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[MUSAS] 09 – Vamos conversar

“Um escritor de terror busca novas ideias para seu próximo livro, andando pelas ruas imundas da cidade atrás de lendas e inspiração ele conhece uma vocalista rebelde com quem não se entende, mas o acaso e as atitudes dela acaba engatando a amizade deles.
Uma amizade conturbada pela vida e atrapalhada pelas pessoas. Pode o amor e a arte resistirem ao mundo?”


Se não ainda não leu os capítulos anteriores, acompanhe nossa história:

  • [MUSAS] 01 – Um manuscrito que não sai
  • [MUSAS] 02 – Pesquisa no Submundo
  • [MUSAS] 03 – A dona Aranha…
  • [MUSAS] 04 – Tiro no Escuro
  • [MUSAS] 05 – Escolhas
  • [MUSAS] 06 – Imposição
  • [MUSAS] 07 — Estreia
  • [MUSAS] 08 — Bloqueio

A história também está disponível no wattpad, já em seu décimo primeiro capítulo!


Todos os anos começam iguais, todos os anos terminam iguais. A vida se repete em um infinito ciclo de sucessões constantes. O mundo segue em constante mudança, mas parece se deixar levar pela mesma época do ano e se torna uma cópia do que um dia fora. Todos tentam parecer mais do que são, todos se vestem de maneira melhor, se comportam de maneira melhor, buscam esconder o que fizeram durante os outros meses do ano e, assim, começam o ano em uma tentativa de pureza e inocência que não percebem ser apenas mais uma máscara.

Máscaras.

Todos usam máscaras. Diante de toda a humanidade jamais se veria um rosto despido de medos e ansiedade, nunca se veria um rosto corajoso o suficiente para se mostrar diante do mundo. A máscara esconde quem somos — às vezes até mesmo de nós mesmos.

Allan estava desconfortável naquela festa.

Metido em um terno que não se encaixava direito em seus ombros — a mando do editor — ele tentava se esconder de todos ali, mas não tinha como escapar de ocasionais conversas com pessoas a quem devia agradar. Ele deveria se submeter a muito mais daquilo se não tivesse ido, mesmo assim só o que conseguia pensar era em ir embora logo e se deitar.

As palavras lhe faltavam sempre que perguntavam sobre seu conto, sobre seu livro, sobre a escrita. Estava nervoso, mais nervoso do que quando lançou seu primeiro livro.  O autor tinha acabado de se esquivar de uma senhora atirada quando conseguiu encontrar Rebecca. Ela estava do lado de fora, junto de um homem mais velho, fumando e rindo. Allan nunca vira a pintora fumando, nunca tinha perguntado também — embora tivesse imaginado sentir o cheiro da fumaça em seus cabelos algumas vezes quando ela voltava para cama, quando ele estava mergulhado em um sono semi-desperto.

Ele olhava de longe, a pintora sorria sem parar, conversava animada com aquele homem, tocando seu braço, jogando os cabelos para trás, o cigarro entre os dedos… Ela parecia muito mais à vontade do que quando chegaram e ele fez-se esconder atrás de uma coluna para evitar seu editor. O que ele deveria fazer? Uma cena? Seria o certo, não? Mas estava tentando não chamar atenção para si, queria sair dali sem ser notado, queria escapar. Fugir? Encarar a situação em outro lugar? O que ele deveria fazer? O que ele tinha que fazer?

— Uh, estranho — ele ouviu uma voz dizer às suas costas.

Allan virou-se e encarou Tarântula. O Guitarrista da 4 Spiders, amigo de Michelle. Era uma figura estranha naquela festa, enquanto todos vestiam-se da melhor forma possível para  manter as aparências, o guitarrista parecia não se importar com as tradições, o cabelo preso em uma única trança, vestido com uma camiseta branca e calça jeans, além das munhequeiras. Tinha um copo de uísque nas mãos. Não parecia vestido para uma festa, parecia sequer ter se esforçado para tentar se encaixar ali. O que ele fazia naquela festa? Será que… O peito do escritor se encheu de uma sensação de animosidade que não sentia há um bom tempo. Michelle. Ela estaria lá também?

— Er… — começou

— Não, ela não está aqui — o guitarrista respondeu, seu rosto era um mistério. Não parecia com raiva tão pouco estava feliz, ele parecia entediado — Mas eu gostaria de falar com você, se não se importar.

Allan piscou.

Ele seguiu o guitarrista até o outro extremo da sala, onde puderam se sentar em uma das pequenas mesas espalhadas pelo salão. Allan esperou em silêncio, enquanto Tarântula tomava um longo gole de seu uísque.

— Sobre o que quer falar?

— Néfila — o guitarrista respondeu, sem olhá-lo — Você deveria falar com ela.

Allan coçou o queixo, a barba rala começava a surgir em seu rosto, deixando-o com uma constante sensação de pinicar, de coçar.

— Eu tentei — ele disse — mas parece que ela não quer falar comigo. E nem seu amigo quer que ela fale.

— Spider é um cara complicado — Tarântula argumentou — é sempre um problema quando alguém namora alguém da banda… Mas não é esse o caso aqui.

— E qual é, então? Achei que ele fosse só um ex-namorado ciumento.

— Nah, o Spider não é assim… Quer dizer, não é mais — ele tomou outro gole do uísque — Eles tinham uma relação complicada, a banda rompeu e voltou conforme eles rompiam e voltavam… Mas sempre acabavam voltando. Sempre.

Allan escutava as palavras do guitarrista com cuidado. Pesando cada uma delas em sua mente, lembrando de cada momento que teve com a cantora, ela sempre recebia ligações e quase nunca as atendia. Michelle quase nunca falava da banda com ele, ela estava sempre querendo saber das palavras dele e de suas histórias.

— Eles tinham…

— É, tinham acabado de romper quando você a conheceu — Tarântula sorriu — Achei que ia ser melhor se ficasse quieto sobre isso, deixar rolar, sabe? Uma hora essa novela cansava e alguém ia ter que seguir em frente, achei que ela tava tentando seguir contigo.

— Você é bem mais profundo do que parece.

Silêncio.

— Desculpe, eu só…

— Eu sei disso — o guitarrista riu — Eu sou o juiz da banda, só quero que as coisas fiquem bem e que possamos seguir em frente ou acabar logo de uma vez.

— O que quer dizer?

— Estamos com problemas maiores do que parecia — ele respondeu — Néfila não está cantando, Spider está cada dia mais irritado e, sinceramente, eu só quero paz. Anansi, por outro lado, está com os dias contados. Ela também sabe que, desse jeito, a banda não vai durar. Temos um prazo, temos que cumprir ou vamos acabar com um processo nas mãos.

— A coisa tá feia mesmo, não é?

— Pois é — ele admitiu — E não acho que eu conseguiria lidar com o processo sozinho, mesmo com o dinheiro da família…

— Dinheiro da família?

Tarântula pareceu surpreso.

— Você não sabe? — ele riu ao ver a cara do escritor — A sua editora está fazendo a biografia do meu tio, cara. Não ficou sabendo disso? O rockeiro velho que morreu e deixou uma fortuna pro sobrinho desconhecido… Caramba, saiu em tudo que é jornal.

— Você é o sobrinho desconhecido…

— Bingo — ele ergueu o copo — Enfim, eu posso ter grana, mas eu não curto isso. Eu só quero ficar na minha fazendo música. Não quero acabar que nem meu tio… Você entende?

— Nem um pouco.

— Tudo bem — ele sorriu — O importante é que você precisa falar com a Néfila.

— Mas…

— Eu dou um jeito no Spider — o guitarrista o interrompeu — Só vá ao estúdio antes do ano acabar, fale com ela e veja o que consegue. Pra bem ou pra mal, isso precisa acabar de uma vez.

O guitarrista se levantou.

— Se me dá licença, eu preciso falar com algumas pessoas ainda antes de poder voltar pra casa.

Allan encarou as costas do guitarrista se afastando, seus olhos caíram sobre Rebecca, que sequer notara sua ausência e ainda conversava com o homem mais velho, agora mais próxima dele. Havia um sorriso estranho no rosto da moça, um sorriso que ele conhecia muito bem. Aquele sorriso…


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