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O caminho da cidade

O primeiro livro de Natalia Ginzburg foi, precisamente, o primeiro dela que li.



Escrito em 1941 (em plena Segunda Guerra Mundial), O caminho da cidade é uma curta novella, que se lê praticamente de uma assentada. À data em que foi escrito, Natalia Ginzburg vivia numa pequena cidade, em quase isolamento, com o marido, Leone (declarado pessoa "perigosa" para o regime, por ser anti-fascista). É a história de uma rapariga pobre de 17 anos, Delia, que mora com a família numa casa na estrada principal, a alguns kilómetros da cidade. A cidade, tal como as aldeias em seu redor, são indistintos.

Delia sonha com a cidade, vai à cidade frequentemente, com o sonho de se livrar do "campo", da suburbanidade, da pobreza, da mesquinhez e egoísmo da família, sem saber que, na cidade, lhe esperam ainda mais mesquinhez, egoísmo, preconceitos, moralidades vazias e superficialidade. Não é, por esse motivo, um sonho realizável; a sua inocência não lhe permitiu aperceber-se disto atempadamente.

"Para mim era melhor morrer - pensava - fui muito estúpida e desgraçada. Agora já não sei o que quero." Mas se calhar a única coisa que queria era voltar a ser como era dantes, vestir o meu vestido azul e fugir todos os dias para a cidade, e procurar o Nini e ver se estava apaixonado por mim, e ir também com Giulio para o pinhal mas sem ter de casar com ele. E afinal tudo aquilo acabara e não podia começar de novo. E quando a minha vida era assim não fazia outra coisa senão pensar que me aborrecia e esperar qualquer outra coisa, e esperava que Giulio casasse comigo para me ir embora de casa. Agora já não desejava casar com ele e lembrava-me como tantas vezes me aborrecera enquanto ele falava, e quantas vezes ele me desprezara. "Mas não vale a pena - pensava - não vale a pena e temos de nos casar, e se ele não me quiser ficarei desgraçada para sempre."

Apesar de curto, este livro consegue demonstrar com enorme realismo os problemas de comunicação entre os vários personagens, as relações falhadas entre estes - e não apenas pelos poucos, mas certeiros diálogos, mas também pela construção dos personagens, pelo ritmo da narrativa, pela linguagem directa, num retrato doloroso de uma Itália pobre com uma sociedade mesquinha (que poderia muito bem ser o Portugal fascista contemporâneo).

4/5


Este livro já esteve disponível em português, editado pela Cotovia; talvez se encontre nas bibliotecas.




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