Toda criança sabe, intuitivamente, preparar a dieta essencial do Crescimento.

Eu criança sonhei ser jogador no café, desenhista no almoço, e escritor no jantar. Enquanto isso, nos entretempos das refeições, beliscava uma linda e popular carreira de goleiro, mordiscava as emoções de uma vida científica e recebia o Oscar em Hollywood.

Crianças não sabem ler as horas e isso dá Tempo Pra inventar. Dedicadamente, desenhei cada passo do plano estratégico e fabuloso pra o preparo de cada refeição. Cada detalhe, cada especiaria, cada pitada de sal era metodicamente planejada. Porém, ano após ano, o livro de receitas colorido com giz de cera deu lugar a uma agenda rabiscada a caneta. Refeições elaboradas e prolongadas tornaram-se cada vez mais difíceis; sem tempo, anotar ficou impossível. Abandonei o café, o almoço e o jantar pra me saciar no sanduíche da esquina, no pastel da barraquinha e na coxinha do fim de tarde. E como são saborosas as frituras do Agora! Sacrifiquei, pouco a pouco, meu crescimento saudável em razão da satisfação imediata.

Hoje, atolado na lanchonete do Amanhã, o estômago congela e o coração ronca diante da lembrança das cores, sabores e aromas da infância. O tempo passou e não recordo mais com tanta facilidade quais os ingredientes, qual o tempo no fogo e muito menos a temperatura ideal: troco as panelas, enrolo os temperos… nada sai como esperado.

Pra não acabar na UTI da existência, preciso me reeducar. Abandonar os vícios e as conveniências para dedicar-me a um intenso processo de emagrecimento. Embora irremediavelmente subnutrido, sei que ainda tenho tempo pra me livrar da gordura improdutiva da maturidade e retomar o produtivo crescimento infantil.