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PALMADA PEDAGÓGICA: SERÁ QUE RESULTA?


Há quem defenda que uma palmada na hora certa pode ser a melhor forma de educar uma criança. Será que é assim? Ou será a palmada uma escolha que traduz a “lei do menor esforço”?


Há uns dias assisti a um episódio na sala de espera de uma unidade de Pediatria que bem poderia servir de ilustração a qualquer aula sobre Parentalidade. Naquele caso, os Adultos à volta da criança fizeram várias escolhas que dificilmente poderiam figurar como exemplos de atenção, inteligência emocional ou respeito mútuo.

O menino de 3 ou 4 anos chegou acompanhado pelo pai e pelos avós. Depois de uma breve passagem pelos brinquedos que estavam na sala, dirigiu-se, sozinho, ao ecrã tátil que servia para que cada utente retirasse a sua senha. Rapidamente percebeu o “esquema” e foi brincando com o aparelho enquanto colecionava senhas. Quando o pai reparou no que estava a acontecer, chamou a atenção do menino dizendo-lhe «Sai daí», «Para com isso» ou «Isso não é para ti». Em nenhum momento o pai ou os avós tomaram a iniciativa de se levantar e afastar a criança do aparelho. Eles não estavam realmente a “ver” aquela criança – não repararam no seu divertimento nem prestaram genuinamente atenção às consequências que o seu comportamento poderia ter. Até que uma funcionária se aproximou do menino e lhe disse «Não podes mexer aqui», baixando-se para ficar da sua altura e utilizando um tom de voz calmo. Depois disso, a criança voltou a retirar uma senha e, a partir daí, vieram os castigos. Primeiro, a palmada, dada pela avó, na presença de todos os adultos e crianças presentes. Depois, como o menino começou a chorar, veio a chamada de atenção do pai: «És um bebé. És mesmo um bebé. Que vergonha».

Acredito que quer os avós quer o pai estivessem convencidos de que aquela seria a melhor forma de atuar. Estou genuinamente convencida de que, aos seus olhos, aquelas escolhas eram as mais indicadas. Talvez até as únicas capazes de “ensinar” a criança a “portar-se bem”. Mas será que é assim?

AS PALMADAS PODEM EDUCAR?


Um dos argumentos utilizados por quem aplica a palmada na educação dos filhos tem a ver com a existência de situações-limite em que mais nada funciona. No episódio que descrevi, de facto, o pai já tinha chamado a atenção do menino. Mas será que isso significa que estava realmente a prestar-lhe atenção? Ou que deu o seu melhor para explicar a uma criança que não teria mais do que 4 anos porque é que não poderia mexer naquele aparelho, apesar de este lhe parecer tão apelativo? Creio que não.



Aquele pai estava à conversa com os avós, provavelmente sobre questões que os estariam a preocupar. Na prática, não conseguiu levantar-se, agarrar na criança e explicar-lhe (baixinho) para que é que aquele ecrã tátil servia. Não teve disponibilidade para prestar genuinamente atenção ao divertimento que a criança estava a sentir ao explorar o “brinquedo” novo e muito menos teve criatividade para lhe propor fazerem um jogo a dois com um dos brinquedos disponíveis na sala.

Não vale a pena recriminarmo-nos. Há alturas em que a nossa atenção é limitada e em que não conseguimos dar o melhor de nós. Há alturas em que nos zangamos, em que nos salta a tampa. Mas aquilo que importa é que, depois de a poeira baixar, sejamos capazes de reparar no que fizemos, sejamos capazes de olhar com curiosidade para as nossas escolhas e, se for caso disso, sejamos capazes de pedir desculpa.

Na prática, aquele menino dificilmente aprendeu alguma coisa com aquele episódio. Pelo menos, alguma coisa sobre o respeito pelos outros. Pelo contrário, as mensagens dos adultos que lhe querem bem foram contraditórias. Numa primeira fase, estava “tudo bem”. Afinal, a criança teve liberdade para explorar o aparelho sozinha. De repente, e muito provavelmente em função da vergonha que os adultos sentiram depois da chamada de atenção da funcionária, surgiram os castigos. Os adultos não foram capazes de lidar com as suas próprias emoções e limitaram-se a “explodir”. Pior do que isso: a palmada e os comentários que se seguiram aconteceram à frente de vários estranhos, funcionando como uma oportunidade para que a criança se sentisse humilhada. Punida fisicamente e humilhada.

AS PALMADAS NÃO EDUCAM.
EDUCAR DÁ TRABALHO.


Dir-me-ão que há alturas em que a palmada “funciona”. Mas eu discordo. É evidente que, naquele caso, os adultos estarão de acordo quanto ao resultado: o menino não voltou a carregar no ecrã. Mas qual é a nossa verdadeira intenção na educação das nossas crianças?



Queremos mostrar-lhes que há alturas em que
devem simplesmente obedecer-nos, sem perceberem
o que se está a passar? Ou queremos que compreendem 
que há escolhas que não devem ser feitas, ainda que
sejam muito apetecíveis, porque isso interfere com a
liberdade dos outros?


Qualquer criança de 3 ou 4 anos seria capaz de compreender que não poderia fazer aquela escolha SE os adultos lhe explicassem, com paciência e tempo, porquê. As crianças adoram cooperar e ajudar os adultos. Claro que isso não significa que sejam SEMPRE capazes de compreender uma regra à primeira explicação ou que percam IMEDIATAMENTE o desejo de fazer aquilo que estavam a fazer. É por isso que somos nós, adultos, que temos de ter a criatividade para as ajudar a encontrar alternativas. Isso dá muito trabalho. Envolve a nossa atenção plena, envolve a capacidade de nos desviarmos dos nossos próprios brinquedos (telemóveis, tablets e outros), envolve a escolha consciente de interrompermos uma conversa que nos está a interessar “só” para prestarmos a devida atenção ao momento presente e, assim, conseguirmos educar as nossas crianças de forma a que elas aprendam a respeitar quem está à sua volta.


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