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A direita à direita

(Créditos: AFP/Reprodução)
PS: esse texto busca fazer uma análise, e não uma crítica. Não é o que o blogueiro está acostumado a fazer - é, na verdade, quase um desafio. Nem de longe o blogueiro compactua com esse tipo de pensamento (é, aliás, muito combatido e criticado por ele), mas analisar também faz parte do processo racional - até para poder criticar com mais conhecimento da causa e sem falar asneiras. 

Como boa parte de tudo que diz respeito à civilização como conhecemos hoje, o conceito do que é "esquerda" e "direita" na política surgiu na Revolução Francesa. Na Assembleia Nacional Constituinte, que buscava limitar os poderes do rei e tornar a sociedade mais justa (tanto que originou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão), existiam três grupos, sendo dois mais famosos:

- Girondinos: representantes da alta burguesia, que se sentavam à direita do rei
- Jacobinos: representantes da média e baixa burguesia, que se sentavam à esquerda do rei

(Créditos: Domínio Público)
Consolidou-se, então, o que era direita e esquerda no espectro político. O blogueiro confessa que odeia essa classificação por achar que existem várias nuances e pensamentos que não podem ser rotulados em apenas dois grupos, mas por vezes é necessário usá-los para ser entendido mais facilmente. 

Nos últimos tempos, a chamada direita cresceu de maneira exponencial em todo o mundo. Talvez o primeiro movimento a se fazer notado nas urnas (não se sabe se é causa ou consequência do aumento desse pensamento) foi o Tea Party, que surgiu em contraposição às medidas assistencialistas do presidente Barack Obama. 

Convém falar, porém, que o pensamento rapidamente se espalhou mundo afora - não só em eleições. O crescimento de grupos neonazistas (sobretudo na Europa) fala melhor que qualquer outra atitude. Uma das facetas mais controversas de quem partilha desse pensamento é a aversão aos migrantes - que, para quem não compactua com esse pensamento, chega a patamares xenófobos. Os tantos árabes que morrem e/ou ficam em condições sub-humanas (como esquecer da foto do garoto morto na Turquia?) mostram as consequências práticas que essa aversão pode ter quando levado a níveis extremos. 

(Créditos: Getty Images/Reprodução)
Alguns grupos de mídia também não escondem seu ar bem conservador. Mundialmente, a Fox News talvez seja o caso mais conhecido. No Brasil existem várias polêmicas que versam sobre um suposto favorecimento a quem tem viés mais de direita - como a edição do Jornal Nacional do último debate presidencial de 1989 ou a cobertura da Operação Lava-Jato pela grande mídia brasileira. Por aqui, a revista Veja e, mais recentemente, a rádio Jovem Pan são tidas como porta-vozes do pensamento conservador.

Embora não possa ser definido apenas por conta de eleições, é nas urnas que a direita mais cresceu - e mais chamou a atenção. Na Europa, países de todos os cantos (do Leste, do Centro, do Oeste, do Reuno Unido e até da Escandinávia, região tida como tradicionalmente social-democrata) apresentam grande crescimento dos partidos de Extrema Direita. Isso inclui países muito importantes para a geopolítica mundial, como a França e a Inglaterra. 

O Reino Unido, aliás, foi o palco de uma das grandes demonstrações de força do novo pensamento radical de direita. A consumação do BrExit, que tira o país da União Europeia, é a uma vitória da extrema direita - que, entre suas principais características, contém o nacionalismo e a vontade de se livrar cada vez mais da garra do Estado, seja ele qual for. Tais atributos atraíram os ultraconservadores britânicos, que venceram o pleito.

O grande salto mundial da extrema direita, porém, foi a recente eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Após oito anos de governo democrata, os americanos escolheram pelo polêmico candidato republicano - que, inclusive, venceu em redutos tradicionalmente rivais, como os estados de Wisconsin, Ohio e Michigan. 

(Créditos: Mike Segar/Reuters)
No Brasil, a parelha eleição presidencial de 2014 já foi uma prévia de que o pensamento de direita/extrema direita tinha ressurgido (para muitos, resultado das Jornadas de Junho), mas foi em 2016 que os candidatos dessa corrente ideológica se destacaram. O forte pensamento antipetista após o impeachment catapultou candidatos do PSDB (principal força da direita brasileira) e de tendência conservadora nas eleições municipais do país.

Donald Trump, João Dória Jr. (eleito prefeito de São Paulo em primeiro turno, primeiro candidato a cosneguir isso na história da Nova República), o BrExit e a extrema direita eurocêntrica têm alguns pontos em comum. 

- A rejeição do rótulo de político, apresentando-se muito mais como um gestor e/ou empresário de sucesso
- As críticas ao sistema político e ao establishment
- Ideias neoliberais, como privatizações e fim de programas assistencialistas
- Valorização do povo local, desprezando quem é de fora dos limites do espaço a ser governado
- Crescimento ao aproveitar uma rejeição de seus adversários políticos, por fatores característicos de cada região

(Créditos: Democratize Mídia/Reprodução)
É óbvio que os fatores particulares de cada uma das situações apresentadas é de fundamental importância para cada eleição. Mas é curioso notar que, em pleitos tão distintos, existem pelo menos cinco pontos de convergência. 

Também é importante dizer que, como quase tudo na história, a política é um pêndulo. O pensamento conservador voltou à baila após ano de ostracismo. Daqui um tempo deve voltar à penumbra, e assim sucessivamente. Isso é democracia

O que choca muitos, porém, é o quanto os novos pensamentos conservadores vão de encontro a ideias que estavam muito enraizadas e começavam a se tornar até mesmo verdades absolutas: globalização, livre fronteira, livre comércio, rejeição a qualquer tipo de fobia social. Mais que qualquer ideia econômica, talvez sejam essas questões que entram até mesmo no estilo de vida de cada pessoa que irritem e causem tantos arrepios quando se pensa no futuro da política.

(Créditos: Twitter/Divulgação)
Os expoentes da nova extrema direita de hoje em dia, se estivessem na Revolução Francesa, talvez nem se sentassem na Assembleia Nacional Constituinte por terem ideais que, de tão conservadores, mais se assemelhem à Monarquia que à República ou à burguesia. Talvez eles se sentassem ainda à mais direita dos girondinos. Cabe à sociedade de hoje, que se julga tão aberta, saber aceitar e dialogar mesmo com quem, por vezes, não parece tão disposto a isso.

A política do século XXI ganhou um grande desafio. Vamos ver qual vai ser a reação a ele.


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