SÃO PAULO – Com medo de perder o emprego e com a Renda corroída pela inflação dos últimos anos, as famílias brasileiras se viram forçadas a reduzir as dívidas. O resultado foi que o comprometimento da renda com o pagamento de parcelas de financiamentos e empréstimos recuou agora para 30%, voltando a um patamar considerado saudável por planejadores financeiros. É o que mostra a “7ª Radiografia do endividamento das famílias”, elaborado pela Fecomércio-SP, que revela também que mais de 600 mil famílias livraram-se de suas dívidas no ano passado.
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— Chama a atenção a rapidez com que as famílias se adaptaram ao momento de crise. A inflação em alta, que persistiu até o ano passado, e o temor do desemprego fez com que elas reduzissem o consumo, evitando comprometimento da renda futura em um cenário de incerteza — explica Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio.
Um dos responsáveis pela elaboração do estudo, Carvalho ressalta que a redução no número de famílias endividadas ocorreu mesmo com a contração na renda decorrente da inflação elevada de 2015 e 2016. O levantamento leva em conta a evolução de 2015 para 2016, mas, na avaliação do economista, essa melhora no perfil de endividamento deve se repetir nos dados de 2017.
No Rio, 52% estão endividados
Pelo estudo, é considerada endividada toda a família que tem algum compromisso financeiro além dos gastos considerados essenciais (despesas com alimentação, transporte, aluguel, contas de consumo). Esse número era de 9,485 milhões de famílias em 2015 e passou para 8,869 milhões no ano passado. Já o comprometimento de renda caiu de 32% do salário para 30%.
Segundo Carvalho, além da postura mais cautelosa por parte das famílias, que estavam com medo do desemprego e adiaram a compra de bens duráveis, os bancos também ficaram mais criteriosos na concessão do crédito. Com os sinais de retomada, a expectativa é de maior demanda por crédito, mas sem elevação do endividamento, uma vez que a renda das famílias tende a crescer com a queda da inflação e a volta do emprego.
O levantamento mostra ainda que as capitais com maior percentual de famílias endividadas são Curitiba (87%), Florianópolis (86%) e Boa Vista (83%). As com menor percentual são Belo Horizonte (24%), Goiânia (27%) e Belém (42%). São Paulo e Rio têm 52% das famílias endividadas.
Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, como as famílias tiveram um processo de desalavancagem — ou seja, redução das dívidas — mais rápido do que o das empresas, estão em uma situação mais favorável para voltar ao consumo.
— Já vemos um apetite maior dos consumidores. E acredito que agora o consumo será mais consciente, porque o cliente já passou pela experiência da superoferta de crédito. Ele já tem uma experiência adquirida que leva a uma evolução mais tranquila do consumo com uso do crédito sem superendividamento.
O repasse da queda da Selic para os juros é outro fator que deve estimular a procura por crédito, agora com menor pressão sobre a renda.
OGlobo