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COMO LIDAR COM UMA SEPARAÇÃO


Quando uma relação acaba, há um conjunto de emoções que podem surgir e que nem sempre são fáceis de reconhecer, quanto mais de gerir. O mundo à nossa volta oscila entre a solidariedade e a "pressa" de que tudo volte à normalidade. Quando é que a dor desaparece? Até quando é razoável ter vontade de chorar? E a raiva? Como é que se lida com a raiva? Hoje escrevo sobre o turbilhão emocional que pode estar associado a um processo de separação.


"Tenho muita vontade de chorar. Não acho normal. Já passaram 3 meses. Além disso, dou por mim a sentir raiva do meu marido - ex-marido, quero dizer - e não quero sentir isto. Quero seguir com a minha vida. Quero esquecê-lo e ser feliz."

O desabafo de Maria é comum no meu consultório. A ânsia de voltar à normalidade e fazer desaparecer a montanha russa de emoções que estão associadas à separação é natural, faz parte. Ninguém gosta de estar triste, ninguém gosta de ter acessos de Raiva. Precisamos de paz, desejamos sentir-nos em paz. Mas... e se essa paz estiver "dependente" da vivência destas emoções mais "negativas"? E se for mesmo preciso deixar que a tristeza nos invada para abrir espaço para a nova normalidade?

AS RELAÇÕES NÃO ACABAM SEMPRE DA MESMA MANEIRA


É óbvio que uma relação pode terminar de muitas maneiras. Há quem termine por mútuo acordo. Há quem acabe a relação com discussões violentíssimas. Há quem sinta um murro no estômago quando é surpreendido com frases como "Já não te amo" ou "Os meus sentimentos mudaram". Há quem sinta que o tapete foi arrancado dos pés com a revelação de uma traição. Há quem já estivesse à espera do ponto final há anos (ou até o desejasse).

As circunstâncias de uma separação podem ter um grande impacto na forma como nos sentimos, na capacidade para reagir com resiliência ou otimismo em relação ao futuro. Cada história é única e cada pessoa é que sabe aquilo que investiu, aquilo que ganhou e perdeu com a relação e aquilo que sente aquando da rutura.

Não é porque alguém nos diz que o fim até "foi o melhor" para nós que a dor desaparece. Pelo contrário, isso até pode fazer com que nos sintamos culpados. Mas de nada nos vale dizermos a nós próprios “Eu deveria sentir-me assim” ou “Eu não deveria estar a sentir isto”. É o que é.



É verdade que ninguém gosta de estar triste mas a tristeza faz parte da vida e, se não nos sentirmos invadidos por ela quando uma relação termina, quando é que a vamos sentir? Deixar que a realidade aconteça exatamente como ela é implica que não tenhamos de lutar contra ela e que nos permitamos viver aquilo que precisamos de viver.

TRISTEZA NÃO É DEPRESSÃO


Estar triste é normal. Estar muito triste durante muito tempo depois de uma separação também é normal. Há um luto que precisa de ser feito e que não equivale a uma perturbação depressiva.

Eu compreendo que haja quem tenha medo de se “afundar” numa depressão e que, em função disso, faça o que puder para não alimentar a tristeza. E há, de facto, algumas escolhas que nos podem ajudar a viver este período de forma mais saudável mas nenhuma delas passa por ocultar sentimentos:

Reconhecer a tristeza, a raiva o medo ou outra emoção qualquer e falar sobre isso.


Os amigos e a família nem sempre entendem, nem sempre estão disponíveis para voltar a ouvir-nos MAS, de uma maneira geral, querem o melhor para nós. Têm boas intenções e dar-nos-ão o seu apoio se conseguirmos ser claros em relação àquilo de que precisamos. E às vezes “só” precisamos que nos oiçam.

Identificar os pensamentos catastróficos e “deixá-los ir”.


Quando nos sentimos mais tristes, surgem mais pensamentos negativos e, se lhes dermos corda, é provável que demos por nós enredados num pessimismo generalizado. Anotar os pensamentos mais negativos é um passo importante para que os possamos “descatastrofizar” mas, mesmo que não nos sintamos capazes de o fazer, podemos pelo menos interromper o círculo vicioso. A meditação é uma ferramenta poderosíssima que nos ajuda a olhar para a realidade como ela é em vez de cairmos nas armadilhas que a nossa mente nos prega.

Evitar o isolamento.


Há uma diferença muito significativa entre aquilo que nos apetece e aquilo que nos faz bem. Se nos fecharmos em casa, evitando o convívio com as pessoas de quem gostamos, não estamos a respeitar os nossos sentimentos. Estamos apenas a ceder à tentação de nos fecharmos na nossa concha para alimentar os tais pensamentos catastróficos. O mais provável é que durante algum tempo (para alguns é muito tempo) as saídas com amigos não tenham o mesmo sabor, as reuniões de família sejam mais “pesadas” ou que até uma ida ao café do bairro seja penosa. Mas de cada vez que interagimos com outras pessoas temos a oportunidade de nos descentrarmos, de repararmos noutras realidades e de alimentarmos outras ligações. À medida que o tempo for passando, vamo-nos dando conta de quão terapêutico é desviarmos o olhar para prestar (mesmo) atenção aos que nos rodeiam.

A RAIVA E O MEDO TAMBÉM SÃO NORMAIS


Mesmo quando a relação acaba por mútuo acordo, é possível sentir raiva. Ouço muitas pessoas referirem-se à revolta que sentem por terem sido rejeitadas pelo companheiro ou à raiva que as invade quando pensam no tempo que desperdiçaram ao lado daquela pessoa.



E depois? O que é que podemos fazer?

A raiva, ao contrário da tristeza, é mobilizadora, dá-nos energia. É por isso que facilmente nos podemos sentir tentados a agir de forma mais ou menos impulsiva – telefonando, enviando mensagens, tirando satisfações ou pura e simplesmente mostrando a nossa indignação. A pergunta que podemos sempre colocar é “Qual é a minha intenção?”. Se a intenção for procurar a paz, aceitando o fim da relação, será que estas escolhas nos aproximam ou nos afastam? E se a intenção for tentar uma reaproximação? Será que estas escolhas nos aproximam ou nos afastam dela?

Esta reflexão não significa que tenhamos de conter toda a raiva. Ela pode ser exteriorizada. O desafio está em conseguir fazê-lo sem nos desrespeitarmos e sem desrespeitarmos a outra pessoa. Às vezes é preferível parar o carro no meio do nada e gritar à vontade ou agarrar numa almofada e descarregar nela toda a nossa fúria. É claro que vamos precisar de falar mas é mais provável que consigamos estruturar os nossos pensamentos se o fizermos, primeiro, com alguém da nossa confiança.

Nalgumas alturas pode parecer que não há ninguém que nos compreenda e isso até pode ser verdade em relação a algumas pessoas que nos são mais próximas mas vale a pena lembrar que nem sempre precisamos de compreender para abraçar. Mostrarmos a nossa vulnerabilidade e dizermos claramente do que precisamos é essencial para que quem está à nossa volta nos responda com o afeto que merecemos.

Muitos dos nossos medos começam a dissipar-se precisamente à medida que reconhecemos a força de algumas ligações. Quando reparamos no afeto que nos rodeia, quando percebemos que não estamos realmente sós, sentimo-nos mais capazes de enfrentar a realidade, mesmo que ela seja – por agora- muito dura.


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