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Claude Farrère - Fumaças de Ópio - O Medo do Senhor de Fierce

                        O MEDO DO SENHOR DE FIERCE
Que o falecido conde de Fierce era traído, não havia dúvida — tanto na cidade, quanto na corte. Mas para se ter uma lista autêntica das pessoas que o ajudaram, — poucos cristãos dariam sua palavra — pois a condessa sempre se mostrou tão discreta, ao mesmo tempo em que volúvel.
Agora, entretanto, velha e recatada, ela está em retiro ao fundo de suas terras em Dauphiné, para doar-se a Deus, pois os homens já não querem mais nada dela. As traidoras de outrora ficam então distantes e dissimuladas. Mas os detratores, que nunca faltam, ainda não renderam suas armas. E, como a principal glória de uma bela reside na qualidade de suas galanterias, é ainda conceito habitual que os rufiões da pobre dama não fazem nada além de a tornarem mais famosa, isso contando que sejam grandes senhores — quando na maioria esses não são mais que pequenos lacaios.
Na verdade, estas são suposições gratuitas, ou talvez, maldades vingativas de velhas barbas desdenhadas em outros tempos pela Senhora de Fierce. Todavia, a calúnia tomava aparência de verdade, quando se considerava a estranha e escandalosa vida que levava na corte o Cavalheiro, filho mais novo da condessa; — escandalosa a tal ponto de revelar-se antes de tudo como um verdadeiro lacaio do que como o herdeiro de uma raça de bons fidalgos, conhecida como uma das melhores famílias do reino. E veja-se ainda, que não esta se pondo aqui a questão do primogênito dos filhos do conde, — que foi mais tarde Marechal da França após ter desposado a Senhorita de Parthenay, bastarda do Rei — mas somente a do seu segundo filho, o cavalheiro Jean, cuja carreira foi mais curta, como se irá ver.
Ora, — e isso se passou no início do ano de 1747 — o cavalheiro de Fierce, provido por seu irmão de uma distinção legítima, foi apresentado ao Rei e pôde com isso conseguir um lugar na corte. Sua Majestade, aliás, assim que o ouviu falar, e lhe tendo em grande bondade, deu-lhe de presente, ao falecimento do conde, um regimento que estava disponível. E resultou que o Sr. de Fierce, o qual jamais tinha ido às armas, se achou entretanto, aos seus vinte anos, coronel de trezentos dragões aparelhados. E o Rei, que tinha boa memória, lhe recomendou no momento da sua apresentação, que — o cavalheiro tenha o coração qualificado não somente de sustentar sobre os campos de batalha a honra de sua casa, mas de ainda a aumentar.
Isso parecia predizer ao Sr. de Fierce um destino brilhante no ofício das armas, para onde o conduzia o favor real, entretanto, o cavalheiro não se interessou pelo seu regimento, que naquele momento combatia na Alemanha. E, todo o mundo foi surpreendido quando se soube que, opondo-se a todas as probabilidades, o Sr. de Fierce foi, absurdamente, reclamar um cargo pacífico e sedentário que não o afastasse da corte. Entretanto, a um filho mais novo, não poderia cair bem tão ilustre gesto. E uma canção começou a correr entre o povo, na qual se exaltava a prudência de um novo Ulisses, que se chamava Jean. O Rei, não tendo como, terminou por consentir com a petição do seu Coronel —  dizem alguns que desdenhosamente.
Apesar de tudo, não havia nada ali que fosse claramente desonroso. Afinal, muitos intrigantes da corte consentiam em destinos bem mais medíocres, com a condição de que esse destino os aproximassem do Rei — princípio de toda vasta fortuna.
Mas no nosso caso, as boas línguas ficaram vazias quando descobriram que o cavalheiro Jean não era mais um intrigante, e que a ambição não morava de todo em sua alma. Seu desejo se limitava, com efeito, a esse status, sem que ele desejasse ter em vista outras glórias senão àquelas do leito e da boa mesa. Não que fosse tolo. Mas o seu espírito suficientemente alerta e sutil, se divertia, principalmente com os logros, as trapaças e a malícia, do mesmo modo que com bebedeiras e rapés, que são as realizações das pessoas da mais baixa linhagem. As tramas ousadas e perigosas pareciam propriamente o apavorar. — Todos instintos que testemunhavam um mérito abaixo do vulgar.
Os poetas gostam de comparar as pessoas da nobreza às feras corajosas que figuram entre os brasões e os escudos, tais como leões, unicórnios e leopardos. Mas na verdade, se se estivesse a fim de descobrir assim algum animal, com o qual o Sr. de Fierce fosse semelhante por seu valor, seria talvez necessário que se procurasse entre as criaturas menos heráldicas, tais como: cabras, lebres ou rãs.
Para encurtar palavras, o Sr. de Fierce era um covarde. — E a corte sabe prontamente como agir sobre este ponto.
A primeira aventura pela qual se ilustra essa covardia veio à luz apenas três meses depois que o Sr. de Fierce foi apresentado. Naquela época, o cavalheiro, que não estava nem mal das pernas, nem feio de rosto, foi percebido pela marquesa de Cossac, quarentona, mas que ainda permanecia elegante e se deliciava com os primeiros fogos dos mais jovens fidalgos. O marquês permanecia alheio ao fato, de olhos fechados, mais exatamente, já que, de ordinário ele os tinha simplesmente para nada ver. O acaso malicioso quis que desta vez, ele visse tudo, e não sem embaraço. Profundamente aborrecido com essa descoberta, se obrigou a tomar uma decisão; o velho senhor pensa imediatamente em solicitar ao Rei um aviso régio para a infiel e um outro para o sedutor. Mas, refletindo melhor, o grande crédito do conde de Fierce, do qual uma parte ainda refletia sobre seu filho, deixa o marquês assustado. Então, negligenciando os quase trinta anos de idade que o diferenciavam do fedelho, o Sr. de Cossac o desafia.
A corte, atenta a anedota, se admira muito da grande bondade do marquês, e da honra singular que ele faz a seu adversário, simples aspirante. O Sr. de Fierce se destaca. Na mesma noite, várias damas, e não poucas, lhe enviam em bilhetes doces seus votos de vitória, se oferecendo em outros, com mais ou menos indiscrição, a suplantarem em seu coração os encantos já um pouco antiquados da marquesa. Diversos nobres se colocam do seu lado, — desejosos de figurarem num duelo que prometia ser o derradeiro dos galantes — e solicitam ao cavalheiro de os aceitar como padrinhos.
Ora, o cavalheiro não se bate de modo algum. Na noite anterior ao combate, ele cai de alto a baixo, de não se sabe qual escada mal colocada, e quebra a perna. O Sr. de Cossac, segundo a cortesia, se apressa em enviar seus médicos. Estes encontram o ferido em seu leito, com o joelho todo enrolado em faixas e dois cirurgiões suíços aos pés. Quando eles quiseram examinar a ferida, o Sr. de Fierce se opôs vivamente a que eles concorressem com qualquer dúvida. A atitude meio séria meio jocosa dos dois helvécios os acaba enfraquecendo. Se bem que eles, ao retornarem à casa do marquês, anunciaram a quem quisesse entender que o doente se portava às maravilhas, com exceção de um mal muito mais grave, mas do qual eles não poderiam tratar — o medo.
O Sr. de Cossac, justamente indignado, faz um grande escândalo com o fato. Mas mal o fez, pois o conde de Fierce, preocupado com a honra de seu irmão, se declara responsável por ele, e desafia por seu turno o marquês. Eles se batem sobre um prado e o Sr. de Cossac é  morto. A intriga se desfez imediatamente, ainda que sobre essa já se recomeçasse o bom jogo dos murmúrios, pois, como que por milagre, o cavalheiro se acha curado e ágil dois dias após a morte do seu inimigo.
Mesmo que o duelo do conde lavasse, desta maneira, a reputação do cavalheiro, isso durou somente algum tempo.
Com efeito, algumas semanas mais tarde, as obrigações de seu cargo mandaram o Sr. de Fierce a Paris. Ele se encarregava de alguns pergaminhos que o Rei enviava ao Governador da Bastilha. Nada que fosse, aliás, de grande importância, portanto o cavalheiro partiu sozinho, munido somente de pistolas, numa carruagem sem nenhuma escolta e conduzida por alguns lacaios para manter a ideia de uma mistificação agradável.
O cavalheiro, que não se duvidava curado, tendo entregue a sua mensagem, já retornava a toda brida transportando um pacote lacrado para Sua Majestade. Ora, estando a noite negra, a chuva abundante e o caminho deserto, o Sr. de Fierce quase morreu de espanto ao ouvir o barulho, como o de uns tiros de pistola, e sentir o coche se deter de vez com um solavanco medonho. E foi bem pior quando na luz das lanternas, ele percebeu quatro cavalheiros, devidamente mascarados, que ameaçavam os lacaios com suas armas. Ele, de fato, não estava ainda curado o suficiente, pois imediatamente a valentia se rendeu sem resistência. E sob as ordens de um dos assaltantes, o Sr. de Fierce, mais morto do que vivo, duvidando de chegar a por os pés no chão, seguiu docilmente seus vencedores até debaixo da mata.
Ali, se lhe ordenou de jogar suas pistolas e sua espada, o que ele fez de modo muito voluntarioso; depois a entregar suas cartas, o que ele fez ainda sem opor resistência; e enfim para abaixar suas roupas, o que o assustou muito. Finalmente, os homens mascarados confabulando em voz baixa e parecendo chegar a um acordo, lhe comunicaram que iriam matá-lo. Então, a cena tornou-se lastimável. O Sr. de Fierce se põe de joelhos e suplica o mais humildemente do mundo que se lhe poupe, jurando, aliás, mil juras de jamais soprar palavra dessa aventura e propondo ainda as mais extravagantes razões. Os homens não se comoviam e o Sr. de Fierce implora de um após outro dos seus quatro carrascos, se atirando aos pés e beijando suas mãos como se fossem relíquias. Só então, que os cavalheiros misteriosos amoleceram e lhe fazem as graças, para logo se afastarem a galope, deixando sua vítima suja de lama, molhada de chuva, banhada em lágrimas, em suma, num estado de dar compaixão.
Todo vacilante de medo, o Sr. de Fierce correu através do bosque até Versalhes e não se considerou a salvo enquanto não teve seus ferrolhos puxados. Porém uma horrível confusão o esperava: sobre a mesa estava o pacote do Rei, aliás, intacto, e, ao lado, o desafio irônico dos quatro oficiais, gracejando com mau gosto, de que estiveram somente a se divertirem com ele.
O assunto não se propagou muito, pois nenhum desses que o tinham em sua lista se importou muito de que ela chegasse ao Rei. Entretanto, o Sr. de Fierce perdeu o pouco de consideração que ainda tinha. E o primeiro estilhaço desagradável que se seguiu decidiu necessariamente a sua desgraça.
Dessa vez, o escândalo foi tal que Sua Majestade não pode ignorar. Uma tarde, no recreio do Rei, o cavalheiro cuja alma escrava se obstinava a manifestar-se mesmo sob suas roupas de homem elegante, acreditou reconhecer que seu parceiro, que era o conde de Gurcy, o ajudava a ter sorte. Com o mais incrível mau gosto, o Sr. de Fierce convocou a assistência a testemunhar o fato, o que lhe valeu um bom e forte soco da mão do conde. Todos se apressaram em intervir, quando, para a estupefação de todos, o cavalheiro, aceitando sem replicar a afronta insuportável que lhe fora feita, roga cristãmente ao Sr. de Gurcy de aceitar as suas desculpas, lhe garantindo não ter tido jamais a intenção de o ofender e não lhe guardando, aliás, nenhum rancor desse seu arrebatamento tão justificado. Houve um grande silêncio e o Rei, que se acabou de informar, sorriu apenas, como se a humilhação de um de seus fidalgos tivesse de algum modo, salpicado de lama seu manto de arminho. O Sr. de Fierce, do qual todos se desviaram com presteza, permaneceu só como se fosse de uma espécie contagiosa.
O Rei teve, de fato, a demonstrar o seu desfavor sem mais tardar. — Ao levantar do dia seguinte, quando Sua Majestade sai dos seus aposentos, um grupo de cortesãos o vem saudar de passagem e o cavalheiro de Fierce ousa se misturar a eles. Mas o Rei, o distinguindo imediatamente, vem diretamente a ele e o censura com ironia, se admirando que um tão bravo fidalgo, que se lisonjeia da sua honra, possa amolecer assim na ociosidade, quando a guerra ensanguenta a Europa.
— Não sois vós, aliás, — acrescenta Sua Majestade — Coronel de um dos nossos regimentos? Nós não entendemos como que vós não os reunis a todos agora, pois se está guerreando aos fins da Francônia, e vossa coragem se repugnará sem dúvida a um mínimo atraso. Mas também não duvidamos que um soldado tal como vós não estejais tão preparado aos combates de mar como a esses de terra firme. E é porque nossa esquadra de Rochefort está prestes a tomar o mar, vós se reunireis imediatamente a ela. O Marquês de Estanduére, que a comanda, vos fornecerá um meio de vos destacar e vos destinar a algum posto digno, não certamente da vossa virtude, mas ao menos do vosso nascimento que lhe dá a posição que vós tendes tido até aqui.
Sire, — balbucia o cavalheiro, todo pálido. — Vossa Majestade me sobrecarrega…
Mas o Rei, sem dignar-se ao menos a tocar seu chapéu, se afasta com desdém.
Agora será preciso obedecer. O Sr. de Fierce, profundamente aflito e trêmulo, foi dizer adeus às ninfas do parque, às quais ele honrava com uma amizade particular. E de verdade, a aparência simultaneamente campestre e pomposa desses bosques que testemunhavam a sua tranquilidade perdida, o comoveram até as lágrimas. Confiando na sua solidão, ele chorou sinceramente, apoiado contra o pedestal de uma bela de mármore. Alguém que ele não havia visto passar, tosse rente a ele. Surpreso e confuso, o cavalheiro se corrige e recompõe seu rosto. Ele percebe então, que a menos de seis passos, um homem singular, vestido num uniforme muito parecido com esses dos oficiais da Prússia, o observa fixamente com os olhos imóveis. Jamais o Sr. de Fierce havia visto esse homem em qualquer parte.
— Com quem — perguntou-lhe um pouco surpreso — tenho a honra de falar?
O desconhecido sorri e soergue docemente os ombros.
— A alguém que vem para o vosso bem, Senhor Cavalheiro de Fierce, e que o deseja provar.
— De onde sabeis meu nome?
— Eu sei todos os nomes.
— Neste caso eu imagino que vós não recuseis de dizer o vosso?
— Eu não o tenho mais. Entretanto, se vos agrada me atribuir um, chamai-me Marquês de Montferrat.
O Sr. de Fierce considerou curiosamente este que se outorga ainda de um marquesado. Nada de extraordinário se revelava nele, entretanto, seus olhos, estranhamente frios e lúcidos, não se assemelhavam em nada aos olhos comuns, e a expressão do seu rosto oferecia uma tal indiferença que nenhuma idade verossímil se poderia registrar.
— Senhor, — diz enfim o cavalheiro. — Eu vos ouço.
O marquês de Montferrat senta-se sobre um banco, cruzando a perna direita por sobre a esquerda, e com uma mão sob o queixo começa.
— Senhor, eu sei de pelo menos todos os acontecimentos de que se compõem a vossa vida, e se julgasse a coisa útil, eu mesmo poderia vos revelar muitas aventuras que nem são do vosso conhecimento, a começar pela do vosso nascimento. Mas eu nada farei, por discrição e por sabedoria. E poderia quase tão facilmente vos esclarecer de vossos destinos futuros. Mas é infinitamente preferível que continueis a não os conhecer. E isso é porque, mesmo sendo feiticeiro, e eu ouso dizer, feiticeiro de algum mérito, eu não estou aqui para vos falar do futuro, nem mais que do presente ou do passado; todas coisas convenientes de se esquecer ou ignorar. Não, minha visita é por uma causa mais frívola: me é concedido de vos entregar hoje um notável serviço, — se, todavia vós o consentis.
O cavalheiro ouve boquiaberto, já antes mais inquieto que surpreso.
— Bem senhor, vejamos, — retomou o feiticeiro após um tempo. — Eu vos disse que nada da vossa história me é obscura. Isto é, eu sei melhor que os homens da França, melhor mesmo que o Rei Luis XV que esta manhã vos expulsou da sua corte, as lamentáveis aventuras que foram colocadas à luz do dia, ou àquela das vossas virtudes que foi o mais prudente dissimular com modéstia, — eu me refiro à covardia, fraqueza ou a essa incapacidade que vos ilustra particularmente.
— Senhor! — Protesta o cavalheiro encolerizado.
— Não vos ofendeis. Pensai primeiro em me considerar como uma fração de vós mesmos, ou se vos agradar melhor, como o anjo familiar que vós sabeis atado à vossa pessoa. Semelhante a ele, eu penetro em vossos mais mínimos pensamentos. Não tendes pois nenhuma vergonha de me escutar, pois eu vos mostrarei sem circunspeção, e discorrerei em voz alta os segredos íntimos que vós preferis calar a vós mesmos. As cortesias e as mentiras da boa sociedade não serão colocadas entre nós.
Ora, vós sois, Senhor cavalheiro, um covarde de rara espécie, e mais digno de portar uma libré engalanada que uma espada em riste. Por outro lado, vós estais condenado a partir para a guerra, onde a bravura é bastante em moda. Que fareis vós? — eis o que me ocupa. Pode ser que, por tais ações o vosso brasão, que é azul com galões de ouro, acompanhado de três naus do mesmo, — duas, depois uma navegando sobre um mar de prata, — esteja desfavoravelmente manchado e desbotado. Foi isso que me desagradou muito. Eu tive então, deliberadamente de chamar minha arte em seu socorro. Assim, venho vos oferecer um sortilégio infalível, maravilhosamente próprio para banir todos à vossa volta, ao dia e a hora que vos agradar.
— Senhor, — diz o cavalheiro, — vós mistificais agradavelmente.
O marquês feiticeiro se exalta.
— Não, senhor, eu não mistifico nada, e quanto ao resto, eu vos surpreendi audaciosamente e não o adverti de compor o espírito forte e cético a propósito de segredos autênticos e perigosos. Tendes antes o cuidado de guardar o silêncio e a crença: pois esses segredos, que condescendendo a vos socorrer hoje, poderão também, acredite, se irritar de vossa zombaria, e se voltarem contra vós; neste caso eu não daria por vossa pele sequer um maravedi da Espanha.
O cavalheiro nem mais respira.


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