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JANELA ABERTA - #3 - CARNE OU BACALHAU?

Estamos a caminho de eleições. Já é a única arma que o povo tem para lutar pelo melhor. Arma essa que metade não usa. Isso faz-me confusão. Tendo o direito a escolher porque é que se fica em casa dizendo claramente que qualquer coisa serve? Com que direito é que depois se protesta? Se me derem em escolher entre carne de porco à alentejana ou bacalhau à lagareiro e disser que tanto faz, depois não posso queixar que a carne está dura ou que o bacalhau está salgado. Se podia e escolher e não escolhi, agora tenho que comer e calar. No acto eleitoral devia ser dado um comprovativo de voto e só estaria autorizado a participar em manifestações quem apresentasse tal documento. Um argumento para não ir votar é dizer que são todos iguais e nenhum presta. Então se me dessem a escolher os dois referidos pratos e eu não gostasse de nenhum deles, podia simplesmente dizer: não tenho fome. É para isso que serve o voto em banco, para dizer não a todos.

Ter direito a voto e não votar é como deitar pão fora num mundo onde milhões de crianças morrem de fome. Isto não é uma boa comparação visto que votamos um pouco por todo o mundo nas pessoas que mais contribuem para tamanha injustiça. Aquilo que alguns estragam dava para todos se empanturrarem. Não deve haver nada mais triste que uma mãe ver um filho a morrer de fome. É por isso que quando alguém me fala no problema da obesidade infantil, fico revoltado e só me apetece mandar tudo para os restos finais de uma refeição ou para um determinado órgão masculino. Lugares estranhos para onde mandamos quem nos irrita, mas o mundo está cheio de coisas estranhas. Depois há que pensar nos milhões de pessoas que lutam pelo simples direito de escolher. Há que pensar em nós mesmo que durante quarenta e tal anos apenas tivemos direito a comer, calar e ainda agradecer por nos terem livrado de uma guerra, embora nos tenham metido noutra que matou dez mil jovens e deixou um número incalculável de mutilados no corpo e na alma.


Dia quatro de Outubro vou votar e vou sem fome. Não me apetece carne nem bacalhau. Ainda poderei optar por açorda à Karl Marx. Sempre será menos indigesta. 


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