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Não! Não Olhe!

Mesmo não tendo gostado tanto assim de Nós, segunda empreitada de Jordan Peele na direção de longas metragens, não posso afirmar que não havia expectativa para seu terceiro filme. Por isso, resolvi embarcar  na sessão de Não! Não Olhe! sem ter visto nenhum trailer, ou sequer visto a sinopse. E esta foi a melhor escolha que eu poderia ter feito, pois é, acima de tudo, a curiosidade que nos mantém conectados ao filme. Logo, tudo bem se você quiser parar por aqui, e retornar a esta resenha após a sessão, já que apesar de sem spoilers, este texto deve trazer um bom panorama da produção.

Os irmãos irmãos OJ Haywood (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer) herdaram o rancho de seu pai no Vale de Santa Clarita, no sul da Califórnia. E tentam com muita dificuldade manter o negócio ativo. Quando um fenômeno misterioso começa a acontecer na propriedade, a dupla vê uma oportunidade de fazer dinheiro registrando o ocorrido para vender para a imprensa.

É claro, antes de perceber a oportunidade, a dupla precisa descobrir, e "entender" na medida do possível o que de fato está acontecendo. É neste mistério e sua descoberta lenta que reside o ponto alto do filme. A apresentação nada apressada dos elementos e fenômenos atiçam a curiosidade e engajam o público com facilidade. É quando o suspense já fora explorado, e chega o momento de respostas e desfechos que o filme se perde no espetáculo que decide entregar.

Parâmetros estabelecidos no momento de suspense, como "a forma do fenômeno agir" ou como ele afeta o ambiente, mudam constantemente. Outros nascem de mera dedução dos personagens, sem grandes explicações para tal. Enquanto algumas rimas construídas ao longo da projeção não funcionam tão bem quanto deveriam. A mais evidente delas, toda a trama do macaco Gordy, tenta criar uma relação com o evento principal, mas as conexões são fracas. A ideia é apontar o erro de se domesticar um predador, mas as circunstâncias entre os dois eventos são tão distintas que o público pode ter dificuldade em relaciona-los. 

Outro parâmetro crucial também instável está diretamente relacionado ao título nacional, que é quase um spoiler por si só! O evento misterioso afeta quem olha para ele. Mas o filme tem dificuldade de definir o que é olhar. Objetos inanimados que tem representações de olhos bastam? Um capacete que esconde seus olhos te permitiria olhar? Á certa altura é impossível que terceiros não estejam vendo o evento à distância, então porquê o evento se foca em um grupo específico? Assim como em Nós, o bom argumento está presente, mas parece ter faltado tempo, ou a percepção de que um refinamento melhor de seu universo e regras eram necessários.

O elenco entrega um bom trabalho de acordo com o que o roteiro exige deles. Daniel Kaluuya entrega um rancheiro calado e pacato, que prefere a segurança à curiosidade. Enquanto Keke Palmer constrói a irmã como o completo oposto. Faladeira, expansiva e com bom tempo de comédia, é dela que vem os momentos mais bem humorados do longa. Outro destaque fica com Steven Yeun como Jupe, ex-estrela mirim de TV, que tece uma crítica curiosa e inesperada à indústria do entretenimento. Personagem que tem um arco próprio, que talvez  rendesse uma história mais interessante do que a trama que Peele escolheu como principal. 

Assim como em seus trabalhos anteriores, Peele é tecnicamente muito competente na forma como pretende contar sua história. Os efeitos especiais que constroem o tal fenômeno também funcionam bem. Não entregam nada revolucionário ou original, mas servem à narrativa, sem chamar atenção para si. 

O destaque entretanto, fica com a fotografia, que explora bem as paisagens amplas, e o curioso ângulo de atuação do fenômeno, para criar uma vastidão árida, e aterrorizante. Trata-se de um espaço amplo, com pouca vegetação e construções, sem esconderijos fáceis. A sensação de que os personagens não tem para onde correr, é inevitável e eficiente. 

Há ainda tempo para referências e relações que ora ajudam a construir os personagens e universo, ora soam mais gratuitas. Como o suposto parentesco dos protagonistas com um domador de cavalos precursor do cinema, que parece oferecer uma bagagem para a dupla, mas na realidade é um aceno para os muitos profissionais negros da sétima arte que tiveram seus nomes ignorados pela história. Mantendo a tradição do diretor de incluir criticas sociais, especialmente sobre racismo em suas obras.

Não! Não Olhe! começa bem, constrói um suspense bem cadenciado, que ganha o público pela curiosidade. Entretanto, a produção se perde em seu desfecho, não conseguindo trabalhar com eficiência todos os elementos que apresentou, apostando no espetáculo e em um final grandioso. Se consumido de forma bastante descompromissada, pode sim entreter e agradar ao longo daquelas duas horas. Entretanto, para aqueles que se empenharem mais na intepretação, o filme fica mais falho conforme pensamos mais sobre ele. É provável que para muitos, este longa não atenda às muitas expectativas e especulações criadas entorno dele. 

Não! Não Olhe! (Nope)
2022 - EUA - 130min
Suspense, Terror



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