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Tetraplégicos, uni-vos!

Tags: tenho tudo tive

Falar sobre si, para mim, é sempre complicado. Então começo falando da minha condição física, já que sou rotulado como PNE (pessoa com necessidades especiais), PCD (pessoa com deficiência), ou deficiente físico e cadeirante, entre outros tantos. Assim, Tenho certeza que mais tetraplégicos, e outras pessoas com algum tipo de limitação física e motora vão se identificar, em partes, com o seguinte relato.


Sou Rafael Ferraz, tenho 33 anos e estou tetraplégico há seis. Sou jornalista, músico e fotógrafo. Já trabalhei como fotógrafo em navios de cruzeiros, no Brasil e na Europa, dei aula de violão e guitarra, toquei em algumas bandas, cantei e toquei sozinho na noite. Fui repórter em dois jornais impressos na minha cidade – interior paulista, e trabalhei com assessoria de imprensa, além de outros empregos que Tive entre os anos 2000 e 2011, ano em que minha vida simplesmente virou no avesso e de ponta cabeça.


Já fui casado – uma experiência incrível, que durou o quanto tinha que durar, e por sorte, eu não tive filhos. Divorciado, voltei à casa de meus pais até me ajeitar novamente, quando acabei caindo da escada do 3º andar da casa de uma antiga namorada. Não sei como, minha cabeça apagou, mas caí e fraturei a 5ª vértebra cervical. Tive uma fratura exposta do fêmur direito, bati com o ombro e a cabeça no chão, mas não quebrei o crânio, e tive uma desnervação dos músculos em todo o meu lado direito do corpo.


Infelizmente, eu não sei como caí. Não me lembro e ninguém viu o que realmente aconteceu. Sei que eu não rolei pelos degraus. Eu caí no vão, no vazio de uma grande escada em caracol. Fiquei 20 dias em coma induzido, respirando por traqueostomia durante cinco meses, quatro deles no hospital e um mês em casa sob cuidados de enfermeiros, namorada e familiares.


Na queda, a 5ª vértebra quebrou e formou uma hérnia (um inchaço) que pressionou e lesionou minha medula espinhal, me deixando tetraplégico, sem movimentos das pernas e do braço direito – me lembro que o médico disse que talvez eu nunca mais movesse esse braço. Hoje, no entanto, eu mexo os ombros e os braços, mas não tenho movimentos nos dedos e nas mãos. Não tenho muito controle do tronco, mas sinto meu corpo inteiro – apesar de ser uma sensibilidade alterada (eu não sei distinguir, por exemplo, entre água fria e quente). Sou totalmente dependente desde a hora que eu acordo, precisando de ajuda para sair da cama e passar para a cadeira, ajuda para me vestir, para tomar banho e outras coisas básicas do dia a dia.


Desde então, bastante debilitado nos dois primeiros anos como tetraplégico, venho fazendo diversas terapias de reabilitação em clínicas como a Rede Lucy Montoro, do estado de São Paulo, e em outras clínicas particulares. Há dois anos e meio faço fisioterapia, hidroterapia e equoterapia, duas vezes por semana. Além disso, costumo fazer musculação e pedalar um cicloergômetro (com os braços) pelo menos 10 km por dia.


Mesmo tetraplégico, eu já saltei de paraquedas (foto de abertura), e cheguei a usar uma cadeira de rodas motorizada, mas hoje prefiro uma cadeira manual para não ficar parado, apesar de conseguir tocar a cadeira apenas em locais planos – dentro de casa, shoppings etc. Tenho dois cuidadores, os quais eu prefiro enxergar como meus assistentes – extensões de mim, que me ajudam com as tarefas básicas do dia a dia, como me transferir da cama para a cadeira, tomar banho, cortar as unhas, e Tudo aquilo que eu ainda não consigo fazer sozinho.


Sempre em reabilitação física, mas também psicológica e emocional, sigo em busca de uma consciência plena através do amor, emanando e recebendo energia positiva para uma vida saudável e alegre, posso afirmar que estou vivendo a melhor fase da minha vida! 

Com Hebert Vianna
Ainda em fase de aceitação, pois sempre tive um gênio forte, e uma personalidade difícil – ora depressivo, ora ansioso, hoje me sinto leve. Aceito aquilo que não depende de mim e que eu não posso mudar, e vou atrás daquilo que posso transformar, com coragem e positividade para atrair tudo que é bom para minha vida. 


Hoje estou namorando uma pessoa maravilhosa, independente, positiva, consciente e verdadeira. Ela tem seu trabalho, também faz exercícios e corre em montanhas, e sem dúvidas recebe de mim todo amor e reciprocidade que existe em qualquer relacionamento. Temos nossa vida sexual ativa, saímos, encontramos amigos, viajamos, realizamos diversas coisas juntos e, como todo casal apaixonado, também sonhamos e fazemos planos.


Atualmente também faço terapia com uma psicóloga de abordagem comportamental cognitivista, trabalhando com crenças e aprendizado. Tenho lido e pesquisado muito sobre leis da atração universal, e programação neurolinguística. Participo de sessões de reiki e estou aberto a todas as possibilidades desse nosso universo – tudo isso visando a evoluir. Não sou religioso, mas tenho minha espiritualidade e respeito a opção e vontade de todos.


Vivo numa pequena cidade, onde luto para sempre receber medicamentos, o custeio de terapias e condução da prefeitura municipal. Assim, costumo compartilhar tudo isso que eu enfrento nas redes sociais, elucidando e encorajando outros que estão nessa mesma situação, a lutarem por seus direitos. Com isso, tenho recebido convites para trabalhos de universitários e palestras motivacionais.


Agora, aceitando o convite do amigo Marcelo Augusto D'Amico, criador do Comunica Tudo, pretendo dividir com os leitores um pouco sobre minha vida, reabilitação, adaptações que facilitam nossa vida, as principais dificuldades e soluções, além da falta de acessibilidade e um pouco do que sei sobre nossos direitos, mercado de trabalho e outros temas que possam surgir. 


Qualquer um que tiver curiosidade e quiser entender um pouco mais sobre mim, minhas limitações e ‘eficiências’, pode acessar o meu perfil público no Instagram.com/rferraz_carpi/, ou solicitar amizade no Facebook.com/ferraz.r e em outras redes sociais.

É trocando informações que alcançaremos a experiência de ser independente para encarar o novo. Por isso eu grito: tetraplégicos, uni-vos!

(Via Rafael Ferraz Carpi de Andrade Lima, jornalista)

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