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FELIZ NATAL - Carmen Mattos












A matriarca sentada a cabeceira da longa mesa
Com um leve riso nos lábios, olhava a sua volta
A mistura das vozes tornava Tudo ininteligível
Gargalhadas e lembranças de um passado já distante
O espelho mostrava seus cabelos recém pintados
Baixou os olhos para a mão enrugada no anel de esmeralda
Era o que restava de tantos anos de infinitas batalhas
Noites insones, deveres intermináveis, direitos esquecidos
Mas tudo valera a pena pois não trazia no peito o remorso
Fora dura, chorara escondido, curou suas próprias feridas
Nunca fora prioridade em nada e nem para ninguém
Estivera ali de passagem para cumprir uma missão
E o fizera a despeito de tudo e de todos que a cercavam
Engoliu humilhações e descasos como se guloseimas fossem
Essa era sua festa preferida, o Natal com seu Papai Noel
A árvore com suas luzes e inúmeros enfeites coloridos
Nunca tivera festa de aniversário, nascera quase com Jesus
E assim, ao longo dos anos, comemoravam juntos essa data
Natal sempre fora, por obrigação, a sua única festa na vida
Esperava o ano todo por este dia, que era o seu único dia
Encheu sua taça de espumante e fez um silencioso brinde
Brindou a si mesma, pela coragem, pelas lutas e pela dor
Há muito esquecera-se como era chorar lagrimas de verdade
Todo o seu pranto era retido em algum lugar do seu peito
E dali levava brilho aos olhos e um eterno sorriso aos lábios
A toalha de linho imaculada, porcelana e cristais se uniam
Cardápio escolhido com meses de antecedência, vinho
Guirlanda na porta e enfeites completavam toda a cena
Mais uma vez, entre tantas vezes, hoje era o seu dia
O tilintar do telefone a tirou do devaneio por um instante
Era o terceiro, era o último e então tudo se acabaria
Escolheu sua voz mais suave para então dizer alô
Feliz Natal mãe, Feliz Natal vó, gritavam do outro lado
Como de praxe, ela respondeu com alegria roubada
Dois ou três minutos depois, tudo silenciou na sala
Os enfeites velhos e mofados perderam seu brilho
Olhou novamente para o espelho e viu sulcos no rosto
O roupão desbotado e o sanduiche a sua frente era tudo
Levantou-se com o vagar da idade e foi para seu quarto
Dormir à espera de, talvez, mais um Natal.



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