Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

O segredo dos seus olhos

São 23h57 de uma terça-feira chuvosa e me sinto encantado. Acabo chegar em casa depois de assistir "O segredo dos seus olhos" e a sensação que tenho é uma mistura de soco na boca do estômago com beijo suave na nuca. Tamanho meu encantamento pelo filme que não queria aqui desperdiçar palavras falando que é um filme baseado num romance, uma produção argentina e espanhola, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010. Para maiores detalhes desse tipo, recomendo a sempre competente critica do Omelete http://omelete.com.br/cinema/critica-o-segredo-dos-seus-olhos/ . Quero focar meus esforços em traduzir os sentimentos que o filme evoca.



1ª dura constatação: trata-se de um filme de amor. Ou melhor, para não ser tão específico, é um filme sobre paixão. E não se enganem, quando o filme acaba com toda a tensão de um triller policial, é árduo constatar que trata-se de um filme delicado. Paixão que pode ser vista de duas formas: "amor" e "obsessão" e a linha tênue entre as duas coisas, que faz alguém estuprar e assassinar uma mulher ou faz alguém seguir a vida toda persegui(n)do por uma história inacabada. Os protagonistas do filme não são os personagens, e sim suas paixões. A história toda trata da relação dessas paixões, que se desenrolam num final que é sublime na sua violência. Em certa altura o personagem Pablo Sandoval diz que um homem pode mudar de tudo em si, menos suas paixões. Eu pergunto: o que há de mais humano do que o descontrole que as paixões geram? Nos vangloriamos enquanto seres superiores pela razão e pela ciência, mas até elas nada mais são que combustível para queimar paixão. Como questionar a paixão de alguém por Deus? Como questionar a paixão de alguém pela ciência? Nela, tudo se justifica. Cada um dos personagens, ou melhor, cada uma das paixões retratadas, umas mais brutas, outras mais delicadas, outras confusas, vão crescendo aos poucos, como alguém que começa contando uma história baixinho, com um pouco de vergonha, e no final está gesticulando e gritando. Essa coisa do descontrole que a paixão provoca, essa "desregulação" do normal, o quanto o justo passa a ser questionado quando uma paixão está em questão, é exatamente sobre isso que o filme fala. Em meio a tudo isso existe um contexto maior, como papel de parede, que é a história política e de construção cultural argentina. E daí sai a 2ª dura constatação: os argentinos foram nesse filme muito mais competentes que nós brasileiros e traduzir no cinema a alma do país sem ser caricato. Desde uma seqüência que mostra o estádio do Huracán lotado durante um jogo de futebol até a intimidação feita dentro de um elevador onde nenhum dos personagens se entreolha, num take só, sem corte, em tudo isso percebe-se uma identidade nacional. Desde a podridão do sistema judiciário até a cena de amor pastelão na estação de trem, bem ao estilo de um tango melodramático, é possivel perceber que isso é a Argentina. Comparando com o que é feito no Brasil, só nos reconhecemos quando vemos uma favela ou um jogador de futebol melhor que todos os outros. Ou um prato de feijoada. Ou uma passista de escola de samba. Mas que país mais limitado que mostramos ao mundo, não? Nos limitamos a reforçar uma caricatura de país. Não somos menos que nossos hermanos em nada culturalmente falando, mas tenho que admitir que eles foram muito mais competentes em contar isso para o mundo nesse filme do que nós fomos até hoje no cinema.







A 3ª dura e última constatação é: é bem possivel que tudo o que eu escrevi não faça o menor sentido e não deva ser relevado porque estou apaixonado pelo filme. Sim, perdidamente apaixonado. Tudo que eu escrevi elimina diversas ponderações que provavelmente, se analisasse de forma racional, invalidassem o que acabei de escrever. Mas a paixão é a única coisa que podemos nos agarrar sinceramente. Como disse, é isso que nos faz mais humanos. Às vezes é violenta, e todos nos somos em diferentes medidas. Às vezes é sutil, seja por medo ou por falta de dedicação. Mas ela nos guia, e é só delas que não conseguimos nos separar.


*Constribuiu Fernando “Perrito” Ramires



This post first appeared on Blog Da Rua, please read the originial post: here

Share the post

O segredo dos seus olhos

×

Subscribe to Blog Da Rua

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×