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Entrevista com Penelope Curtis

[Entrevista publicada originalmente: Carvalho, Ana. 2016. “Museus & Pessoas: Penelope Curtis.” Boletim ICOM Portugal, série III, 5 (Janeiro): 46-48. http://www.icom-portugal.org.]

São expectáveis pequenas e grandes mudanças nos museus da Fundação Calouste Gulbenkian com a chegada da britânica Penelope Curtis. Há pouco mais de três meses no cargo de directora do Museu Calouste Gulbenkian, fomos conhecê-la.

Muitas das notícias na imprensa sobre a contratação de Penelope Curtis para directora do Museu Calouste Gulbenkian destacam o facto de ser britânica e de ser a primeira mulher a ocupar este lugar. De facto, a realização de concursos internacionais parece ser sintomático de novos tempos, lembre-se que também o Museu de Serralves contratou para sua directora a australiana e britânica, Suzanne Cotter, em 2012. Mais do que a questão do género, é especialmente relevante a ideia de se perspectivar um novo ciclo de mudanças nos museus da Fundação Calouste Gulbenkian. Curtis assumiu em Setembro o cargo que ficou vago após a saída, por aposentação, de João Castel-Branco Pereira que dirigiu o museu durante 16 anos.

A nova directora foi seleccionada na sequência de um concurso que se realizou em 2014 e para o qual se candidataram cerca de 30 pessoas. “A visão e a autoridade curatorial de Penelope Curtis, assim como a sua elevada qualidade intelectual, ajudarão a abrir um novo ciclo na vida do Museu Calouste Gulbenkian, reforçando a sua dimensão internacional e a sua capacidade de intensificar colaborações com grandes museus de todo o mundo”, afirmou Artur Santos Silva, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian.

Formada em História (Oxford) e Arte Moderna (Courtauld Institute of Art), Curtis concluiu em Paris o doutoramento sobre escultura monumental francesa (c. 1870-1930). Iniciou a sua vida profissional em 1988 como curadora na Tate Liverpool, tendo passado depois pelo Henry Moore Institute, em Leeds (1994-2010). Entre 2010 e 2015 foi directora da Tate Britain, onde foi responsável pela renovação da exposição permanente, que inaugurou em 2013. Descreve-se como “curadora, primeiro e acima de tudo.” Enquanto historiadora de arte gosta de “pensar mais em termos de temas do que em períodos.” E acrescenta, “gosto muito de trabalhar com artistas, sempre trabalhei com artistas contemporâneos, bem como com colecções históricas. Estou interessada em manter aquilo que não precisa de ser mudado, é por isso que gosto de museus antigos, mas também em actualizá-los”.

De Londres para Lisboa

Sobre a vinda para Lisboa explica que foi um feliz acaso. Curtis havia sido convidada para fazer parte do júri de selecção dos candidatos para o lugar de director do Museu Calouste Gulbenkian. “Li os requisitos do cargo e decidi candidatar-me”. “Não pensei que ficaria com o cargo”, conta.

O seu mandato na Tate Britain foi marcado por várias críticas na imprensa, nem sempre favoráveis. Para Curtis, a visão predominantemente comercial e economicista da Tate relativamente às exposições temporárias e o facto da administração ter assumido como prioridade orçamental a remodelação da Tate Modern em 2016 foram as razões que a levaram equacionar outros desafios. “Senti que o meu trabalho estava cumprido com a renovação da Tate Britain”. A possibilidade de dirigir o Museu Calouste Gulbenkian, constituiu uma “oportunidade de fazer algo diferente”. Além disso, “sempre quis trabalhar no estrangeiro”, diz.

Em Lisboa encontrou novos desafios: uma outra cultura, um outro universo museológico e uma cultura institucional muito particular. Do ponto de vista da cidade diz sentir-se na Europa, esclarece, mas a “Gulbenkian é tão diferente, é como um Estado dentro de outro Estado”. Estando no cargo há pouco mais de três meses, sublinha que “não há uma rotina, tudo é diferente”. A aprendizagem da língua portuguesa, essa sim tornou-se essencial e parte da sua rotina diária.

Pequenas mudanças e atenção ao detalhe

Apesar das limitações do orçamento, “é o orçamento mais baixo que tive na minha vida profissional” sublinha Curtis, está apostada em fazer a diferença durante os próximos cinco anos. O futuro poderá passar por uma maior ligação do Museu Calouste Gulbenkian com jovens artistas, perspectivando olhares contemporâneos sobre as colecções. Nos últimos meses, a directora tem-se empenhado em conhecer os artistas portugueses e visitar os seus ateliers. Prevê ainda uma maior abertura das colecções a novos projectos de investigação e suscitar o interesse de jovens investigadores. “O museu tem recursos extraordinários, mas como torná-lo mais aberto, para mais pessoas, mais vivo?”, interroga Curtis.

Quanto à exposição permanente, pretende manter o que de melhor tem a exposição, mas ao mesmo tempo melhorar alguns pontos da área expositiva, explorando colecções que têm sido menos usadas.

Quando lhe pergunto sobre o que continua a motivá-la a trabalhar no mundo dos museus responde: “principalmente porque gosto de andar aleatoriamente”. “E sempre me apercebi dos detalhes. Muito do que quero fazer no Museu Calouste Gulbenkian tem a ver com detalhes, pequenas coisas”, acrescenta. Algumas das mudanças entretanto levadas a cabo por Curtis consistem em tornar o museu mais acolhedor. “Num certo sentido, se cuidarmos bem dos pequenos detalhes no final é tão importante como as grandes coisas”, atira.

O futuro dos museus

Uma das mudanças mais significativas quanto ao futuro dos dois museus da Fundação, o Museu Calouste Gulbenkian e o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAM), foi decidida a priori pelo Conselho de Administração. O anúncio do concurso para a direcção do Museu Calouste Gulbenkian foi explícito ao determinar a responsabilidade de implementar um plano de gestão que visasse “uma estrutura unificada”. Cada um dos museus tem identidades próprias e sempre trabalharam separadamente. O Museu Calouste Gulbenkian reúne uma colecção internacional de 6 000 objectos que vai da Antiguidade Clássica e Oriental ao séc. XX, e o CAM tem uma colecção de 9 000 peças, na sua maioria Arte Moderna e Contemporânea portuguesa do séc. XX e XXI. Se, por um lado, o Museu Calouste Gulbenkian é bem conhecido e é visitado por um grande número de turistas, o CAM pela sua abrangência nacional tem menos reconhecimento internacional. Por outro lado, enquanto que o Museu Calouste Gulbenkian tem uma afluência de visitantes que não é tão condicionada pela programação, o CAM é muito mais dependente de programas e da criação de novos eventos. Como fazer com que os dois museus dialoguem mais em termos de públicos e de colecções são algumas das questões a ponderar. Curtis atira: “podem os dois museus tornar-se mais fortes juntos?”

A prioridade da directora é criar uma nova estrutura que seja a combinação das duas equipas. Os primeiros meses no Museu Calouste Gulbenkian têm servido para conhecer e auscultar as duas equipas sobre o potencial das mudanças a encetar. Fez até agora 53 entrevistas individuais. “No momento cada um funciona como uma ilha, trabalhando sozinho, se conseguir que este processo de reestruturação seja bem feito, então a equipa será mais eficiente”, sublinha Curtis.

Levar a bom termo o processo de reestruturação será determinante para o futuro dos dois museus. O tempo o dirá. Para já Curtis identifica uma dupla dinâmica, pessoas que querem que as coisas mudem e pessoas que querem que tudo se mantenha como está.

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[Entrevista publicada originalmente: Carvalho, Ana. 2016. “Museus & Pessoas: Penelope Curtis.” Boletim ICOM Portugal, série III, 5 (Janeiro): 46-48. http://www.icom-portugal.org.]



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