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Holocausto Brasileiro.




Livro: Holocausto Brasileiro
Editora: Geração Editorial, São Paulo, 2013
Autora: Daniela Arbex

Da Autora:
Jornalista premiada com mais de 20 prêmios nacionais e internacionais , recebeu por Holocausto Brasileiro , os prêmios: Vladimir Herzog, Knight International Journalism Award e IPYS de melhor investigação jornalística da América Latina e Caribe.
Iniciou a apuração das reportagens que ,arcariam o nascimento do livro quando seu filho estava com apenas 4 meses. Mesmo diante do impasse da maternidade, seguiu investigando pois sabia que seu filho se orgulharia dela.
Com 44 anos, é Repórter Especial do Jornal Tribuna de Minas há 20 anos...
Mãe do Diego.
Recentemente escreveu mais um best seller : COVA 312 cujo tema é a ditadura. Leremos em breve!

Do Livro:
Difícil de imaginar o que é descrito , muito bem inclusive, no livro por Daniela Arbex.

60 mil mortos no maior hospício do Brasil.

Impossível imaginar que Pessoas foram submetidas a barbaridades, equiparadas sabiamente às barbaridades nazistas, sem estarem efetivamente sendo comandadas por Hitler.

Um livro de leitura pesada, por meio do qual tomei conhecimento das atividades do Hospital Colônia em Barbacena/MG. Um hospital psiquiátrico para onde eram encaminhadas pessoas com qualquer diferença que incomodasse alguém... Alguém, nesse caso,  podia ser qualquer um ...
Não  havia necessidade de avaliação médica para encaminhamento ao Colônia. Pessoas com importância política,  com muitas posses, delegados enfim, tinham poder de assinar ou solicitar que seu "problema" fosse encaminhado ao Colônia.

Mulheres cujos maridos desejam viver com suas amantes, jovens grávidas precocemente, jovens cujos bebês em suas barrigas eram de seus patrões,  meninos tímidos, pessoas tristes, pessoas contestadoras, pessoas sem documentos, ladrões...... Todos juntos em um hospital psiquiátrico. Local onde todos eram tratados como animais. Ninguém, nem doentes mentais, deveriam ser tratados como era o padrão do Colônia. Ninguém deveria ter passado por tamanhas atrocidades.

Lembra dos Campos de concentração? As camas feitas com palha? Pessoas mortas espalhadas no chão? Ratos... falta de comida...falta de higiene...banhos frios... espera fora dos pavilhões com frio de rachar? Então, o mesmo tratamento foi dado a tantas pessoas que moraram no Colônia durante anos.
Choques elétricos eram ministrados em pessoas : ora para acalmar, ora para calar contestadores.... muitas vidas foram perdidas nesses choques. Funcionários sem experiência na função (dar choques) tinham no choque elétrico o "teste" para serem promovidos ou não. Muitos não aguentavam assistir as pessoas se debatendo e muitas vezes morrendo na sua frente...

Banhos gelador na calada da noite como castigo (de quê? sendo que o castigo maior era estar ali?!),
O livro detalha perfeitamente os horrores do Colônia e nos traz algumas histórias de pacientes e funcionários.

Temos a história de João Bosco que foi separado de sua mãe aos 2 anos de idade. Mesmo sua mãe desejando estar com ele, a administração do Colônia o enviou a um orfanato e ameaçou sua mãe, Sra Geralda Siqueira, dizendo que se ela voltasse a procurá-lo seria novamente internada no Colônia. Nem preciso dizer que a vida de Dona Geralda foi sofrida por sempre se perguntar se seu filho estaria ainda vido, se estaria alimentado, em boas condições.
Dona Geralda foi abusada por seu patrão, por isso engravidou. Seu filho durante sua estadia em orfanatos, passou por momentos bem difíceis....

Tem a história de Dona Sueli Rezende, caçula de 7 irmãos, que por ter ataques de epilepsia foi afastada do convívio com os pais. Aos 7 anos morava com um tio e trocava favores sexuais em troca de merenda. Aos 8 anos foi entregue ao juizado de menores e encaminhada ao Oliveira. Em 1971 foi encaminhada ao Colônia e perdeu completamente o contato com sua família. Do Colônia ela saiu morta em 2006 com 50 anos sem poder realizar o sonho de rever suas duas filhas nascidas no Colônia: Débora e Luzia.
Toda a violência com que foi tratada , Sueli devolvia aos funcionários e demais pacientes. Arrancou orelha de paciente, comeu pomba do pátio.
Débora , sua filha, que não sabia que sua mãe era Sueli Rezende e nem que ela estava no Colônia, quando teve essa revelação foi atrás da mãe.... infelizmente era tarde demais.

Todas as histórias mexeram comigo.... me fizeram chorar (muito)....

A medicina da época permitia que seres humanos fossem tratados como bichos ....

As pessoas que faleciam no Colônia tinham, muitas vezes, seus corpos vendidos para as universidades locais.  Entre 1969 e 1980 foram vendidos mais de 1800 corpos para faculdades de medicina do país. Corpos de pessoas que , sem autorização de suas famílias eram transformados em indigentes e vendidos....
O Professor Ivanzir Vieira testemunhou a chegada de um lote de cadáveres e sentiu uma profunda tristeza e indignação. 

Ronaldo Simões Coelho foi um dos nomes que contestou o modelo de psiquiatria. Desejava humanizar os tratamentos. Coube a ele, em 1973, ciceronear Foucault durante sua estadia em Belo Horizonte. Além dele temos Halley Bessa, Emilio Grinbaum - defensores da humanização da psiquiatria e medicina psicossomatica.

Ao ler o livro vamos nos indignando cada vez mais. Muitas pessoas foram coniventes com o que acontecia no Colônia...
Eu me pergunto como os médicos conseguiam seguir suas carreiras sabendo que não estavam tratando aqueles pacientes e sim os matando aos poucos....

Os funcionários, na maioria contratados sem experiência, eram treinados pelos antigos que já passavam a carga "do não se importe com os pacientes" como se fosse algo normal.

Hoje vivemos em um novo momento. O tratamento de doenças mentais tem outras bases voltadas a tornar o ser humano, que por ora esta privado de sua lucidez, em um ser humano lúcido novamente e não, como era na época do Colônia, torná-lo um cadáver.

Um livro instigante e forte. 

Algumas citações marcantes - só algumas mesmo, pois tantas me marcaram que se eu citar todas, praticamente digitarei o livro completo....:

Pág: 35:
"Funcionário aposentado do hospital, Geraldo Magela Franco, sessenta e sete anos, admite que o tratamento de choque e o uso de medicações nem sempre tinham finalidade terapêuticas, mas de contenção e intimidação."

Pág. 37-38:
"A colega Maria do Carmo, que também era da cozinha, foi a primeira a tentar. Cortou um pedaço de cobertor, encheu a boca do paciente, que a esta altura já estava amarrado na cama, molhou a testa dele e começou o procedimento. Contou mentalmente um, dois, três e aproximou os eletrodos das têmporas de sua cobaia, sem nenhum tipo de anestesia. Ligou a engenhoca na voltagem 110 e, após nova contagem, 120 de carga. O coração da jovem vítima não resistiu. O paciente morreu ali mesmo, de parada cardíaca, na frente de todos. Estarrecidas, as candidatas se mantiveram em silêncio. Algumas lágrimas teimaram em cair naqueles rostos assutados, mas ninguém ousou falar."

Pág. 72:
"Ivanzir surpreendeu-se com o que viu. No pátio interno da faculdade havia dezenas de cadáveres espalhados pelo chão em grotescas posições. Parecia que um maníaco sexual havia passado por ali. Os corpos das mulheres , com as saias ou camisolas erguidas, pernas abertas, desnudando sua intimidade. Os homens com as calças e cuecas - sujas umas, imundas outras - baixadas. As fisionomias eram pálidas, esquálidas. Barbas crescidas, cabelos desgrenhados, pareciam egressos de um manicômio.
O cheiro não deixava dúvida de que estavam mortos havia dias. O farmacêutico ficou atônito."


Pág. 216:
"Sei o que vocês estão fazendo. Tirando fotos de todo mundo. Assim, quando a gente morrer, as pessoas vão saber que estivemos aqui."

"Como a sociedade permite que as famílias e a medicina despejem pessoas nesse depósito de lixo humano?"

"O cheiro deste lugar é indescritível. É o cheiro de suor, de fezes, de sofrimento, de gente amontoada, de falta de higiene."


Leiam! Me contem o que acharam!






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