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Capítulo Cinco

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Fazer caras e bocas nunca fora meu forte. Ironicamente, esta era minha rotina quando devia comparecer a algum evento com Taylor.
Estávamos em um jantar beneficente, promovido por diversos artistas de alto escalão para arrecadação de fundos para as vítimas do furacão que havia assolado New Orleans, poucas semanas após as festividades de Ano Novo.
Todos estavam mobilizados, ao menos era isso que demonstravam. E eu como mulher de um dos convidados VIP, não achei de todo ruim acompanhá-lo. Era por uma boa causa. No entanto, não via a hora de ir embora.
É certo que aquele tipo de evento ajudava muitas pessoas, a intenção era muito nobre, mas era de uma falsidade e oportunismo que só. Conversas tolas e frívolas, muitas socialites compareciam mais para aparecer em uma foto com um astro de Hollywood ou tentar uma noite com algum deles do que realmente ajudar.
Nestes momentos, eu sentia falta das festas comuns e simples, onde o único intuito era passar algum tempo bom com os amigos. E neste dia em especial, eu percebi que aquele circo todo de flashes e mídia não dava mais pra mim.
     Aqueles eventos não acrescentavam. Antes era apenas indiferente, aparecer com Taylor, sorrir ao seu lado para as fotos e bancar a amigável com todos. Agora, me irritava.
Não obstante, Taylor estava sempre cercado por todos os lados e uma hora eu sempre acabava sozinha, rodeada por pessoas (mulheres) muitas fúteis e esnobes.
Eu queria o normal, a despreocupação de falar com quem e o quê eu queria sem ser julgada por isso, de me vestir da maneira que me sentisse confortável sem que no minuto seguinte os sites de moda e metidos a donos-do-mundo fizessem chacota, a desobrigação de sorrir a todos como se fosse a Miss América.
O glamour certamente era a ilusão de felicidade.
A única coisa boa lá era o champanhe, que por sinal, tomei algumas taças a mais, mas em algum momento ele deixou de fazer efeito e o tédio me tomou.
Procurei meu maridinho entre os convidados e o encontrei na companhia de seu amigo Eddy, Linda e algumas tietes. Claro!
Respirei fundo e fui até ele, com um sorriso afável plantado em meus lábios.
–– Olá Gabriela. Como está? –– Eddy me cumprimentou quando me aproximei.
–– Vou bem, obrigada. E você como está?
Ele sorriu.
–– Muito bem. –– Seus olhos me mediram gentis. –– Acho bom Taylor tomar cuidado, porque você está um arraso docinho. Não sei se é verídico o dito das mulheres brasileiras serem as mais bonitas, mas com toda certeza é a brasileira mais bonita que já coloquei meus olhos.
Sorri constrangida e lisonjeada, e cumprimentei os demais rapidamente.
Eddy era muito espontâneo e gentil. Dentre todos os amigos de Taylor, ele era quem eu mais gostava. Seus elogios sempre me deixavam corada, porém não havia maldade, apenas gentileza mesmo.
Taylor se colocou ao meu lado e envolveu minha cintura sem me tocar de fato.
–– Sim, ela é. Mas procure outra, porque esta aqui já tem dono. –– Ele disse com uma sugestão de diversão e também arrogância.
Esforcei-me para não colocar os olhos em branco.
Eddy ergueu as mãos e dissimulou.
–– Sem problema cara, –– ele me olhou curvando a sobrancelha ––, mas se ele não a tratar bem saiba que estou aqui.
Engajei uma conversa com Eddy e Linda por mais alguns minutos até que meus pés gritaram por socorro. Voltei-me para o Taylor.
–– Podemos ir?
–– Sim. –– Ele olhou a frente, além de Linda e eu acompanhei seu olhar encontrando Patrick que lhe acenava do bar. –– Só vou trocar algumas palavras com Patrick e então podemos ir.
Assenti e aguardei ele papear com seu amigo de farra, mas estranhamente, naquela ocasião isto não me aborreceu.
–– Semana passada eu encontrei Violet e Taylor no mercado. Ela está enorme, a cada dia mais linda e é muito esperta. –– Eddy disse e acrescentou com humor. –– Acredita que ela me fez comprar uma barra enorme de chocolate sem que Taylor visse?
Balancei a cabeça sorrindo.
–– Acredito. Ela já é uma chocólatra e eu não faço ideia de como isso aconteceu.
–– Eu espero que não se importe, mas vocês têm uma mini criminosa. Ela me convenceu que eu nem percebi, quando dei por mim já estava dando o chocolate a ela.
Soltei um riso frouxo.
–– Não, de maneira nenhuma. Sei como ela pode ser bem convincente quando quer, apesar de ter somente três anos. Taylor e eu até evitamos dar doces a ela, principalmente chocolate, porque ela fica muito elétrica.
–– Sei bem como é. Meus pequenos enlouquecem quando ingerem açúcar. –– Linda comentou.
–– Eu que o diga. –– Eddy particularizou divertido. –– Tive que levá-la de cavalinho até o carro, mas foi divertido.
Rimos.
–– E então? –– Linda especulou curiosa. –– Pretendem aumentar a família logo ou será só Violet?
Eddy me olhou com curiosidade.
–– Acho “um” um excelente número. –– Eu disse, me referindo além de Violet, mas eles não captaram a mensagem subliminar por detrás daquelas palavras.
–– Dois ou três também são. –– Eddy assinalou. –– Taylor se dá bem com o papel de pai e sei que você também é uma excelente mãe.
>> Como pai realmente. Marido? Rá. Não, obrigada! <<
–– Obrigada.
Olhei por cima de Eddy e Linda, avistando Taylor aos risos e cochichos baixos com Patrick. Não era muito difícil adivinhar o assunto entre eles.
Tornei minha atenção a Linda quando ela me perguntou algo, mas volta e meia jogava meus olhos para meu maridinho relapso, me irritando por aquela demora.
Eu simplesmente poderia ir embora e deixá-lo trocar um milhão de palavras com o desgarrado de seu amigo, mas então, comigo não funcionava assim. Sair sem Taylor de um evento como aquele seria trazer um falatório desnecessário.
–– Desculpem-me, –– pedi a Eddy e Linda. –– Gostaria de ficar mais e jogar conversa fora, mas estou muito cansada.
–– Somos duas então. Pra mim, a diversão acabou.
–– Também já estou de saída Senhoras, amanhã acordo bem cedo. –– Eddy disse e me olhou. –– Quer que vá chamar Taylor?
–– Obrigada, mas não precisa... Foi bom revê-los.
Abracei Linda e me despedi de Eddy.
–– Precisamos marcar algo. Talvez com as crianças ou somente nós? 
–– Claro Linda. Faremos isso sim. Tem meu telefone, né? Me ligue e marcaremos um jantar. Ou um almoço.
–– Ligarei sim.
–– Espero que esteja incluído. Sabe que adoro sua comida.
Soltei um riso curto.
–– Pode deixar, Eddy. Quando marcar, peço a Taylor para te avisar. Até mais.
Taylor estava muito distraído para perceber minha aproximação enquanto dizia:
––... No Paradise talvez. Conheço o gerente e ele é muito discreto.
Forcei um sorriso sereno sobre a humilhação, lutando pra manter minha face imperturbável ao ouvir àquelas palavras sacanas.
Sabia bem o que era o Paradise, o mesmo hotel, onde ele me levava quando começamos a sair. E ao contar pela cara de seu amigo quando me viu atrás dele, e a do próprio ao ouvir minha voz, certamente eles não estavam combinando uma festa familiar onde todos poderiam comparecer.
–– Taylor será que podemos ir?
–– C-claro. –– Ele pigarreou sem graça. –– Nos falamos depois. Boa noite.
Patrick me sorriu embaraçado enquanto eu o fuzilava com o olhar.
–– Certo. Boa noite cara..., Gabriela.
Apenas lhe dei as costas e saí.
Uma vez que estávamos dentro do carro, a salvo dos paparazzi que nos aguardava fora do evento, ele se voltou para mim e disse:
–– Desculpe.
Minha sobrancelha ensaiou uma curva.
–– Pelo o que?
–– Bem, não sei o que ouviu–.
–– O suficiente. –– Pontuei e acrescentei com uma tranquilidade sombria. –– E quer saber? Não importa. Se desculpar por algo do qual você realmente não sente, é o mesmo que não dizer nada. Então deixemos assim e vamos pra casa. Estou morta de cansaço e não posso me manter por mais.
Disse a última parte mais pra mim do que para ele, mas dado sua postura, ele não compreendeu. E eu não expliquei, tampouco.
Algum tempo depois...
Sentada em uma das banquetas da ilha central e mais nervosa do que supus, observei com ânsias minha sogra cortar os legumes para o preparo do jantar.
Minha sogra.
As palavras me soavam tão irônicas, mas era assim, para todos os efeitos Deborah era minha sogra, o que não deixava de ser uma verdade.
Ex-sogra. Dali algumas semanas seria ex-sogra, corrigi-me amargamente.
Falar ou não? Sim... Não. Talvez este não fosse o momento adequado, depois do jantar seria ótimo. Humpf! Só se fosse pra causar uma azia das brabas.
–– Algum problema querida?
Sobressaltei com sua voz e me amaldiçoei em seguida por isso.
Oferecendo-lhe um sorriso minguado, eu disse:
–– Não. Está tudo bem.
>> Mentirosa! <<
Ela me olhou por um momento, analisando e eu tentei plantar um sorriso convincente nos meus lábios, que pareceu dar certo.
Nunca havia sido covarde. Talvez omissa em uma e outra coisa. Mas nunca, jamais, covarde, porém naquele dado momento eu tinha tudo menos coragem.
Não era como se estivesse com medo de falar, apenas não queria lhe magoar com a notícia inesperada naquele dia tão bonito e tranquilo. E, também não queria lhe mentir, ela não merecia mais uma mentira em meio ao pote que já havia lhe dado.
Gratidão é uma coisa, burrice é outra queridinha. –– Aquela voz endiabrada, que vinha me tentando soou em uma parte da minha cabeça.
Seu olhar vez e outra me sondava, e eu retribuía com sorrisos que não deveria enganar nem o mais tolo do planeta. Meus dedos tamborilavam sobre o mármore enquanto meus dentes capturavam meu lábio. A cada minuto que se passava estava mais apreensiva que no minuto passado.
Eu entrei num debate mental árduo comigo mesma sobre o que fazer.
Digo? Não. Sim. Não... Sim, sim! Nãooo!
–– Vou pedir a separação. –– Soltei as palavras, como se acabasse parir o mundo.
A faca parou na metade de outro pimentão e ela me olhou em câmera lenta, com o cenho franzido, confuso.
–– O quê? Do que está falando?
Respirei fundo.
–– Taylor e eu, –– expliquei. –– Vou entrar com o pedido de separação.
–– Como assim Gabriela? Separação? Taylor está sabendo disso?
–– Ainda não, mas falarei com ele ainda hoje. Eu só queria que soubesse antes... Não posso mais, quero dizer, nós não somos os mesmos, –– o que era o mais próximo da verdade que eu poderia dizer ––, então acho que o melhor para nós dois é–.
–– Calma aí..., –– pediu me cortando, lavou as mãos rapidamente então veio ao meu lado com uma de suas mãos na cintura. –– Explique-me isto, por favor, pois não estou entendendo nada querida.
Santo Deus, como eu iria dizer a verdade? Não esperava ter que me explicar.
Suguei o ar com força e disse:
–– Não está dando mais. Taylor e eu não dá mais, acabou há um tempo..., eu achei que o tempo  poderia ajeitar as coisas, mas não.
–– Imaginei que algo estivesse acontecendo, pois vocês dois andam um tanto quanto estranhos, quero dizer, sei que Taylor não é de ficar de mimos na nossa frente, sempre foi assim, ele é muito reservado e você também sempre foi muito reservada desde que veio viver aqui. Mas é tão sério a ponto de querer a separação?
–– Sim. Nós queremos coisas diferentes, entende?
Ela deixou os ombros caírem parecendo aliviada.
–– Isso é uma crise minha querida. Todo casamento passa por algumas crises de vez em quando, vocês ainda têm o quê? Vão fazer três anos de casamento em pouco tempo. Isso vai passar Gabriela. Vai ver. –– Neguei com a cabeça. –– É normal se sentir insegura às vezes, achar que não dá mais, que tudo está acabado por um motivo muitas vezes bobo. Isto faz parte do casamento, conviver com outra pessoa não é fácil, mas se há amor e querer tudo se resolve.
Aí está! Não havia uma gota de amor e querer por parte dele, e francamente, mesmo que hoje houvesse eu não sabia se queria mais.
–– Eu ainda o amo, não nego, mas nem sempre o amor é suficiente. Chegamos a um ponto que não dá mais pra seguirmos juntos sem que acabemos chateando um ao outro. É preferível que acabemos nossa relação de forma pacífica e civilizada. Afinal de contas, não há somente nós dois, há Violet também.
Ela se sentou na banqueta ao meu lado.
–– Eu nem sei o que dizer..., estou estupefata.
–– Não quero que pense que estou fazendo isto por impulso, não mesmo, eu pensei muito, avaliei tudo antes de tomar a decisão. Violet não será prejudicada, pelo menos não tanto quanto seria se mantivermos uma relação que acabou. –– Explique firme, não dando margens para dúvidas quanto a minha decisão final. Tomei sua mão na minha e continuei suavemente. –– Eu sempre a trarei aqui e vocês poderão vê-la, e sair com ela quando quiserem. Taylor também, não vou privá-lo de nada. Apenas vamos seguir caminhos diferentes.
–– Sim, eu sei. Obrigada por isso e por ter me avisado. –– Ela disse, absorta na notícia então sorriu fracamente e me abraçou. –– Eu como mãe sinto tanto.
Soltamo-nos e a mirei fazendo-me de forte e positiva.
–– Por favor, não sinta. Estaremos bem. Está é a melhor decisão para todos.
Sua mão tirou uma mecha do meu cabelo que cobria meus olhos quando me disse em tom amoroso:
–– Não é por você, querida, mas por Taylor que vai perder a melhor mulher que ele poderia ter ao lado dele.
Eu não ia chorar. Aquela era a decisão mais certa que tomei depois de Violet.
D. Deborah suspirou pesado ainda em choque pelo extra.
–– Eu estou..., bem, estou triste com isso não vou negar, por mim vocês permaneceriam juntos até ficarem bem velhinhos. Fazem um casal lindo, mas não é só isso, sei que ama meu filho e que ele a ama. –– Abaixei os olhos, constrangida pela real verdade. –– Deus, eu, me desculpe. Acho que preciso digerir isto ainda.
–– Desculpe. Talvez esse não fosse o momento, mas tinha de dizer.
–– Eu entendo querida. Algo assim é difícil de segurar, acho que não existe momento ideal para uma notícia como essa. Mas bem, só posso desejar sorte a você e que seja feliz, visto que já tem a decisão tomada.
–– Sim. E, obrigada.
–– Você sabe que, embora meu filho e você não estejam mais juntos, você sempre será bem-vinda a esta casa e sempre poderá contar conosco para o que precisar. É como nossa filha, sempre será assim.
–– Obrigada. Acredite, é recíproco de minha parte.
Ela assentiu e se moveu de volta aos legumes, mas parou e me olhou séria como se estivesse cogitando algo.
–– Taylor lhe fez algo específico?
Bem, vejamos... Ele me traiu inúmeras vezes; não me ama; não me quer; sou seu adorno; nosso casamento é falso... Enfim, a lista é enorme.
–– Não. É o que lhe disse. Queremos coisas diferentes. Pensei muito e chegou a hora de colocar a decisão em prática. –– Dei os ombros.
Ela não questionou mais nada, acredito que pelo fato de ainda estar tentando digerir a notícia.
O jantar transcorreu até que bem, tirando dona Deborah que às vezes parecia chateada e um pouco aérea, olhando a mim e a Taylor com pesar, contudo, isto era normal depois do que dei a ela.
O que não era normal eram os olhares de Taylor pra mim, algumas vezes me dando a impressão de que estava raivoso e em outras, duros e acusatórios. De fato, ele estava sério demais. Sem muita conversa que não fossem monólogos rápidos e distantes.
No entanto, talvez fosse paranoia minha pela expectativa em torno da conversa que viria mais tarde, apesar de saber que não seria nada do outro mundo.
Eu falaria e ele concordaria feliz então cada um iria para o seu canto, eu pensava.
Era tudo muito simples e sem complicação.
O caminho para casa foi silencioso, Violet já estava sonolenta quando deixamos a casa dos Lautner e no curto caminho até em casa dormiu de vez, nem mesmo quando Taylor a tirou da cadeirinha ela acordou.
Antes que ele subisse com ela, eu pedi:
–– Eu quero falar com você.
Sua cabeça anuiu.
–– Vou colocá-la no quarto e logo desço.
–– Okay. Estarei aqui.
Deixei a bolsa sobre o sofá e fui até cozinha.
Sentia minha garganta seca e estava um pouco nervosa também, quero dizer, nervosa era subestimar meu estado, estava mesmo uma pilha de nervos.
Tomei dois copos de água, ambos com açúcar então retornei à sala, me sentando numa das poltronas.
Este era o melhor para nós dois, meditei, principalmente para mim.
Finalmente poderia viver sem maiores preocupações senão buscar a minha felicidade. Além do mais, seria minha saída do poço de mentiras, uma saída sem maiores danos. Reforcei a mim mesma.
Supõe-se que não deveria doer, senão aliviar. Mas doía, um peso seria tirado das minhas costas, fato. Porém a dor também estava lá fazendo meu coração pequeno.
Entretanto, términos sejam de qual âmbito for nunca foram e nunca serão felizes.
Há luto em toda finalização de uma etapa em nossas vidas e comigo não era diferente, mesmo nada tendo sido real exceto por nossa filha e meu amor por ele.
Flashes de memórias encheram minha mente, alguns momentos que outrora foram decisivos para eu estar onde estava e se reproduziram diante de meus olhos.

–– Grávida? Infernos, Gabriela! Grávida? –– Ele praticamente gritou as palavras andando de um lado pro outro, após o médico dar a notícia e se retirar do consultório.
Estávamos no hospital, Taylor havia me trazido após um desmaio logo depois que estivemos juntos. Eu tentei negar acreditando se tratar de uma queda de pressão comum, mas descobri que ele quando colocava algo na cabeça era pior que mula empacada.
–– Não grite, pois não sou surda. –– Ladrei enervada. –– E não me olhe como se fosse à única culpada, pois se me lembro bem não fiz nada sozinha.
Eu também estava perplexa com a notícia. Aterrorizada, na verdade.
Um filho.
Como eu poderia ter um filho quando naquele momento não tinha a mínima condição de cuidar de mim mesma?
Suas mãos correram pelos cabelos, ele parou seu trotar pelo consultório colocando as mãos no quadril, sua expressão longe por algum tempo. Então me olhou.
–– Vamos. –– Ele me estendeu a mão e eu me levantei da cadeira. Ao ver o ponto de interrogação em minha cabeça, acrescentou. –– Vamos pra casa.
*  *  *  *  *  *
–– Taylor Daniel Lautner, você promete diante de Deus e destas testemunhas, receber Gabriela, como sua legítima esposa para viver com ela conforme o que foi ordenado por Deus, na santa instituição do casamento? Promete amá-la, honrá-la, consolá-la e protegê-la na enfermidade ou na saúde, na prosperidade ou na adversidade, e manter-se fiel a ela enquanto os dois viverem?
–– Sim, eu prometo.
Eu deveria ter insistido somente no casamento civil, pensei ao ver o padre se dirigir a mim. Aquilo era uma loucura, aliás, pior –– muito pior.
Não era pra nada daquilo estar acontecendo, a cerimônia, aquele vestido, a igreja, os convidados, as madrinhas, todo o pacote matrimonial.
–– Gabriela Bastos de Nóbrega, você promete diante de Deus e destas testemunhas, receber Taylor, como seu legítimo esposo para viver com ele, conforme o que foi ordenado por Deus, na santa instituição do casamento? Promete amá-lo, honrá-lo, consolá-lo e protegê-lo na enfermidade ou na saúde, na prosperidade ou na adversidade, e manter-se fiel a ele enquanto os dois viverem?
Meu coração batia na garganta e o sentimento de fugir cresceu, porém sentia meus pés pesados demais para dar um passo sequer.
Não era uma devota, mas acreditava em Deus e tinha consciência de que aquela insanidade era um pecado sem medidas, talvez, imperdoável.
Mentir num cartório, uma cerimônia reservada apenas com um juiz de paz era uma coisa, mas numa igreja e perante um padre, todo o teatro tomava uma dimensão diferente.
–– Gabriela? –– Ouvi Taylor me chamar e o olhei. –– Responda ao padre.
Desviei meu olhar incerto para o padre, sem saber o que dizer.
>> Loucura. Loucura. Loucura. <<
Ainda dava tempo de acabar com aquilo...
–– Quer que repita os votos filha?
Pisquei e movi meu olhar para os Senhores Lautner, e lá na face de ambos vi confusão, expectativa, alegria e... Amor.
Voltei meus olhos para o padre aguardando minha resposta e engoli às secas.
–– Sim, eu prometo.

Naquela época, eu vi a loucura que era tudo aquilo, mas esqueci-me de analisar o principal dano naquele acordo estúpido, talvez pela fragilidade que ainda me sobrecarregava ou por pura estupidez mesmo.
No entanto, a vida dá voltas, faz algumas curvas e algumas vezes toma atalhos não planejados inicialmente. Mas ela é era assim: uma caixinha de surpresas com o objetivo de aprendermos no caminho, com nossos erros e acertos.
–– Estou aqui.
Contive minha reação de pular e me levantei, por um breve momento o olhei continuamente procurando uma expressão, qualquer coisa que denotasse o que se passava em sua cabeça. Então nada. Seu rosto estava impassível.
Traguei uma lufada de ar, no processo me enchendo de coragem.
Era a hora.
–– Taylor, eu quero...
–––... Separação. –– Completou tranquilamente sem alterar sua feição, suas mãos estavam enfiadas no bolso da calça.
Vacilei batendo meus cílios rapidamente.
–– C-como você sabe?
–– Escutei você dizer a mãe antes do jantar. –– Minha cara de surpresa deve ter sido de outro mundo, pois ele acrescentou explicando-se na defensiva. –– Não estava escutando atrás da porta, fui buscar suco para Violet e quando cheguei ouvi você dizer a ela. –– Pausou trançando seus braços na frente do peito e acrescentou. –– E, minha resposta é não.
Ceeeeerto. Eu não devia estar com minha audição nos melhores dias então continuei calmamente, como se ele nada tivesse me dito ou quase, já que meu coração parecia ter recebido uma descarga elétrica de alta voltagem.
–– Escuta, podemos fazer isto de forma que não haja danos para ninguém, principalmente a Violet. Podemos optar em comum acordo pela guarda compartilhada dela, sei que são muito apegados até mais do que eu com ela, e bem, Violet não será privada do convívio com nós dois nem com sua família.
–– Não há com o que se preocupar, pois não haverá separação.
Eu não fiz caso de suas palavras e continuei centrada em meu negócio.
–– Já falei com sua mãe como bem sabe, então podemos resolver isso da melhor forma possível. Acho que podemos nos reunir com sua família ainda esta semana e oficializar a notícia, só peço um tempo para que arrume um lugar para Violet e eu, e–.
–– Eu já disse que não. Que droga, Gabriela! Está surda? Não é não.
Meu queixo caiu aberto com seu corte grosseiro, mas logo me recompus e estreitei meu olhar estranhando sua reação, e não gostando nem um pouco do seu tom.
–– Qual é o seu problema?
–– Sua insistência em algo já resolvido é meu problema. –– Se exaltou jogando as mãos para o ar.
Apontei o dedo em riste pra ele.
–– Não grite e modere seu tom comigo. Não sou uma de suas vagabundas para que me fale assim.
Suas mãos plantaram no quadril enquanto seu olhar me penetrava, tranquilo.
–– Era só isto?
Confesso, eu estava um tanto deslocada, não era bem isso que esperava e francamente não tive espaço dentro de mim para me alegrar com sua posição insana.
–– Certo..., –– falei de forma arrastada e assinalei. –– Quando você estiver sóbrio seja lá do quê tomou ou uso, nós vamos ter esta conversa.
–– Não vamos e você sabe que não me drogo. Não há nada para ser conversado, não no que se refere a essa baboseira de separação.
Em algum momento eu havia prometido a mim mesma que seria serena e tranquila, não iria perder o rebolado, mas ele sabia cutucar como ninguém.
–– Baboseira? Como você pode ser tão egoísta, seu arrogante prepotente?
–– Você é minha mulher.
–– Você sabe que isto é uma farsa!
–– A certidão e o anel em nosso dedo dizem o contrário.
Plantei as mãos na cintura, muito enfezada.
–– Jura? E desde quando isso diz alguma coisa para você? Deixe-me ver..., quando comprou presentes pra sua piranha? Quando passou noites e noites com ela rindo da cara da idiota aqui? Isso sem falar nas outras. Quer uma empregada para o resto da vida? Contrate uma, porra!
Em silêncio ante meu estouro, seus olhos me mediram, impudicos, e um sorriso torto surgiu em seus lábios.
Estreitei meu olhar não gostando do que via e com a ligeira sensação de que gostaria menos do que ouviria ante sua postura relaxada.
–– Nós já temos uma empregada, Gabriela. –– Disse ignorando minhas acusações e acrescentou, com um tom faceiro. –– Se bem que, a ideia de ter você usando um uniforme curto, com cintas ligas e salto alto limpando a mesa central enquanto finjo ver tevê me soa muito atraente.
Minhas pestanas bateram, aturdida enquanto abria e fechava minha boca, mas nada saiu. As palavras me fugiram e por um momento eu fiquei sem reação.
O quê diabos significava aquilo?
Apesar de um lado meu começar a bater palminhas, me centrei na minha decisão, já havia me lascado inúmeras vezes quando dei ouvidos à esperança tola.
–– Escute, vamos ser racionais, okay? –– Pausada, empurrei as palavras quando consegui e prossegui tentando manter meu fio de lucidez. –– Não há porque mantermos nossa situação por mais tempo, acho que o dano já foi mais que reparado..., o propósito cumprindo. Não haverá qualquer dano a você e a sua imagem. E, poderá voltar a sua vida de vez sem ter que se preocupar com um escândalo.
Ele apoiou o quadril contra o respaldo do sofá, com seus braços ao lado do corpo, tranquilo demais e eu pensei que o juízo havia voltado a sua cabeça.
–– E você também? –– Indagou calmamente.
–– Sim. Também não tem que se preocupar com seu dinheiro se é isso que te preocupa, ele é seu, eu não quero nada. A propósito, a questão dos bens foi acertada antes do casamento e eu garanto a você que não vou pedir pensão para mim. Se quiser no dia que tivermos que assinar os papéis, eu assino também um documento abrindo mão de uma possível pensão. Há a de Violet, mas isso é um direito dela, enfim.
 –– Claro.
Uma parte de mim suspirou de alívio por sua concordância, mas doeu tanto que eu lutei para manter minha face serena. Forcei um sorriso sem dentes e assenti antes de tornar a falar, a fim de acabar com aquela conversa.
–– Bem, é isso. Amanhã entrarei com o pedido e–.
Ele ergueu o dedo me cortando.
–– Só me responde uma coisa, –– pediu e eu concordei. –– Quem é ele?
–– Como assim, quem é ele?
–– Você sabe Gabriela, o cara por quem está querendo acabar com nosso casamento, como se não fosse nada. Quem é? É o cara do telefone? Ele é tão bom assim a ponto de você querer acabar com nossa família? Ou é outro?
E eu achando que ele estava com o juízo perfeito.
–– Você realmente está me perguntando isso?
–– Se não é por outro, por que está querendo a separação? Pois temos de convir que, é muito estranho que venha com essa conversa agora, isso depois daquela sua saída pra sabe-se lá Deus onde.
>> Eu não vou explodir. Não vou. <<
–– Por que você acha Taylor? Crê que esta é a vida que toda mulher sonha em viver? Até quando acredita que eu tenho que me autoanular em prol de você? E eu? Você está vivendo, sua vida não parou em momento algum, apenas o curso deu uma desviada, mas você segue vivendo plenamente. Então eu te pergunto Taylor, como eu fico nisto? Ou você me acha tão miserável a ponto de não merecer viver de verdade?
–– Eu nunca disse que você não merece uma e outra coisa Gabriela, não ponha palavras em minha boca. –– Defendeu-se aprumando a postura, sua face estava muito séria, feroz até. –– Se não viveu plenamente como diz não foi por minha culpa.
Apertei meus dentes, irritada, respirava pesado sentindo meu controle se perder quando empurrei:
–– Realmente não foi. Foi por culpa minha mesmo, que sou burra demais.
–– Nunca pedi que se anulasse por mim, Gabriela, nós tínhamos um acordo e tanto você como eu sabemos que não havia qualquer clausura que te impedia de viver.
Soltei um riso nervoso, com uma de minhas mãos fincadas no meu quadril e passei a outra em minha testa.
–– Pois é. Mas sabe? Eu cansei e não quero mais. E me deixe dizer isto, seu babaca, verdade ou mentira, nenhuma mulher gosta de ser traída nem de ser usada como adorno, de se sentir um objeto de decoração da casa. E se você não se lembra, eu ainda sou mulher.
Ele veio até mim parando na minha frente, zangado. Ambos exaltados e sua irritação, aquela teimosia e arrogância infernal somente me fez mais revolta.
–– Você está me acusando do que exatamente? Porque se eu bem me lembro, você não queria se casar comigo e quando fez estava de acordo com o quê propus. Não me amava, não havia sentimento entre nós, nada além da atração, do tesão que sentíamos um pelo outro, e logo Violet.
Apertei meus lábios, furiosa comigo e com ele porque ele estava certo.
Nada exceto Violet e a atração que sentíamos um pelo outro, era tudo o que tínhamos naquele momento, mas as coisas mudaram.
Senti minha garganta apertar e eu baixei os olhos me controlando pra não chorar.
As palavras se agruparam em minha garganta e ele me empurrou.
–– Vamos Gabriela, me diga. Do que sou culpado?
–– De nada..., absolutamente nada Taylor. –– Respondi desgostosa olhando a frente sem encará-lo, me sentia uma merda. –– Como disse, o propósito foi cumprido e não há porque mantermos o casamento por mais tempo.
–– E eu repito, não haverá separação. –– Particularizou áspero.
–– Eu não estou pedindo a sua permissão Taylor, estou apenas te informando sobre uma decisão já tomada, então deixe de bancar o babaca comigo. –– Exalei cansada. –– Sabe bem que não pode me obrigar a manter essa farsa até quando queira e também sabe que isto não é justo comigo.
Ele fincou as mãos no quadril, por um momento manteve sua cabeça baixa, e então, me olhou com um olhar firme, intenso.
–– Me dê um mês.
–– Pra quê? Pra continuar me traindo e me tratando como nada mais que um objeto seu? Não, obrigada. Quase três anos já foram suficientes pra mim.
–– Ah, então agora temos algo? –– Ele perguntou com um ar arrogante, um sorriso cretino brincava em sua boca.
Foi só então que percebi o que havia falado, mas já era tarde pra tomar as palavras de volta e, na verdade, eu já não queria engolir mais nenhuma.
–– Você é tão estúpido..., tão cego e egoísta que não consegue ver nada além dos seus próprios interesses. –– Pausei tomando fôlego. –– Dentre tantos, como eu pude gostar...? –– Murmurei deixando minhas palavras morrerem, incrédula de que pudesse amar uma criatura tão... Eu não tinha palavras.
–– Eu não entendo.
Ergui meu olhar pra ele ante sua voz confusa.
–– Não?
Soltei um curto riso histérico e as lágrimas malditas se acumularam no fundo de meus olhos enquanto lhe dizia:
–– O que você não entende Taylor? Que estava preocupado demais em enfiar seu pau nas vagabundas com quem sai para ver que em casa você tinha uma mulher que fazia tudo por você? Muito além do combinado? –– Bufei descrente. –– Todo esse tempo esteve tão preocupado em aproveitar sua solteirice e esconder suas cachorradas da mídia pra manter sua imagem de bom moço intacta que, não sobrou espaço nessa sua cabeça de merda para ver que as coisas haviam mudado, que eu tinha mudado.
–– O que quer dizer? Nós tínhamos um acordo–.
Eu o cortei entre dentes, com minhas mãos frenéticas pra ele:
–– Se você me falar mais uma vez deste maldito acordo, eu juro que vou bater nesta sua grande cabeça até que não me reste forças. 
Meu peito subia e descia bruscamente, minha respiração estava pesada e naquele momento não percebi que ladrei as palavras em minha língua mãe, contudo, a ferocidade do aviso nelas fora inegável mesmo ele não entendendo uma só palavra.
Seu semblante estava assombroso, os olhos arregalados e fixos em mim enquanto sua boca pendia entre aberta, mas ele se recuperou do choque rapidamente.
Sua voz era cuidadosa quando me disse:
–– Eu não faço à mínima ideia do que disse e do que quer dizer com..., isso tudo, mas Gabriela, se eu não percebi qualquer coisa que deveria, talvez, não foi porque eu estava preocupado com minha solteirice como diz, mas porque você nunca foi clara comigo. Então, não aja como se tivéssemos sentado e colocado a merda na mesa alguma vez.
–– Está dizendo que é minha culpa você nunca ter me respeitado? Nem me dado isso aqui de consideração? –– Indaguei incrédula e sacudi a cabeça antes de prosseguir, irônica. –– Eu não achei que precisasse dizer essas coisas pra você, Taylor, porque é isso que fazemos mesmo com os desconhecidos. Respeito cabe em qualquer lugar e em qualquer fodida situação.
Sua face endureceu.
–– Não porra! Você sabe bem o que quero dizer. Não posso adivinhar o quê quer, o que sente, que caralho espera de mim. Você me joga esta merda e acha que tenho que adivinhar as coisas, bem, aqui vai: eu não sou um fodido vidente Gabriela. Então me desculpe se não desvendei suas mensagens criptografadas, ainda sou só um homem.
–– Não é como se você estivesse interessado em desvendar qualquer coisa, verdade? Esteve muito ocupado.
Ele bateu as mãos juntas.
–– Certo. Agora estamos conversando então. Vamos lá..., qual é minha culpa? Porque até agora você está aí posando de vítima, mas não me diz nada com nada. Fique quieta. –– Sua mão ergueu me calando quando fiz menção de retrucar. –– Não era isso que você queria? Então vamos conversar e esclarecer as coisas entre nós, porque se pra você não é justo seja lá o que faço de tão errado e segundo você, de propósito, tampouco é pra mim que fique no escuro enquanto sou acusado de algo que nem faço ideia, não concorda? Sejamos justos então.
Sim, ele tinha razão e isso me aborrecia profundamente, mas aquela conversa era inútil e somente serviria para me machucar mais.
–– Não há nada para conversar, não mais. Minha decisão já está tomada e, eu já disse e repito, não há porque fazer disto um escândalo. Casais se separam todos os dias Taylor, então não se preocupe com sua imagem, ela continuará intacta.
–– Você me acha um idiota, não é mesmo? –– Perguntou num tom grave.
–– Neste momento você está se comportando como um.
Mudei o peso do meu corpo para a perna direita, minhas mãos nervosas fechadas em punhos ao lado do corpo.
Seu olhar me desafiou metódico.
–– Você mudou.
Não sei se era uma acusação, uma afirmação ou apenas uma declaração, mas dado a situação me defendi:
–– Essa é a finalidade da vida, não? Aprendemos com nossos erros e quando não, sempre há uma queda maior, uma ponte mais longa a percorrer e eu não quero mais perseguir nem um nem outro. Não tenho mais fôlego para tantas mentiras.
–– Vai me responder Gabriela? Ou continuará me enviando mensagens subliminares que você acha que tenho a obrigação de desvendar?
–– Responder o que Taylor? Não é óbvio? Não posso mais sustentar essa situação, estou farta de fingir, de mentir. Eu quero viver... Ser feliz.
Sua face se aprofundou numa carranca, como se um pensamento ruim passasse por sua mente. Seu olhar me pregou no lugar.
–– É disto que se trata então? –– Perguntou inquieto. –– Quer recuperar o tempo que esteve grávida? Não, eu não te culpo. Não é como se pudesse aproveitar sua adolescência, teve muito sobre si antes mesmo de se tornar adulta, nos casamos e logo Violet nasceu... Você só teve a mim e... É isso? Quer experimentar outros?
Se não estivesse tão declinada a exaustão daquela conversa não nós levando a lugar nenhum, provavelmente teria estapeado-o.
–– Se trata de sentimentos Taylor, de estar cansada de sempre dar e nunca receber, de ser humilhada mesmo que não seja intencional, mesmo que minha razão diga que o quê faz, faz em seu direito porque eu estava ciente quando entrei nisso... Trata-se de querer e não poder, não ter nem mesmo o mínimo porque..., porque pra mim mudou e o que não me feria agora fere, machuca e eu não quero mais isso pra mim.
Pisquei contendo as lágrimas e lambi meus lábios secos, me sentia tão humilhada, mas era preferível sentir-me um fracasso a continuar guardando o que sentia.
Precisava soltar as palavras, mesmo que já não fizesse sentido fazê-lo, pois desta forma estaria em paz comigo mesma sabendo que fui corajosa o suficiente.
Finalizaria aquela etapa e faria com toda a dignidade que possuía.
–– Se trata de amor... Amor por você. –– As palavras fluíram além de meus lábios, tão naturais como a luz do sol aquecendo minha pele numa manhã ensolarada.
Através de meus cílios lacrimosos vi sua face empalidecer, sua boca abrindo e fechando enquanto seus olhos tão arregalados elevavam suas sobrancelhas quase próximas ao cabelo, como se tivesse ouvido que a Terra fora invadida por alienígenas.
Houve um comprido silêncio.
–– Eu... Eu não... –– Ele hesitou, as palavras se quebrando, morrendo antes de se completarem, mas estavam lá entre nós.
Ele não sentia o mesmo. Claro que não sentia, a não ser que ele pensasse que suas atitudes eram uma demonstração de amor, neste caso, realmente era um asno.
Alisei minha saia com as palmas das mãos, meu olhar desviando para o chão antes de encará-lo novamente. Meu coração estava inchado.
–– Sei. –– Murmurei num fiapo de voz. –– Não programei isto e se eu pudesse escolher tenha a certeza de que jamais me apaixonaria por você, mas não mandamos nos sentimentos. Eles estão além de nosso domínio, só temos poder sobre nossas escolhas de atitudes e decisões. E, eu demorei um bocado de tempo, mas tomei a minha então não faça disso um martírio pra nós dois. Amanhã eu entrarei com o pedido.
Ele pareceu acordar do transe ou, seja lá que estivesse passando em sua cabeça.
–– Não. Espere, não faça isso, okay?
–– Você me ama? Ao menos sente alguma coisa? –– Perguntei, mas não havia qualquer fio de esperança em minha voz.
Vi seu pomo de adão mover e seus olhos piscaram.
–– Gabriela, eu...
Vendo o embaraço retratado em sua face enquanto ele corria a mão nervosa pelo cabelo, como se buscasse um jogo de palavras educadas para reafirmar o que ambos sabíamos, eu balancei a cabeça para os lados.
–– Não, não precisa responder, pois mesmo que houvesse qualquer sentimento de sua parte, tem uma infeliz maneira de demonstrar e eu não quero um sentimento assim. Não quero migalhas ou gratidão. Acabou..., seja lá o que tivemos, acabou.
Suspirei dando a volta pra sair, não havia mais o que falar, mas uma mão em meu braço parou-me. Encarei seu rosto e sua mão me soltou enquanto eu me afastava, mas ele parecia decidido.
–– Escute, eu não posso dizer uma coisa que não sinto, não seria honesto e eu nunca menti pra você, sabe disso, e não quero mentir. Maldição Gabriela! Eu sinto um grande carinho e... Amor? Não sei, eu... Sei que não quero me separar, não vejo outra mulher no seu lugar e não quero outra, tampouco.
–– Porque as outras não seriam tão idiotas como eu. –– Conclui desgostosa.
Sua cabeça balançou bruscamente e ele exalou forte, frustrado.
–– Você está entendendo tudo errado.
–– Eu acho que não. E assim como você não quer desvendar minhas mensagens criptografadas, eu tampouco quero desvendar as suas, então pare.
–– Você deveria ter me dito... –– Senti a pontada de acusação em seu tom.
–– E o quê? Você teria mudado alguma coisa? –– Não esperei sua resposta. –– Acho que não. Provavelmente somente teria escondido suas coisas o que só tornaria isso entre nós pior, e bom, não posso reclamar. Ao menos uma coisa boa teve nisso tudo, você foi sincero.
Vendo minha firmeza, ele passou a mão pelo rosto e insistiu, sem mais daquele ar de arrogante, parecia humilde até.
–– Por favor, eu só estou te pedindo um mês. Você não pode esperar que eu aceite tudo assim quando me joga isso do nada. Dê-me somente um mês, um tempo para pensar e depois acertaremos nossa situação.
–– Não.
–– Você disse que me ama.
Estreitei meus olhos.
–– E por isso acha que devo ser seu capacho?
–– Infernos, não! Claro que não. –– E acrescentou persuasivo. –– Olhe, por favor, se não quer fazer por mim, faça por Violet. Apenas um mês, só um. Por favor.
–– Eu não sei o que você quer com isto de um mês e sinceramente não tenho certeza se quero saber..., eu já fiz tudo que eu podia por você, tudo que estava ao meu alcance para preservar sua imagem até mesmo sua carreira, mas cheguei ao meu limite. Não posso mais. Não quero.
Ele cortou a distância entre nós, suas mãos tocando meus ombros com suavidade quando me olhou nos olhos. Eu petrifiquei, desacostumada com aquela aproximação e daquela maneira tão íntima quando ele parecia desarmado, sincero demais.
–– Eu sei que fez muito por mim, mais até do que precisava, do que eu merecia. Não pense que eu não tenho consciência de que muito de quem eu sou hoje na minha carreira e na vida é devido a você. Eu sei Gabriela e agradeço por isso.
–– Então sabe que não há mais porque mantermos isso. –– Comentei mais calma; amarga me apartando de seu toque que me fazia coisas que não deveria. Não naquele momento. –– Embora queira, eu não posso te culpar por continuar sua vida, pois sabia onde estava me metendo e como você mesmo disse, tínhamos um acordo. Infelizmente, as coisas mudam.
–– Gabriela...
Sacudi a cabeça em negação.
–– Eu quero viver Taylor, viver de verdade como uma pessoa normal. Sem mais enganos propositais. Obrigações e mentiras. Estou farta de tudo isso.
–– Um mês Gabriela. Somente um mês.
–– Nada vai mudar em um mês Taylor.
–– Por favor.


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Capítulo Cinco

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