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“Somos realmente importantes?” Rick e Morty: A filosofia por trás da nova onda de animações

Rick and Morty é uma série de comédia/ficção científica criada por Justin Roiland e Dan Harmon em 2013, que começaram com um mero rascunho usando o arquétipo de aventuras no tempo da trilogia De Volta para o futuro com pitadas de humor negro.

O projeto de viagens temporais foi deixado de lado pelo medo de serem processados pela  Universal Studios, assim como a mudança dos nomes dos personagens principais. (de “Doc” e Marty para Rick e Morty). Com tal mudança, resolveram abranger o tema de multi-dimensões. Na série há várias linhas temporais e dimensões dos mais variados tipos, o que levou Justin e Dan flertarem com o subgênero de horror cósmico.

O horror-cósmico tem como seu “padrinho” o escritor americano HP. Lovecraft, em obras como “O Chamado de Cthulhu” (1928) e “Nas Montanhas da Loucura” (1936), o horror-cósmico presente nestes e na série mostra seres místicos fora da compreensão humana e que são indiferentes a nossa existência.

O terror-cósmico inverte o papel do sci-fi clássico, que trata nós humanos como protagonistas e heróis, e mostra uma visão como se o resto da galáxia não desse a mínima para nossa existência (ou para a falta dela), o que levanta o questionamento: nós somos realmente importantes?

Na visão do filósofo contemporâneo Eugene Thacker, registrada no livro “In The Dust Of This Planet” (2011), essa visão trata-se de um “pessimismo cósmico”. “Absolutamente inumano e indiferente aos desejos e esperanças do ser humano, individualmente ou em grupos”.

Podemos fazer uma analogia desta frase ao episódio ‘Planeta Música’, que mostra a raça alienígena dos Cromulons, que destrói planetas inteiros simplesmente por perderem seu reality-show musical. Ou no desespero dos Meeseeks, pela dor de sua existência longíqua; no episódio ‘A revolta dos Meeseeks’.

Outro tema em que a série abrange é como lidamos e vivemos sem um propósito vital, explorando de duas formas opostas pelos personagens Jerry Smith e Rick Sanchez.

No caso do Jerry, ele é um pai desempregado, com um casamento por um fio e constantemente sendo um sinônimo de fracasso na vida, mesmo assim, sempre vemos ele desumbrado com a mediocridade da vida, fazendo um paralelo ao episódio “Realidade Virtual”, Jerry fica mais realizado com uma mera simulação de sua vida, do que com a vida em si.

Sua carência constante é levada como chacota de uma forma cínica ao longo da série. A visão de vida de Jerry e como ele é retratado pode ser explicado através filósofo alemão Arthur Schopenhauer: “a vida de cada indivíduo vista como um todo, no geral, e com ênfase nas melhores partes é uma tragédia, mas entrando em detalhe, tem um tom cômico.”

Jerry sabe que é uma falha, porém ele vive em buscando sentidos nas coisas simples para se deslumbrar, afim de se contentar com a própria ignorância.

Já no caso do Rick, ele é um terrorista intergalático com problemas de alcoolismo e dono de uma inteligência notável. Constantemente tenta se confortar com a falta de sentido na vida (mas se corrói por dentro), além de racionalizar sentimentos como o amor e o ódio, tentando buscar um sentido matemático à eles,  mas isso só o torna mais frio e pessimista.

Geralmente ele muda de uma falta de preocupação com o completo caos ao seu redor, à momentos raros de emoção e motivação. A dualidade de Rick pode ser explicada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, nas formas de niilismo ativo e passivo.

O ativo sendo o seu constante desgosto com tradições, além de incentivar a destruição de valores antigos e criação de novos (retratado logo no Piloto e sua aversão a Morty ir a escola ou a sua tentativa de explodir o universo e começar tudo de novo);

E o passivo, com a sua constante tentativa de racionalizar a falta de sentido de nossa vida, nessa e nas demais dimensões presentes na série. Apenas se reconfortando com alguns momentos de caos, com em festas ou quando ele contempla a destruição total da sua dimensão quando “Cronemberguizou” o mundo em: ‘A poção do Rick’.

Rick and Morty revitalizou o gênero de sci-fi em animações, com um humor absurdamente negro e cínico. Nos fazendo pensar, rir e chorar perante as suas questões que a série levanta. Uma das melhores animações atuais e que conquistou (e conquista) uma legião de fâs fervorosos ao redor do globo.

Referências:

– A vida de H.P. Lovecraft- S.T. Joshi (livro);
– In the dust of this planet- Eugene Thacker (livro);
– Nietzsche: Metafísica e Nihilismo- Martin Heidegger (livro);
– A sabedoria da vida- Arthur Schopehauer (livro).


Por Noel Bielecki


Pensador Anônimo

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