma que qualquer cidadão comum.

Figuras marcantes e medos – Os meus filhos. O meu maior medo é que eles possam não ter um bom futuro. O que me apoquenta é mesmo a possibilidade de eles terem algum problema de saúde. De resto, não tenho medo de nada.

Qualidades - Há qualidades que às vezes parecem defeitos. Sou obstinado, é uma coisa que me vinca muito. Quando meto uma coisa na cabeça... Sou uma pessoa solidária, isso sou.

Defeitos – Não sou rancoroso nem nada que se pareça… Não sei… Talvez um bocado de mau feitio em determinados momentos.

O sonho do Penta - Não sou muito de sonhos... Já pensei muitas vezes no Penta, isso sim. Quem ganha um título pelo Benfica - ou os que forem - o que vai fazer a seguir? Já não quer mais? Claro que sim. Quer ir à procura do próximo. Portanto, não consigo pensar de outra forma. Ficar mais uma vez na história do Benfica é, obviamente, aquilo que nós queremos.