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Podcast #092 — Diabetes Tipo 1 Simplificado, Com A Médica Fit Diabética Dra. Vanessa Corvino

O que o Diabetes Tipo 1 e o diabetes tipo 2 têm de semelhante é só o nome — porque são quadros bem distintos.”

Diabético tipo 1, com a glicemia controlada, é como se não fosse.”

Este é um episódio de podcast obrigatório para quem é (ou conhece alguém) diabético tipo 1.

Nós recebemos a dra. Vanessa Corvino, que é médica e também portadora de diabetes tipo 1, ou DM1.

Além de muito conhecimento, ela também tem uma vida saudável e um corpo em forma — conforme indicado pelo seu nome de usuária no Instagram “Médica Fit Diabética”.

Hoje, ela compartilha um pouco de seu conhecimento e vivência prática com a Gente

Então, escute atentamente até o final para saber:

  • Como foi receber o diagnóstico de DM1 aos 10 anos de idade,
  • Quais são as semelhanças e diferenças entre os diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2,
  • Como a Vanessa conheceu sobre low-carb e mudou sua alimentação (e o que aconteceu a partir daí),
  • Por que a dieta low-carb pode ser uma excelente alternativa para diabéticos tipo 1,
  • É possível ser saudável, e em forma, e “fit” sendo DM1?
  • Por que as recomendações atuais para DM1 não contemplam a dieta low-carb como alternativa?,
  • Diabéticos tipo 1 podem fazer jejum intermitente? Descubra um benefício secreto que essa prática traz,
  • Como falar com seu médico sobre low-carb e jejum,
  • Cetose e cetoacidose — o que o diabético precisa saber,
  • Um novo aplicativo para ajudar diabéticos a acertar a dose de insulina,
  • Os hábitos saudáveis da Dra. Vanessa — e que podem ser úteis a você,
  • A mensagem final da Vanessa para você,

E muito, muito mais.

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Ele é bastante ativa no Instagram, tanto na sua conta pessoal quanto na do aplicativo (que mencionamos na entrevista):

  • Instagram pessoal: https://www.instagram.com/medicafitdiabetica/ 
  • Instagram Insulin Calculator: https://www.instagram.com/insulincalculator/ 

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Tem episódios novos todas as segundas e sextas-feiras.

Se você se interessa pelo tópico de diabetes tipo 1, vale a pena também conferir estes outros 2 episódios do podcast:

  • Podcast #045 — Endócrino Janaína Koenen Fala De Dieta Cetogênica Para Diabetes Tipo 1 E Enxaqueca
  • Podcast #057 — Diabetes Tipo 1, Nutrição, E Crianças, Com Nutri Tatiane Attilio

Agora, curta essa verdadeira aula com a Dra. Vanessa Corvino — que é oferecida pelos nossos apoiadores.

Após nosso agradecimento a eles, você encontra a transcrição completa do episódio.

Obrigado Aos Apoiadores Do Podcast

Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. 

Somos Guilherme e Roney, e aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo. 

Antes de irmos ao episódio em si, queremos agradecer aos apoiadores que tornam este projeto possível.

Apoiador #1 — Loja Online Tudo Low-Carb

Este podcast é um oferecimento da loja online Tudo Low-Carb

A Tudo Low-Carb é uma loja que vende somente produtos que se encaixam numa dieta low-carb e cetogênica

Lá você vai comprar de tudo, desde farinhas low-carb até adoçantes como xilitol, eritritol, e estévia.

Além de temperos e produtos naturais, feitos com comida de verdade. 

Nós conhecemos pessoalmente Eliana, fundadora da loja.

E ela nos garantiu que monitora constantemente os valores para que a Tudo Low-Carb tenha os melhores preços dos adoçantes xilitol, eritritol e da farinha de amêndoas.

Então, se esse é seu caso, se você quer comprar ingredientes para receitas low-carb, recomendamos acessar a Tudo Low-Carb — porque lá é garantido que você vai encontrar. 

Apoiador #2 — Medidor de cetonas Uaiketo

Esse podcast também é um oferecimento do Uaiketo — e o que é o Uaiketo? 

O Uaiketo é um aparelhinho que serve para medir o seu nível de cetose através do hálito. 

A gente achou muito interessante esse aparelho porque você pode saber o seu nível de cetose sem ter que furar o seu dedo ou fazer um exame de sangue para isso. 

É um aparelho realmente revolucionário no mercado — e o mais legal é que o Uaiketo é uma tecnologia 100% brasileira. 

O Iago, criador deste aparelho, entrou em contato com a gente, e a gente achou super legal divulgar essa iniciativa —  é por isso que hoje o Uaiketo é um dos patrocinadores aqui do podcast. 

A gente recomenda que você conheça esse aparelho, se a sua intenção é saber o seu nível de corpos cetônicos. É só acessar uaiketo.com.br.

Apoiador #3 — Nossos alunos do Guia Dieta Cetogênica

Este podcast só existe graças aos alunos do nosso programa VIP Guia Dieta Cetogênica

O Guia Dieta Cetogênica é um curso em vídeo com todas as informações, passo a passo, para você seguir uma dieta cetogênica de sucesso. 

E como bônus para você que escuta os nossos podcasts, a gente colocou dentro do programa, na área de membros especiais, todos os nossos livros e manuais digitais já publicados até hoje. 

Então, são centenas de receitas. Tem também o nosso livro de apoio, com 120 dúvidas sobre alimentação saudável respondidas, com prefácio do Dr. José Neto, um livro super elogiado por profissionais como Dr. Rodrigo Bomeny, Danilo Balu e por vários e vários convidados que já passaram pelo nosso podcast.

E ainda tem tabelas, infográficos, textos explicativos, resumos em pdf, um grupo secreto no Facebook e muito, muito mais. 

Então, convido você a conhecer o nosso programa Guia Dieta Cetogênica.

Transcrição Completa Do Episódio Com A Vanessa Corvino

Guilherme: Olá, Tanquinho. Olá, Tanquinha. Sejam muito bem vindos a mais um episódio do nosso podcast. E a nossa convidada de hoje é a Vanessa Corvino, que é médica, é fit e é diabética também. Tudo bem, Vanessa?

Vanessa: Oi, Guilherme, tudo joia. Obrigada pelo convite, fico muito feliz em participar do podcast de vocês. 

Roney: O prazer é nosso em ter você aqui com a gente, Vanessa. 

E, bom, vamos começar então apresentando você para o nosso público, para quem não te conhece. Quem é a Vanessa e de onde surgiu o seu interesse pela medicina?

Vanessa: Perfeito, então, o meu nome é Vanessa, como vocês já sabem. 

Eu sou médica, me formei em 2014 e acabei me especializando em pediatria, fiz residência em pediatria logo depois da medicina.

E enquanto eu fazia a minha residência de pediatria que eu me envolvi mais com esse lado de uma alimentação mais saudável. 

O interesse pela medicina em si surgiu pelo fato de que eu tenho diabetes tipo 1 desde os 10 anos, então já desde nova eu fiquei com o contato muito próximo com profissionais médicos e essa rotina, e estudava muito também sobre saúde. 

Então o meu interesse sobre a medicina veio nascendo daí e foi só crescendo.

Lidando Com O Diabetes Tipo 1: Médica E Paciente

Guilherme: Ah, que incrível. Acho que um ponto legal é mencionar que a gente acabou conhecendo você pela primeira vez, tendo esse contato pela primeira vez pelo Instagram, que você mencionou a parte do médica e fit e diabética — que tá inclusive no seu perfil.

E é bacana a gente falar um pouquinho disso porque você mencionou o interesse pela medicina, falou um pouquinho da sua descoberta da diabetes em si, como é que foi esse processo e como que você lidou com a evolução dessa descoberta da diabetes, desde quando você descobriu até hoje em dia?

Vanessa: Então, o diagnóstico, como eu falei, foi aos dez anos de idade, então eu era muito novinha. Eu acho que eu não tinha a real dimensão, assim, do diagnóstico que eu tava recebendo. 

O meu diabetes é o diabetes tipo 1, é aquele diabetes que é mais comum de acontecer nessa idade que eu desenvolvi, ali na infância, na pré-adolescência.

Porque, na verdade, é um quadro autoimune que faz a destruição das células beta, que são as células produtoras de insulina, então essa transição aí, esse início foi um baque muito grande. 

Eu imagino que meus pais tiveram um baque até maior do que eu, eu ali como criança só entendi que eu ia ter algumas mudanças nas minhas rotinas, mas não interiorizei nenhum tipo de sofrimento, sabe? 

Foi até bem tranquilo, eu vejo alguns pacientes e familiares tendo um processo bem mais difícil de aceitação. 

Para mim foi super tranquilo, eu simplesmente adotei os novos hábitos e só ali na adolescência que eu tive alguma dificuldade de lidar com o diagnóstico, que é um pouquinho mais chato, assim, na rotina, mas foi basicamente isso. 

E aí, o interesse pela medicina veio aos poucos, como eu falei. 

Então, lá quando eu precisei escolher a minha graduação, eu já estava certa de que a medicina seria uma boa opção pra mim, e aí esse interesse pelo diabetes foi crescendo ao longo da graduação. 

No início eu não tinha essa noção, sabe, de que eu ia me embrenhar tanto para esse lado do diabetes e dessa questão toda.

Diabetes Tipo 1 E Diabetes Tipo 2: Quais São As Diferenças

Roney: Perfeito, Vanessa. E você falou que descobriu isso por volta dos dez anos, e só para o pessoal entender como que se dá o processo do diabetes tipo 1, e ele é diferente do diabetes tipo 2, e por que que isso só aconteceu aos dez anos? 

Até os dez anos você teve uma vida normal? Ou isso foi desencadeado também por questões alimentares e de hábitos? 

Vanessa: Então, realmente o que o diabetes tipo 1 e o diabetes tipo 2 têm de semelhante é só o nome — porque são quadros bem distintos. 

Então, o diabetes tipo 1, eu tive dez anos da minha vida sem qualquer diagnóstico, então eu tinha uma vida normal, eu me alimentava normal, não precisava usar nenhum tipo de medicação e não tinha nenhuma alteração em nenhum exame. 

O diabetes tipo 1 é caracterizado por um processo autoimune, que é desencadeado de uma forma que em geral é bem agudo.

Em poucas semanas você acaba evoluindo com destruição massiva das células beta do pâncreas.

E, nesse período, nesse curto período de tempo, você perde a capacidade de produção de insulina. 

E o que desencadeia esse processo autoimune?

Existem muitos estudos envolvendo tudo isso, mas não há uma resposta definitiva… a maioria dos pais ou pacientes esperaria, talvez, uma resposta mais certeira. 

Na verdade é uma interação complexa entre fatores genéticos, então, o paciente que tem diabetes tipo 1, ele tem uma predisposição genética para doenças autoimunes.

E essa predisposição genética encontra fatores ambientais, que são fundamentais, para gerar o desencadeamento desse processo. 

E esses fatores ambientais são muito diversos. 

Eles estão sim associados à alimentação, mas de uma forma não tão associada às alterações da alimentação de um paciente que acaba evoluindo com diabetes tipo 2, que tem um quadro de resistência à insulina (que nesse caso seria uma alimentação muito rica em carboidrato refinado, em açúcar e em farinha). 

Então, o paciente com diabetes tipo 1, normalmente é uma alimentação muito rica em industrializados, conservantes, às vezes o glúten seria algo ligado também.

São coisas que fazem a imunidade da pessoa responder de uma forma diferente. 

Então, a alimentação tem o seu papel, mas de uma forma um pouco diferente. 

E os outros fatores ambientais incluem até infecções virais. 

Tem certos vírus que têm uma composição molecular muito parecida com a célula beta, então você produz um anticorpo contra aquele vírus, e aí esse anticorpo pode, por uma reação cruzada, atacar a sua célula beta, por exemplo, e aí não tem muita relação com a alimentação né. Então são várias deficiências de vitamina D, que também tem interação com a imunidade; microbiota intestinal, sabe, é bastante complexo, a gente não consegue dizer assim, ah, o que causou o seu diabete tipo 1 foi tal e tal: é uma coisa bem complexa mesmo. 

Roney: Tá, então, só pra fechar essa questão, não dá para quando a pessoa nasce, ela já está necessariamente destinada a ter o diabetes tipo 1, ou não? 

Vanessa: Não, não necessariamente, tem muita gente que tem a predisposição genética para doenças autoimunes, mas nunca vai manifestar nenhuma delas.

Nem o diabetes tipo 1, nem nenhuma doença autoimune. 

Então, o fato de você ter essa predisposição genética não é garantia que você vai evoluir com a doença? Não. 

É simplesmente uma predisposição, sabe?

Então você pode ter esses genes, mas nunca evoluir, e assim como a gente pode ter pessoas que não têm os genes — porque quem garante que a gente mapeou todos os genes possíveis associados ao Dm1? 

E você pode não ter o gene, até porque ninguém faz esses testes genéticos, são muito caros. 

E por outras razões ambientais muito importantes, e às vezes um gene que nunca foi mapeado, a pessoa tem essa interação aí e acaba desenvolvendo. 

Tanto é que irmãos gêmeos, pode ser que um desenvolva o diabetes tipo 1 e o outro não. 

Eu tenho pacientes assim, que é irmão gêmeo, ele tem diabete tipo 1 e o irmão dele não tem. 

Então, realmente, esses fatores ambientais são muito mais decisivos do que a genética: a genética é só a predisposição.

Sou DM1, E Agora? Como Lidar Com O Diagnóstico

Guilherme: A gente, com o avançar da ciência, tem visto cada vez mais isso, que existe uma influência muito grande dos genes, claro, mas também de fatores ambientais, que podem ativar ou desativar esses genes, que podem influenciar de maneiras diversas, que vão muito além daquela ideia antiga de que a genética seria uma espécie de destino. 

Vanessa: Exatamente.

Guilherme: E, falando em destino, eu acho que existe bastante essa questão de que a pessoa com diabetes tipo 1, muitas vezes ela recebe o diagnóstico.

E ela fica um pouco abalada, até emocionalmente, por entender que ela vai ter essa condição, que muitas vezes exige um tratamento e um monitoramento em tempo integral dali pra frente. 

Como que foi esse processo para você e como que você ajuda pacientes a lidarem melhor com esse choque, com esse baque que pode acontecer?

Vanessa: Então, como eu comentei, eu acho que pelo fato de eu ter sido diagnosticada muito nova, eu não tenho uma lembrança de ter sido um período muito conturbado. 

Mas o que eu uso muito para os pacientes que eu vejo serem recém diagnosticados, tanto os que me acompanham lá no Instagram, como os meus pacientes mesmo, eu tento mostrar, e até quanto eu tô assim, num pronto socorro, que como eu sou pediatra, eu trabalho em pronto socorro, às vezes eu atendo um paciente que acabou de receber o diagnóstico, né. 

Então, eu percebo que o simples fato de eles me verem como uma pessoa que tem uma vida normal, que faço atividade física, me alimento como qualquer outra pessoa, tenho a minha profissão, sou médica, independente, não tenho nenhum tipo de limitação na minha vida hoje por conta desse diagnóstico. 

Então, eu acho que essa é a melhor forma que eu tenho de tranquilizar tanto o paciente que recebeu esse diagnóstico, como o familiar próximo que fica preocupado, né. 

Quando eu chego para o pai que acabou de receber o diagnóstico e falo, “olha, eu tenho diabetes tipo 1 também, fui diagnosticada na infância”, o olho do pai chega a brilhar.

Essa é uma forma que eu gosto de mostrar para as pessoas de que não tenho o que temer desde que a gente se envolva com o tratamento. 

Então isso aí me ajuda bastante e o restante é educar, porque diabetes tipo 1 é uma doença em que o paciente precisa estar envolvido com o tratamento da doença.

A gente diariamente toma várias decisões de alimentação, de cálculo de insulina, então, o paciente precisa estar disposto a estudar sobre isso e se educar para conseguir ter esse estilo de vida saudável. 

Então, são as duas formas que eu tenho de fazer um paciente aceitar da melhor forma possível, entendendo que não é esse bicho de sete cabeças e se educando para conseguir domar as dificuldades, as mudanças que ele vai ter que enfrentar, né.

Dieta Low-Carb Para Diabéticos Tipo 1

Roney: Certo, Vanessa. E, quais são as mudanças básicas que você passou, as mudanças alimentares que você passou depois do diagnóstico, e a partir de que momento você descobriu a abordagem mais baixa em carboidratos, e com muita liberdade? 

Vanessa: Então, quando eu recebi o diagnóstico, a minha orientação alimentar foi a mais tradicional possível, aquela alimentação de se alimentar de três em três horas, de uma alimentação rica em fibras, em cereais integrais, em frutas, em evitar gorduras, toda aquela coisa. 

Então, foi isso que eu fiz por quinze anos da minha vida: eu tenho o diagnóstico há vinte anos, então quinze anos da minha vida foi isso que eu fiz porque era essa a orientação que eu recebia, né. 

E aí quando eu entrei em contato com a low-carb, que foi há mais ou menos uns cinco anos, através até do Dr. Souto, eu, por conta própria, comecei a praticar aquilo e tive uma mudança gigantesca no meu tratamento, no meu controle glicêmico. 

E foi a partir daí que eu comecei a me interessar muito sobre esse assunto, eu comecei a estudar muito. 

Eu tinha uma cobaia em casa, que era eu mesma, então cada mudança que eu fazia nesse sentido, eu me reforçava ainda mais de que eu tava no caminho certo. 

Então, eu fui estudando isso cada vez mais, e eu tinha já nessa época o meu perfil do Instagram, então eu comecei a compartilhar todas essas mudanças, e aí eu comecei a falar cada vez mais sobre a low-carb para o diabetes tipo 1.

E a gente já fala de low-carb há tempos, mas é algo que ainda gera certa polêmica. 

E para o diabetes tipo 1, mais polêmica ainda. 

Então, eu tive que viver toda essa transição, e aí hoje o meu público já me entende, já me acompanha pelo fato de eu utilizar a low-carb como parte do meu tratamento. 

Roney: Sem dúvidas, e foi também por isso que a gente chegou até você, né. 

E, Vanessa, quando a gente fala de diabetes tipo 2 e low-carb, é interessante porque justamente as pessoas com diabetes tipo 2 têm uma resistência à insulina né, e ficar evitando elevar essa insulina toda hora, é interessante para esse tipo de paciente, por isso que a dieta low-carb faz total sentido no diabetes tipo 2. 

Agora, no diabetes tipo 1, é o mesmo mecanismo? Qual que é a diferença desses mecanismos e como que a dieta baixa em carboidratos pode ajudar?

Vanessa: Perfeito, no diabetes tipo 1, os mecanismos e as vantagens de uma abordagem low-carb são um pouquinho diferentes porque, à princípio, um paciente com diabetes tipo 1 não tem resistência à insulina. 

É claro que pode ter, a gente pode até comentar isso mais pra frente. 

O paciente com diabetes tipo 1, que tem um estilo de vida muito desregrado, ele pode acabar desenvolvendo resistência à insulina também, e aí ele vai ter os dois quadros associados. 

Mas, via de regra, o paciente com DM1 não tem resistência à insulina. 

E aí, essa abordagem low-carb ela vem muito mais para — são várias as vantagens, na verdade —, mas a primeira que eu citaria seria: com a redução da quantidade de carboidrato da alimentação, a gente consegue reduzir as doses de insulina, e a gente consegue melhorar o controle glicêmico, trazendo uma estabilidade glicêmica.

Porque o paciente que tem diabetes tipo 1, como ele não produz nada de insulina, a cada refeição que ele faz, em geral, ele precisa parar, fazer um cálculo, e fazer uma dose de insulina correspondente àquela alimentação. 

Então, se ele faz isso de três em três horas, e com uma alta carga de carboidrato, ele tá o dia inteiro colocando carboidrato para a glicemia subir, e colocando uma alta dose de insulina para a glicemia cair, e aí ele entra no que a gente chama muito de montanha russa

E essa variação glicêmica a gente sabe que é muito deletéria ao longo do tempo.

Então a low-carb faz com que você consiga ter ondas de glicemia muito mais suaves, doses de insulina muito mais baixas. 

Essas doses mais baixas também reduzem a possibilidade de erro nesse cálculo, porque por mais ambientada que a pessoa esteja — mesmo eu, que estudo muito isso, que sei fazer toda a contagem de carboidrato — a gente acaba errando um pouco nessas doses, e aí se você erra uma dose que era para ser 10 ou 8, é diferente de errar uma dose que era para ser 1 ou 2, que é o que acontece na low-carb. 

Então, esses erros são bastantes diminuídos. 

Com as doses mais baixas, a gente tem muito menor incidência de hipoglicemia, que é uma complicação aguda do diabetes tipo 1, que muitos pacientes e médicos levam isso como algo normal, algo que deveria ser corriqueiro. 

E com a low-carb, eu conseguir reduzir, assim, drasticamente, tanto a frequência, e principalmente a intensidade das hipoglicemias, porque as doses são mais baixas, né. 

E, outra coisa que a gente colhe também de benefícios, é em relação ao controle da fome, que na verdade é um benefício que mesmo um diabético tipo 2, ou quem faça low-carb por gosto mesmo também tem: a gente se sente saciado por mais tempo.

E, para quem tem diabetes tipo 1, isso também é uma vantagem porque, em geral, eu percebo que os pacientes com diabetes tipo 1 sentem muita fome, justamente porque essa variação glicêmica é muito intensa ao longo do dia, fora a qualidade de vida, porque essa variação glicêmica traz certos sintomas desnecessários na nossa rotina. Então, a paz do tratamento é incomparável. 

É Possível Ser Saudável Sendo DM1?

Guilherme: Excelente, excelente. E, eu acredito que você mencionou algumas vantagens da dieta baixa em carboidratos para quem é DM1.

E existe tem um certo temor, uma certa crença que a gente vê em alguns círculos sobre uma certa inevitabilidade de ser saudável, de ter uma boa forma física usando a insulina, por ser um hormônio anabólico. 

Você poderia clarificar um pouco dessa confusão? Por que que isso não é necessariamente verdade?

Vanessa: Certo. Então, assim, realmente, a insulina essa função anabólica, e aí uma diferença que eu gosto de comentar, é que esse anabolismo ele não é restrito para gordura, nem para proteína: o anabolismo acontece para os dois lados. 

E aí o que vai definir, o que vai predominar é o estilo de vida da pessoa. 

Então, uma pessoa que se alimente de forma compatível, que faça atividade física, ela consegue ter uma forma física incrível

E a dose de insulina vai estar compatível com aquela alimentação. 

Agora, o paciente que se alimenta de uma forma totalmente desregrada, a insulina vai vir como um potencial anabólico para fazer ele ganhar gordura em excesso, e ter dificuldades de emagrecer, se ele estiver usando doses excessivas de insulina.

Então, esse equilíbrio da insulina é muito importante para o paciente que está preocupado com o corpo. 

E, uma vez que você faz uma alimentação compatível com quem quer ter um corpo saudável, pratica atividade física e ajusta as suas doses, o paciente com diabetes tipo 1 pode ter um corpo incrível.

E ele pode fazer atividade física com frequência e ter um ótimo desempenho físico — e isso eu falo muito no meu Instagram também, porque eu sou acostumada a fazer atividade física desde muito nova. 

Isso nunca foi algo que me atrapalhou, pelo contrário: sempre usei isso a meu favor. 

Por Que Não Se Recomenda Low-Carb E Cetogênica Para Diabetes Tipo 1

Roney: A gente falou um pouquinho de low-carb e de cetogênica, mas você falou que a recomendação que você recebeu inicialmente foi bem diferente disso.

Foi mais uma restrição de gorduras e comer a cada três horas, que também é bem diferente, como você falou, de uma low-carb, que você acaba espaçando mais as suas refeições, porque você acaba tendo menos fome. 

E por que você começou essa recomendação, ou por que que ela ainda permanece, essa recomendação de baixa gordura, de comer frequentemente, comidas ricas em carboidratos, justamente para pessoas que talvez não vivem tão bem com carboidratos?

Vanessa: Então, porque essa era a recomendação para qualquer paciente, não só para o paciente que tem a diabetes tipo 1.

Por muito tempo, o paciente que quer ter uma alimentação saudável era orientado a fazer isso. 

E a gente sabe que as origens disso estão em ciência, que foi mal feita e há décadas atrás, então, isso daí com certeza influenciou muito. 

No caso específico do paciente com diabetes tipo 1, antes da descoberta da insulina, o paciente que recebesse o diagnóstico, ele estava fadado à morte, em semanas ou meses eles iria morrer porque sem insulina a gente não consegue sobreviver.

E aí, com a descoberta da insulina, os profissionais começaram a não pesar um pouco na quantidade de insulina que estava sendo prescrita, então, era mais ou menos essa lógica de que “uma vez que você usa insulina e você coma o suficiente para estar dando certo aquela conta, você pode seguir a vida”. 

E aí, as doses de insulina começaram a ficar muito elevadas, então o paciente que era diabético tipo 1, recebia uma dose de insulina que, muitas vezes, não estava compatível para as necessidades dele.

E isso realmente o obrigava a comer de três em três horas, se não ele teria uma hipoglicemia, que também a gente sabe que pode levar à morte se não for tratada. 

Então, talvez esse mito foi reforçado ainda mais no paciente que tem diabetes tipo 1, por conta dessa insulinização que é exagerada, então essas doses elevadas fazem o paciente não conseguir fazer algo que seria normal, que é permanecer mais do que três sem se alimentar, sem ficar com sintomas e ter uma hipoglicemia. 

Quem Tem Diabetes Tipo 1 Pode Fazer Jejum Intermitente?

Roney: Com certeza. E, a gente já tocou no assunto de dieta baixa em carboidrato, e comida de verdade. 

Um outro assunto que a gente fala bastante nos nossos perfis, no site, e à respeito do jejum intermitente

E as pessoas com diabetes tipo 1, elas podem praticar o jejum? Quais são os cuidados para iniciar essa prática?

Vanessa: Perfeito. Podem sim, inclusive eu pratico o jejum já há bastante tempo. 

O principal cuidado que a gente tem que ter é que o paciente precisa estar bem orientado sobre as mudanças de doses de insulina que isso vai gerar. 

Então, idealmente, tanto em mim quanto em um paciente que chega pra mim, eu tento ajustar o tratamento dele para que a gente encontre uma dose de insulina, porque talvez, eu não sei se todo mundo que tá escutando a gente entenda tão bem, a gente tem basicamente, um paciente que usa insulina por caneta, por aplicação, sem ser aquela bomba de insulina, ele usa dois tipos diferentes de insulina, que é o que eu faço. 

Então, a gente usa uma insulina, que é uma insulina que tem um efeito basal, que é um efeito para cobrir as nossas necessidades metabólicas, nos momentos justamente em que a gente está em jejum, e a gente usa uma outra insulina que tem um efeito mais rápido para cobrir as necessidades de insulina das refeições. 

Então, essa dose de insulina basal, ela tem que estar muito bem ajustada para cobrir apenas as nossas necessidades metabólicas, para que você consiga permanecer em jejum sem ter hipoglicemia, que é o que eu tava falando na resposta anterior. 

Então, se essas doses estiverem muito altas, o paciente não vai dar conta de fazer o jejum, por isso que ele precisa estar bem acompanhado, porque provavelmente um paciente que não faz jejum, e começa a querer praticar, a gente vai ter que fazer esse ajuste, ou previamente, se a dose já estiver muito exagerada, ou naturalmente, porque ele vai aumentando aquele jejum e aí vai percebendo que as doses estão sendo excessivas. 

Então, a principal questão é saber que as doses de insulina precisam estar bem ajustadas para que ele consiga permanecer em jejum sem ter uma hipoglicemia

Esse daí é o principal cuidado. 

Outro cuidado também que pode causar muita confusão, é o paciente que acha que a gente só precisa de insulina para a alimentação, e aí ele pensa que se ele não vai comer, ele não vai aplicar insulina.

Isso é um grande mito, e é um mito perigoso, porque, como eu já expliquei também, sem insulina a gente morre. 

Então, o paciente que vai ficar sem se alimentar, não significa que ele vai ficar sem insulina, significa que ele vai ficar com uma dose de insulina muito mais baixa.

No meu caso, como a minha basal é muito bem ajustada, eu uso apenas aquela insulina basal, e ainda assim, às vezes, eu preciso vir com uma insulina ultra rápida, em pequena dose, porque com a gliconeogênese e as mudanças hormonais que o jejum traz, a nossa glicemia tende a querer subir.

E aí um paciente que produz insulina normalmente, vai fazer essa produção de forma fisiológica, e a glicemia dele nem vai variar. 

E o paciente que tem DM1, e que não está bem orientado, ele pode ter elevações glicêmicas nos momentos de jejum, e não entender ou nem sequer medir a glicemia para ir atrás dessa alteração e fazer a correção. 

E aí ele pode ficar, sei lá, um dia inteiro sem se alimentar e se ele não tiver bem orientado, ele vai achar que não precisa de insulina e aí ele tem o perigo de ter a cetoacidose, que é uma complicação que é grave, que o paciente precisa entender o que que pode e o que que não pode para ele não ter esse risco. 

Benefícios Do Jejum Intermitente Para DM1

Guilherme: Sim, então, na verdade, o lado que ele tem que tomar atenção, que é justamente a mudança da insulina e o ajuste das doses, acaba sendo um dos benefícios dessa alimentação e da estratégia do jejum.

Porque com jejum e low-carb você precisa de um menor uso do medicamento, do hormônio.

E justamente com isso, apesar de continuar necessitando um monitoramento de perto, você consegue usar doses menores, e com menores variações da glicemia sanguínea, seria isso?

Vanessa: Exatamente, exatamente. 

Eu enxergo como uma vantagem, uma estratégia terapêutica que é muito vantajosa para quem tem diabetes tipo 1, porque justamente isso, simplifica a nossa vida. 

Se a gente for pensar, a principal variável que faz nossa glicemia ter variações é a alimentação. 

Porque são muitas coisas que influenciam na nossa glicemia, mas a alimentação é a que vai influenciar de uma forma mais expressiva. 

E se a gente retira por tantas horas do nosso dia uma alimentação ou várias refeições que o paciente faria, a gente está retirando algo que é a principal variável, a gente está facilitando a vida do paciente, e a gente faz isso não de uma forma desconfortável, porque a gente sabe que o jejum, quando ele é bem implementado, ele acontece de forma natural.

Então é confortável para o paciente não fazer a refeição, e ainda por cima ter um controle glicêmico muito mais tranquilo.

Ele não tem que ficar parando para fazer cálculo de insulina, não tem que ficar carregando aquele bando de lanchinho com medo de ter hipoglicemia, que foi algo que eu vivi a minha vida inteira, então eu tava sempre com doce na bolsa, porque o risco de hipoglicemia era muito alto. 

Quando eu estou em jejum — ao contrário do que muita gente pensa — é justamente o momento em que eu não tenho risco de ter hipoglicemia.

Porque eu não tenho insulina ultra rápida, ativa no meu corpo, eu tenho ali só a basal segurando o meu metabolismo. 

E enquanto a fome não vier, não tem porque eu inserir aquilo na minha rotina, né. Então, do ponto de vista de controle glicêmico, é uma estratégia muito interessante mesmo.

Como Falar Com Seu Médico Sobre Low-Carb E Jejum

Roney: Perfeito, Vanessa. 

E, quem está ouvindo a gente agora, provavelmente gostou muito dessa ideia de uma alimentação baixa em carboidratos, ou mesmo do jejum, dessa maior independência, maior controle. 

Só que, por outro lado, a gente sabe que muitos profissionais estão mais alinhados a essa filosofia antiga, igual essa recomendação que você recebeu lá atrás. 

E como você acha que é uma boa maneira de a pessoa introduzir esse assunto num consulta, dar essa sugestão, talvez, falar que gostaria de testar essa outra abordagem alimentar. 

Como que poderia ocorrer essa conversa?

Vanessa: Então, é difícil para mim…  Porque para mim a melhor estratégia é a low-carb

É claro que isso é muito individual, tem paciente que não se adapta que, como a gente conversou no início, como não tem resistência à insulina, não chega a ser uma abordagem obrigatória como tende a ser no diabetes tipo 2, né. 

Mas eu tendo a pensar que a melhor opção para o paciente, seria que a gente sempre desse essa opção de tratamento para ele, o que eu menos vejo acontecer é isso. 

Então, o paciente já sai ali dos primeiros contatos com esse diagnóstico com vários mitos já introduzidos na rotina dele que, na verdade, não são realidade, que seriam todas essas questões de alimentação de três em três horas, de ter que sempre inserir integrais, de ter que evitar gorduras por conta de complicações cardiovasculares, sendo que a gente sabe que essa relação não existe

Na verdade, o que ele precisa é controlar a glicemia para não ter esse tipo de complicação.

Então, o que eu acho que seria a melhor abordagem é a gente dar essa opção de estratégia alimentar, mostrar todas as vantagens possíveis de estabilidade glicêmica, controle da fome, menor erro no cálculo, mais qualidade de vida, menos cansativa aquela rotina…

Porque o diabetes tipo 1 tem uma rotina cansativa, dependendo da forma como é introduzido o tratamento. 

Eu acho que a melhor opção é essa.

Dando essa opção, mostrando todas as vantagens e, às vezes, até pedindo para o paciente fazer um teste — porque eu acho que isso é o suficiente para conquistar a maioria dos pacientes, sabe.

Quando eu comecei a low-carb, eu fui assim, de mente aberta para ver o que ia acontecer.

Eu ainda estava um pouco receosa de que talvez não fosse a melhor opção pra mim, mas os resultados me convenceram, e todo o meu bem estar, qualidade de vida, isso daí por si só já foi o suficiente. 

E acho que, uma coisa também que é interessante de falar, é que a low-carb no DM1, ela não precisa ser restritiva, sabe?

Então alguns pacientes pensam, “ah, mas isso é muito restrito, eu nunca mais vou poder comer um pão, vou poder comer uma pizza com a minha família”. 

De forma alguma, você pode fazer essas exceções, mas não programe na rotina. 

Então, um paciente que sai com o planejamento alimentar e que tem então todos os dias prescritos para ele, que ele saiba que ele não precisa daquele alimento, que ele tem outras opções de alimentos muito mais nutritivos, mas que não chega a ser uma proibição, de forma alguma. 

Então, a transição pode ser a intensidade da low-carb, a gente aí um intervalo muito grande de quantidade de carboidrato que a gente pode programar junto com o paciente, respeitando as quantidades que para ele ficam confortáveis, que se encaixam na rotina, então, tudo isso tem que ser levado em conta. 

Cetose E Cetoacidose — O Que O Diabético Precisa Saber

Roney: Perfeito, Vanessa, perfeito. 

E a gente abordou aqui bastante sobre o diabetes tipo 1, até sobre o jejum, sobre low-carb, e você acha que ficou faltando falar alguma coisa a respeito de todos esses assuntos para fechar essa questão?

Vanessa: Bom, eu não sei se vale a pena a gente comentar um pouquinho sobre a cetoacidose, que é uma coisa que eu percebo como o principal mito. 

Então, já vi muito profissional que acha que a low-carb, ou a cetogênica, ou o jejum intermitente são perigosos pro DM1, são contra indicados pelos risco de acontecer uma cetoacidose. 

E a gente pode comentar um pouquinho disso.

Roney: Ah, eu acho que vale a pena sim, Vanessa, porque muita gente tem mesmo medo da cetose nutricional, mesmo quem não tem diabetes tipo 1, tem medo da cetose nutricional, muitas vezes por achar que é uma condição perigosa, por confundir com cetoacidose. 

As pessoas, às vezes, chegam pra gente e falam que tem até medo dos corpos cetônicos, por causa dessa condição de cetoacidose. 

Então, a gente acha nem interessante e importante fazer essa distinção, deixar tudo bem claro para o pessoal.

Vanessa: Perfeito, vamos lá então. 

A primeira coisa que eu vou começar falando é justamente isso, que cetose e cetoacidose são estados completamente distintos

A cetose nutricional é completamente distinta da cetoacidose diabética. 

Então, a cetose nutricional, vem, acontece com qualquer pessoa, tenha ela diabetes ou não, que faça uma alimentação baixa em carboidratos, seja uma low-carb, mas principalmente uma dieta mais cetogênica. 

Então, essa produção de corpos cetônicos, ela acontece no momento em que o lipídio, a gordura é quebrada, gerando os ácidos graxos, e eles são oxidados e transformados em corpos cetônicos, que são um ótimo combustível para o nosso organismo

E os corpos cetônicos, produzidos dessa forma, eles são totalmente inócuos.

Pelo contrário: eles são o que permitem que a gente permaneça vivo por ter dormido dez horas seguidas. 

Então, os corpos cetônicos não podem e nem precisam ser vistos como algo ruim. 

O que acontece na cetoacidose é algo que só quem não produz insulina tem o perigo de acontecer, se realmente não tiver bem orientado, porque o que causa a cetoacidose não é a baixa quantidade de carboidrato, que é o que causa a cetose nutricional, que não é nada perigosa. 

Então, o que causa a cetoacidose é a baixa, que na verdade a gente chega a falar de omissão completa, praticamente, de dose de insulina. 

Então, o paciente que não produz insulina, se ele também não aplicar insulina, então se não houver insulina circulando do corpo, o que não acontece, não chega nem perto de acontecer numa cetose nutricional. 

Então, o diabético tipo 1 que não produz e não usa insulina, ele tem o risco de entrar em cetoacidose, porque a insulina é o freio da produção de corpos cetônicos, então na cetose nutricional, a gente tem essa produção de corpos cetônicos que a gente chama de fisiológicos, e que é inclusive benéfica, dependendo dos objetivos. 

Na cetoacidose, a gente tem essa produção desgovernada, porque a gente não tem insulina para botar o pé no freio, eu sempre faço essa comparação. Então, sem o freio, esses corpos cetônicos serão produzidos numa quantidade que é absurda. Então, as concentrações para você entrar em cetose nutricional, dificilmente você chega a 3, 4, 5 milimol de concentração por litro. 

Já na cetoacidose, a gente chega a 25 milimol por litro de corpos cetônicos, então a concentração é absurda, e aí essa concentração dos corpos cetônicos pode gerar uma alteração do pH sanguíneo, gerando um pH mais ácido e aí por isso que a gente tem esse quadro de cetoacidose, e aí são quadro muito distintos. 

E um paciente que, por acaso, faça dieta cetogênica, se por acaso ele não fizer insulina, ele vai entrar em cetoacidose, independente de estar comendo muito carboidrato ou não. 

Então, não faz diferença ele começar do zero, que é um paciente que está comendo carboidratos de três em três horas e tem, praticamente, zero de corpos cetônicos circulantes, ou começar do três, se ele faz cetogênica. Se não fizer insulina, independente de começar do zero ou do três, ele vai chegar na cetoacidose e aí vai ter essa complicação. 

Então, o cuidado tem que ser usar a insulina em doses adequadas, e entender que low-carb, jejum, cetogênica não fazem a gente parar de tomar insulina, né. 

E uma vez que você esteja usando insulina, faça cetogênica ou não, o seu risco de cetoacidose é praticamente nulo. 

Um Novo Aplicativo Para Ajudar Pessoas DM1

Roney: Perfeito, então. Eu acho que ficou muito bem explicado. E agora a gente queria perguntar para você uma coisa que, mudando um pouquinho de assunto, a respeito do seu aplicativo.

Vanessa: Ah, ótimo, perfeito. Então, vamos lá. 

O paciente que tem diabetes tipo 1, como eu comentei aqui por alto, ele precisa fazer uma estratégia de tratamento que a gente chama de contagem de carboidratos, que na verdade eu até brinco que esse nome não está tão correto, porque o certo é que a gente fizesse essa contagem de carboidratos, proteínas e gordura: porque todos eles influenciam a nossa glicemia. 

Mas, como o carboidrato chama a atenção, né, muitos pacientes contam apenas o carboidrato. 

E esse método consiste, basicamente, no fato de que você vai contar a quantidade de macronutrientes, seja carboidrato — se você só come proteína, só proteína —, você vai contar essa quantidade e vai fazer a sua dose de insulina de forma correspondente.

Então o paciente que tem diabetes tipo 1, ele precisa ser orientado pelo seu médico de qual dosagem, de quantas unidades de insulina ele usa para tantas quantidades de carboidrato. 

Então, a cada dez ou vinte gramas de carboidratos usa uma unidade… ou a cada 30g usa uma unidade.

Isso é muito variável, muito individual. 

E esse cálculo, então, é o que a gente chama de contagem de carboidrato. 

E a gente precisa, idealmente fazer isso em todas as refeições.

Crianças às vezes não fazem todas as refeições, mas a maioria dos pacientes fazem isso em todas as refeições, então cada momento do dia que eu paro para fazer uma refeição, eu preciso olhar para o que eu vou comer, fazer esse cálculo de quantidades totais de carboidrato — dependendo do prato, se tiver mais proteína, precisa entrar na conta também — e decidir qual vai ser a dose de insulina para eu poder comer aquela refeição. 

E aí, por isso, pensando nisso, eu criei um aplicativo, ele se chama Insulin Calculator, e é um aplicativo que você insere ali a quantidade dos alimentos que você está comendo, você configura de acordo com essas orientações médicas, de qual a sua relação insulina/carboidrato, o seu fator de sensibilidade para fazer correção de glicemia alta, com tudo isso você configura na página de configurações, e quando você insere a sua refeição e a sua glicemia do momento, o próprio aplicativo já te diz qual seria a sua dose e em qual horário você vai tomar. 

Então, o principal diferencial do aplicativo, é que ele inclui já a conta



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Podcast #092 — Diabetes Tipo 1 Simplificado, Com A Médica Fit Diabética Dra. Vanessa Corvino

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