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O TIO DO CHURRASQUINHO

O tio do churrasquinho

(crônica de Menalton Braff)

Conta-se com muita malícia entre os moradores de Bruzundanga que houve época em que o país modorrava ainda entre as sombras da ignorância. Sua população, como conhecimento, não passara do pensamento místico de origem empírica. Chegou-se, nessa época, a difundir a ideia de que o planeta no qual estava alojado Bruzundanga era um planeta plano e, em razão disso, não se podia navegar indefinidamente na mesma direção sem causar a precipitação no vazio, isto é, navegador, navio, a equipagem toda em queda vertical para o fundo do universo. O universo tinha um fundo. Houve um
estrangeiro, pelo menos é o que contam, afirmando que navegar era preciso e que viver não era preciso. E completam os difusores do conhecimento no país que esse seria um modo de desabitar Brunzundanga tornando-o território facilmente conquistável.

Coisas do passado.

A democracia era o regime político desse país, regime combatido por muitas pessoas de belas coxas um pouco cabeludas, mas de pele clara e músculos avantajados.

Um dia, esses eleitores, sim, porque apesar de detestarem a democracia, eram eleitores, pois eles conseguiram alçar ao poder máximo do país um de seus representantes. O que fizeram conscientemente, pois todos eles, assim como seu representante, sabiam muito bem que toda a ciência era falsa, que toda a filosofia era uma enganação, então como projeto de sua governança nada deveria ser construído, mas com a rapidez possível era necessário destruir o vício em seu país.

O governante, que nada tinha a fazer no palácio, perambulava pelas ruas em busca do genuíno conhecimento. Em algum lugar ele deveria estar escondido.

Numa bela tarde de domingo, um sol maneiro sobre a cidade, o presidente caminhava em uma das calçadas não muito distante de sua residência, quando teve a atenção voltada para um homem e sua barraca vendendo churrasquinho. Eram tão ágeis suas mãos, tão macias suas palavras que o presidente se aproximou. Imediatamente o tio do churrasquinho começou a dar conselhos ao governante. E tais e tantos foram os conselhos que o governante viu-se encantado. Finalmente encontrara o sábio de cujos conselhos se utilizaria dali em diante.

Os conselhos em todas as áreas foram de extrema utilidade, mas acima de todas foram os conselhos em saúde pública. Ele contrariava o pensamento de todos os médicos do país, talvez do mundo, mas suas palavras pareciam nascidas do cérebro privilegiado do presidente. Ora, pensou esse, se agora estou de posse do verdadeiro conhecimento, não preciso mais contar com um ministério que me custa muito dinheiro e como medida de economia demitiu os ministros, uns vinte, talvez mais, e para seus
lugares nomeou o tio do churrasquinho.

E foi assim que Bruzundanga encontrou o caminho da prosperidade: com pouca gente, é certo, mas muitas barracas de churrasquinho.


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