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Mrs Miniver

Às vezes as minhas motivações para ler um Livro em determinado momento são, pura e simplesmente, absurdas.


Mrs Miniver é um livro que me ficou debaixo de olho por dois motivos: constar do catálogo da Virago e uma vaga memória de em tempos ter visto um filme com o mesmo título. A Virago tem uma curadoria muito interessante, com nomes que vão de Daphne du Maurier a Edith Wharton a Elaine Dundy a Jan Struther, passando por Elizabeth von Arnim, Barbara Pym, incluindo vários outros nomes mais ou menos conhecidos, muitos deles na minha estante por ler. Muitas das autoras escolhidas são inglesas, do séc. XX, e não publicadas por outras editoras; são vozes interessantes, por vezes pouco reconhecidas, e quase todas por editar em Portugal, o que é uma tristeza.

O que quero dizer é que, nas minha compras no AwesomeBooks, uma das pesquisas que faço por vezes é "Virago"; e que, tendo este livro a fama de ser uma leitura leve, sendo também curto, achei que estaria na altura de o ler.

Mrs Miniver é um curto conjunto de pequenas vinhetas na vida de Mrs Miniver, uma espécie de alter ego de Jan Struther. Trata-se de uma mulher e mãe britânica "típica", casada com um arquitecto, actualmente com posses suficientes para viver em Londres, ter uma casa em Kent e uma empregada. Estas vinhetas foram inicialmente publicadas como colunas no The Times, em 1937, vindo a ser reunidas em livro em 1939. O ambiente do livro é, portanto, o pré-Segunda Guerra Mundial, e a forma como esta começa a surgir e a impingir-se na vida das pessoas comuns é premente no livro.

Mrs Miniver tem três filhos, o mais velho dos quais em Eton; estes, juntamente com o marido, e coisas mundanas e triviais como idas ao dentista, às compras, o Natal, carros, são os temas dos textos. Não há qualquer desenvolvimento dos personagens, nem uma narrativa continuada ou coesa - o que torna este livro interessante é a forma como está escrito, como Mrs Miniver encontra significados, poesia e beleza nas coisas mais comuns, nos mais pequenos detalhes, o humor espirituoso que a autora revela (segundo a introdução, a própria autora seria, também, assim, e algumas das experiências podem ser as suas próprias).

Uma das minhas partes favoritas foi o seu comentário sobre a vida em casal, e a vida social em particular: como há, frequentemente, uma pessoa num casal mais aborrecida, ou de quem se gosta menos (ou ambos!), mas como as convenções sociais obrigam, infelizmente, a que se convide ambos para jantar.

A single person is a manageable entity, whom you can either make friends with or leave alone. But half of a married couple is not exactly a whole human being: if the marriage is successful it is something a little more than that; if unsuccessful, a little less. In either case, a fresh complication is added to the already intricate "business of friendship": as Clem had once remarked, you might as well try to dance a tarantella with a Siamese twin.

Mrs Miniver é um livro acidental - tendo começado como coluna de jornal - e também o seu quase-estatuto de "romance de guerra" (war novel, em inglês - não sei como lhe chamar em português) (reparem na capa!!) é acidental, pois é um conjunto de 36 retratos de vida doméstica que terminam* em Setembro de 1939, poucas semanas antes da declaração de guerra à Alemanha. A forma como a guerra se imiscui na vida desta família parece também acidental - tal como terá sido, na vida real, para todas as famílias.

Assim, as observações domésticas e quotidianas começam a mudar de tom quando, em Outubro de 1938, a Alemanha anexa os Sudetas (desafio-vos a pesquisar as menções aos Sudetas neste blog), a guerra parece iminente (embora só começasse um ano mais tarde), uma sombra a pesar na vida dos Minivers, anteriormente pacífica e quiçá até mesmo idílica, passando da compra de uma agenda à compra de máscaras de gás.

If the worst came to the worst, these children would at least know that we were fighting against an idea, and not against a nation. Whereas the last generation had been told to run and play in the garden, had been shut out from the grown-ups' worried conclaves: and then quite suddenly had all been plunged into an orgy of licensed lunacy, of boycotting Grimm and Struwwelpeter, of looking askance at their cousins' old Fräulein, and of feeling towards Dachshund puppies the uneasy tenderness of a devout churchwoman dandling her daughter's love-child. But this time those lunacies—or rather, the outlook which bred them—must not be allowed to come into being. To guard against that was the most important of all the forms of war work which she and other women would have to do: there are no tangible gas masks to defend us in wartime against its slow, yellow, drifting corruption of the mind.

* o livro "oficialmente" termina em Setembro de 1939, mas edições mais recentes, como é o caso da minha, incluem cinco outros textos, incluindo cartas, publicados pela Times durante a guerra.

É um retrato interessante, um documento histórico até de como a guerra se infiltra e afecta até as vidas mais banais, mas, apesar da escrita muito bonita e do humor, não sei se é um livro memorável.

3,5/5

Podem comprar uma outra edição na wook ou na Bertrand; não se encontra traduzido para português.




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