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LITERATURA: O QUE É ISSO? (3)


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Entre 2014 e 2016, Menalton Braff produziu uma série de artigos sobre Literatura a pedido do jornal Celulose Online.  No mês passado, decidimos voltar a postar esses textos e  hoje trazemos para vocês o artigo número 2.  Caso queira ler primeiro os artigos anteriores, 
clique nos links a seguir:

Literatura: o que é isso? (1)
Literatura: o que é isso? (2)


Literatura: o que é isso? (3)


Mas dizer que a ficcionalidade (e Isso desde o Círculo Línguístico de Praga − década de 1930, principalmente) é fundamental para que se conceitue o que os formalistas chamaram de literariedade não é suficiente. Existem outros componentes que nos ajudam a enformar o conceito de Literatura pelo menos aproximadamente. Ou seja, são vários os elementos que nos ajudam a identificar a linguagem literária.
Como arte da palavra, na literatura a palavra não é mais apenas o suporte da ideia, ela é a matéria de que se faz a arte. Jean-Paul Sartre, num belíssimo ensaio sobre o assunto, construiu a metáfora da vidraça. A língua pragmática, da informação, que alguns autores designam por sistema modelizante primário, seria como o vidro transparente. Ele não deve aparecer, mas permitir que a visão o atravesse para perceber o que existe além dele. A língua da literatura, sistema modelizante secundário, é como o vidro colorido e decorado. Antes de se perceber o que está além do vidro, é a ele mesmo que se presta atenção.
Segue-se daí que, na qualidade de matéria com que se constrói a arte, o texto literário valoriza a sonoridade, o colorido, da palavra, sua musicalidade, o ritmo de suas frases. Em “Vozes veladas, veludosas vozes”, por exemplo, num verso do simbolista Cruz e Sousa, a aliteração (a reiteração do fonema /v/) cria com o som das palavras uma aproximação com a ideia de “voz”. Ou seja, na escolha dos vocábulos, neste como em outros casos (tanto na poesia quanto na prosa) o som importa e deve ser levado em conta. O autor literário sabe disso e faz o melhor (ou nem tanto) uso desse recurso, de acordo com seu domínio da linguagem. Um exemplo de ritmo na prosa, que, neste caso já se pode considerar como métrica (própria da poesia tradicional), é o parágrafo abaixo, extraído de Manuelzão e Miguilin, de João Guimarães Rosa:
O nome desse vaqueiro, ele mesmo não dizia: − O meu nome a ninguém conto, pois o tenho verdadeiro. Se o meu nome arreceberem, sina e respeito eu perdo. Me chamem de nada, até saberem: se sou tolo, se sou ladino. Enquanto eu não tiver nome, me chamem só de Menino…
É evidente que o abuso na utilização de um mesmo recurso em lugar de acrescer o encanto de um texto pode torná-lo aborrecido. Assim são os excessos.
Mas existem outras figuras de retórica a que um autor de literatura pode (e deve) lançar mão. É o caso, por exemplo, dá ironia, de que Monteiro Lobato nos dá um ótimo exemplo em seu conhecido conto Negrinha:
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
E isso depois de ter colocado um ovo fervendo à força na boca de sua pequena escrava.
Recursos como eufemismos, ambiguidades, elipses, sinestesia e muitos outros são elementos com que conta o autor de texto literário. (Continua)






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