Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

No porão

Por Dan Cilva

Uma xícara de café fumega sobre a mesa de madeira escura enquanto massageio os nós dos dedos tentando sentir a realidade daquilo.
A espuma rodopia junto a borda da branca caneca donde sorvo mais gole quente.
Desce fazendo sentir o peito que agora contido e preenchido pela grossa batida como num estado de alerta que avisa de algo lá no fundo.
Mesmo aquecido pelo café, o frio cresce vindo de cada pulsar do cardio e estas sensações se misturam trazendo-me o pavor das lembranças.
Ela bate na porta atrás de mim.
Lembrei de certa vez meu professor explicando que quando dizemos "bater a porta" e "bater na porta" são mensurados por diferentes gráus de violência.
Outra pancada na porta.
Ela rugiu em crescendo. O temor que algum vizinho ouvisse e estranhasse tal comportamento em minha casa empurrou-me outro gole de café. Levantei de súbito encarando a velha porta do porão. Guardava toda minha escuridão e outras coisas lá embaixo e lembrar disso me fez recuar por um instante esfregando o rosto buscando o sentido daquilo.
Justo aquela noite, justo aquela hora ela desejava sair. Encostei na madeira da porta e virei o trinco. Os urros cessaram e o silêncio tornou tudo pior. Girei a maçaneta e a escancarei.
Olhava compenetrado minha escuridão, desci degrau por degrau me segurando ao único fio de esperança de que ela se aquietasse diante de mim.
Em sua presença ela me envolveu na escuridão, na minha escuridão.



This post first appeared on Contos À Espreita, please read the originial post: here

Share the post

No porão

×

Subscribe to Contos À Espreita

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×