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Lábia



Hoje, durante uma Aula na faculdade, eu fiquei com vontade de escrever um conto. Mas nada me vinha a mente. Então resolvi pedir pra alguns colegas sugestões sobre o que deveria se tratar o conto. E foi isso que disseram: André - “Aulas que não passam”, Vanessa - “Sistemas Operacionais”, Wemerson “Videogames” e Rodrigo “Hã?”.

E o resultado da viagem foi o seguinte:


Lábia
         Naquele dia percebemos que haviam colocado um relógio na parede. Era o clássico gerador de tic-tac’s, que treme o ponteiro ao passar pelos segundos. A aula: Sistemas Operacionais. Iríamos repor um horário que não tivemos, então veríamos slides atrás de slides nas próximas 3 horas.
         Olhei pro lado e vi que todos dormiam. Alguns não fechavam os olhos, mas era visível que não prestavam atenção em nada. Eu mesmo me peguei encarando um pequeno besouro que subia pela moldura do quadro. Quando chegou ao topo, começou a voar pela sala, até pousar no cabelo do professor, que mal percebia o que acontecia ao seu redor, e continuava dando aula. Foi então que o besouro decolou novamente e veio direto para a minha carteira, pousando na capa do caderno de Sistemas.
         Ele tentava se equilibrar nas aspirais, aos poucos se virando para mim. Quando conseguiu, ficou alguns momentos me “encarando”. Os tic-tac’s do relógio pareciam marteladas. Então, sem pensar muito (na verdade, sem pensar), falei:
- Entediado?
         O professor olhou pra mim, mas voltou a explicar a matéria.
- Muito...
         “Hã?”. Alguém havia me respondido. Olhei para os lados, mas todos pareciam mergulhados em suas próprias ilusões.
- Pena que não tem videogames aqui.
         Ok, era o besouro falando comigo. Eu me aproximei dele e cochichei:
- Você joga videogame?
         Era aula de Sistemas Operacionais, todos estavam delirando. Conversar com o besouro era lucro.
- Só jogo os clássicos – respondeu ele.
- Então não conhece os novos consoles?
- Sou mais os emuladores.
         Olhei para o relógio, que parecia demorar 1 minuto pra cada segundo. Uma eternidade ainda pra acabar a aula.
- Você está me escutando? – perguntou o inseto.
- Sim, mas não consigo levar isso a sério.
- Talvez se eu me aproximasse mais, poderíamos conversar melhor.
         “Aproximar?”, pensei desconfiado. Nunca gostei muito de besouros. Pra que iria deixar que se aproximasse?
- Se eu ficar na sua orelha, podemos conversar sem perigo de alguém ver que você está conversando com um besouro.
         É, talvez não fosse uma má idéia.
- Pode subir – falei.
         O besouro levantou vôo e pousou na minha orelha e começou a passear por ela, pregando e despregando suas pequenas garras, até ficar perto do entrada do ouvido.
- Sabe, você tem um belo ouvido... E, pelo que eu vejo daqui, um labirinto tentador. Sempre gostei de resolver labirintos. Acho que consigo este.
         Ele começou a andar para dentro do ouvido e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, já tinha entrado. As marteladas dos tic-tac’s se uniram ao zumbido do besouro no ouvido, tentando resolver meu labirinto.
         E foi assim que entendi como eles entram nos ouvidos das pessoas. É a lábia dos besouros.

Alcy Filho


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