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Como é bom ser negão na Estação Primeira de Mangueira


“Eu quero um país que não está no retrato” - trecho do samba da Estação Primeira de Mangueira


Senti-me como se tivesse sido banhado pelo bálsamo da felicidade, quando assisti o desfile da Estação Primeira de Mangueira no Rio de Janeiro. Como estou para me formar em História, senti orgulho da minha profissão.

Há anos, precisamente na redemocratização do país, estamos na luta por uma história mais participativa numa contextualização bem popular, para explicarmos aos demais que a história do Brasil nunca foi feita pelas mãos de homens brancos e poderosos. Foi além do que podemos imaginar. Durante a minha adolescência, no período da ditadura militar, o que lia nos livros de história eram somente aquilo que nos empurravam. Líamos sobre a construção social do índio e do negro num aspecto cultural caricato.

Exemplos: o índio por sua candura, deixou-se escravizar ou eram meros preguiçosos. A participação dos índios na construção do Brasil era limitada à plantação de mandioca e rede para descanso. Quando chegamos à página onde se falava do negro escravizado, era só um assunto: a feijoada. Parou. Mulheres, então...

Em nenhum momento nos víamos representados nesses livros de histórias. Isto já vinha ocorrendo muito antes do regime militar, mas acontece que neste período a situação ficou mais grave. Pensar e questionar eram proibidos. Professores eram acuados. Havia perseguição aos professores de humanas (em especial filosofia, sociologia e história). Fomos doutrinados por grades curriculares chamadas 'Educação Moral e Cívica' que eram verdadeiras torturas mentais. Éramos induzidos a acreditar num país sem diferenças sociais, raciais e de gêneros. A ordem do dia era acreditar na história do Brasil sob o olhar do dominante. Nunca nos enxergaríamos dentro desse contexto. Eu não me via lá.

Na composição de desprezados atores sociais no tempo passado e contemporâneo, a História vem se construindo. Paulatinamente vínhamos retirando esses atores dos porões do esquecimento da história dominante. As décadas de 80 e 90 foram cruciais para começarmos a falar deles. Zumbi dos Palmares foi o primeiro, que com muito custo, foi equiparado a herói nacional em pé de igualdade com outro herói da “história”, que é Duque de Caxias. Depois vieram leis que obrigaram as escolas públicas e particulares a lecionarem a história da África e dos afro-brasileiros. Hoje, estamos colhendo o fruto dessa luta. Os livros didáticos do ensino fundamental e médio estão vindo com conteúdos robustos sobre a história do negro no Brasil e no mundo. Junto a esta vitória a constitucionalidade da política de ação afirmativa (política de reparação) pelo STF. O aumento daqueles que se auto declaram pretos.

Não para por aí. Ainda há um longo caminho para o resgate também de índios e mulheres que há séculos vem lutando por lugares na história brasileira.

Vamos falar de mulheres anônimas que silenciosamente fazem trabalhos em núcleos de pré-vestibulares comunitários, onde são coordenadoras/res e professoras/res e labutam para incluir jovens e adultos moradores de favelas na sociedade, desejando realizar o sonho de entrar e concluir uma universidade, quebrando assim o círculo vicioso da exclusão.

Vamos acrescentar ao lado de Lecis e Marielles outras mulheres. Vamos falar de Roses, de Cinthias, de Angelas, de Tânias, de Anas, de Therezinhas, de Noemias, de Vânias, de Flavias e demais.

Vamos falar da Conjuração Baiana, dos Lanceiros negros de Dom Obá, de Leilá Gonzales, dos Cabanos de Mariguella. Enfim, não podemos esquecer dessas vozes silenciadas pelos porões da história conservadora.

(Fábio Nogueira: aluno/professor voluntário de Pré vestibular comunitário)


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