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A magia da “La Bombonera”

Tags: estava boca

Relato pequeno texto de um jogo inesquecível em minha memória. Em minha vida. Estava há uma semana em Buenos Aires com a minha esposa. O objetivo era o jogo contra o Boca Juniors, pela segunda rodada da fase de grupos da Libertadores de 2012. No início, a tensão não era tanta…

No domingo anterior ao jogo, fomos ao estádio fazer uma visita. A ficha começa a cair: eu iria a um jogo do Fluminense na mística, mítica e (por que não?) lendária “La Bombonera”.

Ao entrar na parte de baixo do estádio, que é onde fica o museu, a sensação era de que aquilo não estava acontecendo, de que era um sonho… Ficamos um pouco ainda no museu chamado de “La Pássion Boquense” e depois fomos embora. Os dias foram passando e a cidade começava a respirar o jogo. Tricolores se espalhavam pela simpática Buenos Aires.

No ano anterior, já havia passado por uma sensação magnífica com o jogo contra os Argentinos Juniors, no qual que tive o prazer de também estar presente. Mas nada se comparava àquela sensação de estar na Bombonera. Impressionante a quantidade de Tricolores em Buenos Aires. Para se ter uma ideia, posteriormente foram confirmados cerca de 3.700 torcedores do lado Tricolor!

Aproximava-se das 16h quando iniciávamos os preparativos para a ida ao tão esperado jogo. Já estava tudo certo e o mais importante eram o ingresso na mão e o transporte do Obelisco para o jogo (ida e volta). Tudo era mágico nesse momento…

Ir para a Bombonera em jogo contra o Boca Juniors e ver aquela quantidade de torcedores vestidos com o manto do meu time são uma sensação indiscutível, que qualquer torcedor gostaria de vivenciar. Não era apenas o prenúncio do melhor jogo da minha vida, mas de uma das melhores sensações que tive e, quiçá, que terei em toda a minha vida.

A temida Bombonera fica no perigoso bairro de La Boca. Tínhamos a escolta da Polícia Federal argentina, por causa de um contato feito anteriormente pela diretoria do Fluminense. Além disso, eram muitos coletivos, que dava a sensação de segurança máxima.

No ônibus, era só festa. A maioria estava fora de si. O nosso guia era um “hermano” do River Plate, que disse que o Boca ganharia, apesar dele torcer para o nosso time, por motivos óbvios. E esse guia desafiava os presentes no coletivo, dizia que não estava ouvindo os nossos cânticos. Colocava a mão no ouvido, zombando da gente! E ele ia dando o tom, pois sempre que fazia tal gesto, o povo cantava ainda mais alto…

Em determinado momento do trajeto, o nosso guia começou a falar “aqui, tranquilo… Aqui, tranquilo”, o povo que estava cantando, começou a cantar ainda mais alto e mais alto, já que num “portunhol” perfeito, era possível entender que naquele local estava tranquilo. E o nosso guia, cada vez mais desesperado, só repetia “aqui, tranquilo”.

Na verdade, o cidadão argentino estava pedindo, implorando para fazermos silêncio, já que aquele local era muito perigoso. Então ele pediu que as luzes de dentro do ônibus fossem apagadas… Aí, sim, tendo utilizando uma linguagem universal de S.O.S., ele conseguiu o tão clamado silêncio, além de um imenso alívio dele e de uma sonora gargalhada dos demais…

Quando chegamos à entrada do estádio, a polícia sempre educada, começou um enorme esforço físico, pois, de forma proposital, a torcida visitante, na Bombonera, fica na parte de cima e, para chegar até lá, o torcedor deve subir inúmeros degraus. É tanto degrau que quando você chega à parte de cima, está tão cansado que, certamente, não terá fôlego para cantar o jogo inteiro!

Quando você entra naquele estádio, algo mágico acontece… Sensações distintas extravasam. Dá vontade de gritar e ficar calado ao mesmo tempo. A paixão argentina pelo futebol é de outro mundo, comparável somente ao amor que a torcida Tricolor sente pelo Fluminense.

Logo que cheguei, recebi umas bolas verdes que coloquei no bolso esquerdo para guardar de lembrança.

O placar anunciava que faltavam ainda mais de uma hora para o início do jogo. E a emoção já transbordava! Impressionava os olhos e as reações da torcida Tricolor ver o nosso querido time jogar na famosa “caixa de bombom”. Para muitos, um sonho que se realizava; para outros, mais otimistas, faltava a vitória.

O jogo começa e o time se comporta muito bem. Tão bem que o time “xeineize”, como é conhecido o time do Boca, não apresentava grande perigo para a baliza Tricolor. Aos nove minutos, falta para o Flu na zona intermediária. Deco na bola. A bola foi cruzada de forma artesanal, encontrando um Fred sofrendo pênalti, que, mesmo assim, conseguiu colocar a bola para dentro. Pouco importava se o goleiro Orion podia ou não fazer alguma coisa. Gol do Fluminense, na Bombonera, aos dez minutos! Delírio da torcida!

E o jogo foi seguindo, o time do Flu se comportava bem, mas o Boca, com aquela sua torcida, fez do Cavalieri o melhor jogador do primeiro tempo. Quando vinte minutos eram anunciados no placar, senti saudades da parada técnica do campeonato carioca. Mas, com defesas salvadoras do nosso arqueiro, o Tricolor foi para o intervalo com a vantagem mínima. Eu não estava acreditando que o Fluminense estava ganhando do Boca na Bombonera…

Nesse momento, as fotos eram atos naturais e automáticos. Todo mundo queria tirar foto. Tirar foto do amigo desconhecido que o estava abraçando na hora do gol. Da falta de espaço no lugar reservado para a nossa torcida. Do placar que anunciava a vitória parcial Tricolor. De tudo. Tudo era importante para simplesmente dizer: eu estava no primeiro jogo em que o Fluminense venceu o Boca. Magia futebolística!

Eu estava com o meu celular toda hora na mão, para tirar foto nem eu mais sabia do quê e não perder nenhum momento. Nisso, uma bolinha verde caiu do meu bolso (eram quatro), eu a peguei e coloquei todas em bolso do lado direito, na parte de baixo – a minha bermuda era do tipo “cargo”.

Início do segundo tempo. Pressão total do Boca. E com apenas um minuto, o Boca tem uma falta próxima à área, que foi cobrada pelo Riquelme. A demora foi tamanha, que somente aos três minutos o lance foi cobrado. O velho truque da catimba argentina… A bola bateu na trave e, na volta, Somoza, colocou a igualdade no placar. Agora, muitos já torciam para um empate, ante as circunstâncias desfavoráveis ao time Tricolor.

Pensei logo que a culpa era minha. Por quê? Porque eu havia trocado as bolinhas verdes de bolso! Lógico que a culpa era toda minha aquele gol do Boca… Logo, troquei de bolso. A partir dali, ressurgiu o Time de Guerreiros, com um esquema de jogo igual ao início do primeiro tempo, sem afobação. Lógico que o time não estava jogando melhor por causa das bolinhas verdes, mas isso eu só puder ter certeza quanto a razão foi estabelecida e, naquele momento, era melhor não arriscar…

O jogo foi se desenrolando até que o Wellington Nem recebeu uma bola pela esquerda, em alta velocidade, deu um drible para trás e cruzou na medida para o Deco empurrar para dentro. Gol do Flu-mi-neeeeeen-se! Novamente, aquele sentimento de que faríamos história na Bombonera voltou a imperar! O time Tricolor começou a jogar com mais raça e o Boca não estava conseguindo reagir.

O relógio jogava preguiçosamente contra o time do Fluminense. O Boca voltou a crescer no jogo. Cadê a parada técnica, já tem vinte minutos? E nada do jogo terminar. Olhava para o placar, que anunciava que ainda faltavam vinte longos e inteiros minutos. Foi o jogo mais longo da minha vida. Era inacreditável que os minutos transcorressem de forma tão lenta…

Quando faltavam poucos minutos para o final, Digão que jogou muito bem nesse jogo, em ato heróico, se joga na bola e evita o que seria o gol de empate da equipe boquense! Os jogadores “xeneizes” pedem pênalti, que não existiu. O árbitro Carlos Amarilla encerrou o jogo. Ah, o gongo! O Fluminense havia feito história. A sensação era a melhor possível!

Para completar, o nosso ônibus chegou no Obelisco e estávamos sãos e salvos! Avistamos logo uma cafeteria, que funcionava 24 horas. Para nossa surpresa, lá era servido de quase tudo, inclusive “bife de chorizo” (o maravilhoso contra-filé argentino) e cerveja, obviamente, argentina. Era 1h da madruga. A torcida começou a chegar e lotamos o estabelecimento, ao ponto de fazermos um verdadeiro caldeirão naquele lugar, com cânticos regados a extrema alegria!

Ideias fanáticas e pouco sóbrias de pendurar a bandeira do Flu no Obelisco da Avenida Nueve de Julio não faltaram, como era de se esperar… Nada que não fosse imediatamente esquecido pela lembrança eufórica e a certeza de ter vivido, naquela noite, uma parte da história Retumbante de Glórias do Flu!

Sem sombras de dúvidas, foi um dia perfeito. Esse foi o jogo da minha vida! Esse foi o meu momento marcante como torcedor do Fluminense!


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