Não se preocupe com spoiler, jogue fora seu guarda-chuva e venha dançar na chuva de lágrimas misturadas com leite que a internet proporciona! Não estão sendo fáceis esses dois últimos anos para os machistas de dedinhos ágeis nas redes sociais. Em 2015 foi “Mad Max” que saiu com uma protagonista Mulher e com personagens ativamente contra a objetificação da mulher. Bateu aquela lágrima de canto de olho. Fim do ano saiu o episódio sete de “Star Wars” com elenco principal de uma mulher e um homem negro. Até botaram o Toddynho de lado pra pegar o lencinho. E aí vem o remake de Caça-Fantasmas (“Ghostbusters”) com o elenco majoritário feminino e nossa, alguém traz uma água com açúcar pra esse menino que ele tá soluçando de tanto chorar. Imagina quando descobrir que “Rogue One” terá protagonista mulher? Vai ter um ADP.
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O que mudou nesses últimos anos pra acarretar essa mudança? É melhor reformular: o que NÃO mudou? A maravilhosa “chatice” desse novo mundo velho traz conscientização dos direitos de minorias e as pessoas se vêem de um jeito diferente. Os filmes são, acima de tudo, expressões de visões que refletem a cultura contemporânea. De um jeito bem simples: o suco vai ficar diferente conforme a fruta amadurece. Quando o voto das mulheres foi negado e a Ku Klux Klan aterrorizava o sul dos Estados Unidos em 1915, Griffith produziu e dirigiu “Nascimento de Uma Nação”, considerado um dos filmes mais racistas já feito. Um filme não é só um filme, é um espelho da sociedade.
Seguindo esse raciocínio, o “Ghostbusters” de 2016 espelha a reivindicação da mulher pelo protagonismo realista. Quando a mulher ganhava a chance, a oportunidade de uma vida, que lhe dão para ser a personagem principal de uma história ela geralmente girava em torno de um homem. Ela precisa conquistá-lo, ela se apaixona pelo cara errado, ela está saindo com dois caras ao mesmo tempo, ela vai se casar com um babaca, mas o boy da terceira classe do navio desenha muito bem. Mas não mais. As motivações das personagens são de salvar a cidade, obter Cada Vez mais conhecimento, provar teorias, construir armas e talvez dar uma lambidinha nelas.
Então filmes refletem o que uma parcela cada vez maior de pessoas pensam, e daí? Fica nisso? Só assiste e gosta quem pensa igual? Não, assiste quem nunca pensou que poderia ser e fazer aquilo que as mulheres do filme estão fazendo. Assiste a menina de onze anos que gosta muito de química e física, mas insistem em dizer para ela que isso não é coisa de menina. A partir do momento em que ela vê três cientistas salvando o mundo do apocalipse, se divertindo, ajudando umas às outras ela sabe que pode fazer tudo aquilo, sim. Vê a menina negra que pouco se vê nas telas, não sabe se a cor da pele dela é “a certa”, e então vê a Patty mostrando seu amor por livros, sua dedicação ao grupo e sua vulnerabilidade ao admitir que tem medo. Leslie Jones, atriz que interpreta Patty, conta numa entrevista que quando criança viu Whoopy Goldberg, uma das primeiras mulheres negras a conquistar espaço na TV, gritou de felicidade para o pai: “Olha, pai! Ela se parece comigo!”. Representatividade importa.
O filme segue com público alto, bilheteria bombando e críticos elogiando. Dentro do próprio roteiro ele demonstra que a crítica baseada somente no elenco feminino é infantil e errônea. O vilão tenta provocá-las dizendo que “atiram feito meninas” e o grupo é alvo de comentários maldosos na internet que duvidam de sua capacidade sem conhecê-las. Elas respondem com força, união e sororidade. Apesar dos machistas amanhã há de ser choro livre.
Caça-Fantasmas (“Ghostbusters”)
Roteiro: Katie Dippold, Paul Feig
Direção: Paul Feig
Elenco: Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon, Leslie Jones.
Gênero: Comédia, Fantasia, Sci-Fi
Duração: 1h56min
Estreia no Brasil: 14 de julho de 2016
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