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Eu acredito no Saci

EU Acredito NO SACI

Era mais um ano letivo, 31 de Outubro em que ninguém dava atenção aos contos locais e dos avisos que tais fábulas continham.

Na sala grande Dos Professores, cada qual com seu afazer ou trivialidade discutindo entre si como seriam as aulas naquele dia.

Eu permanecia no meu canto observando meus colegas cativos em suas discussões, não havia diferença entre eles e os Alunos do ensino fundamental o qual tanto criticavam.

“Hoje é dia do Saci”

Soltei a esmo tal afirmação para tentar quebrar a superficialidade do óbvio, de que ninguém estava interessado.

Meus dedos correram a velha estante de ferro que sustentavam toda sorte de livros calados em meio a tanto falatório. O indicador parou sobre um pequeno de capa dura, já bem castigada e sem saber definir se marrom ou verde devido a sujeira.

“Folclore Brasil”

Aprumei o pequenino sobre uma caixa de bombons e com diário e demais materiais tomei o rumo da sala. Lampejos de imagens terríveis brigavam com a imagem real dos corredores, alunos corriam passando por mim,  cada flash era escuro, frio e de som abafado. A ansiedade copulava em meus ouvidos e se calou por completo quando saí do estreito corredor que levava da sala dos professores para os devidos andares das salas de aula.

Era manhã e meu ânimo permitia algumas extravagâncias em troca de resultados. O objetivo consagrado, alcançar os alunos.

Após meia hora de matéria, “História da Arte no Brasil” seguida de uma dissertação, perguntei cortando o silêncio.

“Quem acredita no Saci?”

Em meio a risos e piadas jocosas, um dos garotos do fundão fitava-me com reprovação, como se por ventura não deve-se tocar em tal assunto.

“Eu acredito no Saci”

Minha afirmação foi arriscada mas serviu ao seu propósito. A sala de mais ou menos vinte alunos risonhos entre meninos e meninas agora em completo silêncio me perfuravam com os olhos julgosos de descrença e de quem não acredita que o professor tenha feito tal aposta.

Por alguma razão no fundo de minha mente outra imagem fluiu rapidamente, um machado rodopiando no ar, em direção a alguém na mata. Tão rápido quanto veio, se foi.

“Antes de eu me tornar professor, era um estudante também e antes disso em uma idade próxima a de vocês tive minha cota de histórias que minha mãe me contava.”

Sobrava 5 minutos para terminar a aula e tinha sequestrado a atenção deles. Esperavam que eu contasse alguma história fofinha de um menino neguinho brincando com a crina e rabo dos cavalos, que eu falasse do sítio do pica pau amarelo.

“Perseguido por um capitão do mato, Jacobino, franzino menino sangrava de uma perna só, o machado voava mas acertava o menino que parecia o vento só”

Deixei uma pilha de apostilas sobre minha mesa que ao tocar o sinal do fim, cada qual pegou e o menino do fundão vindo por último olhou-me ressabiado. Eu sorri de volta, ele pegou a última apostila e partiu enquanto lia a capa do documento pego em mãos.

“EU ACREDITO NO SACI”

O jovem parou à porta e em uma das raras vezes que conseguia, perguntou-me.

“O que o capitão do mato tirou de Jacobino?”

Em resposta, levantei a meia canela a perna de minha calça revelando a plástica perna artificial que me sustentava.

“Houve na minha época um homem louco que queria ver um Saci… Então ele cortava a perna de crianças sempre que atacava a ideia na cabeça”

Meu aluno empalideceu e se foi.



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