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O Homem do Norte

 "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena!" - Sim, estou começando a crítica do novo filme de Robert Eggers com uma fala do programa infantil mexicano Chaves. Acontece, que o terceiro longa do diretor dos aclamados A Bruxa e O Farol, é sobre como a vingança é cíclica, limitante e aprisionadora daqueles que vivem por ela. Tudo isso, exacerbado por uma cultura viking selvagem, brutal e animalesca.

Amleth (Alexander Skarsgård, Oscar Novak faz o personagem na infância) presencia a morte de seu pai, o rei Horvendill (Ethan Hawke), o sequestro de sua mãe, a rainha Gudrún (Nicole Kidman) e de seu reino por seu tio Fjölnir (Claes Bang). Em fuga, o jovem promete vingança. Décadas mais tarde, ele retorna para vingar o pai, resgatar a mãe e matar o tio. 

Inspirado na lenda nórdica de Amleth, que dizem inspirou Hamlet de Skaekespeare, O Homem do Norte aposta na brutalidade, espiritualidade e na fidelidade ao período e cultura, para construir sua jornada de vingança. Seu protagonista é guiado pelas entidades da mitologia nórdica, sua violência é visceral e animalesca, e o mundo a sua volta é agressivo, frio e realista. 

Em seu primeiro longa de grande orçamento Eggers, mostra saber equilibrar a verba, sua personalidade e as exigências de um grande estúdio. O diretor é detalhista na pesquisa e construção de mundo, criando cenários, escolhendo locações e fotografia que transmitem para o público a grandiosidade intimidadora, a dureza e hostilidade do cenário em que a história se desenvolve. Enquanto as cenas de ação são criativas, e pensadas para destacar a brutalidade das lutas. Algumas delas em elaborados planos sequencias, repletos de figurantes, animais, armas voando e até fogo. 


A carnificina, é sem censura, e sua exploração junto as cenas de ação, é pensada e coordenada para causar no espectador o maior impacto possível. E causa! O Homem do Norte definitivamente não é um filme para todo mundo. Haverá quem sairá da sala, questionando a necessidade de tanta violência. Quem ficará enjoado ou se sentirá ofendido por ela. Ou ainda aqueles que completamente insatisfeitos, com a produção que tem sido vendida como uma ação/aventura, mas que foge destes padrões. Além da violência acentuada, o ritmo é mais compassado. E toda a narrativa é permeada por vislumbres mitológicos, que podem ou não, serem lidos de forma metafórica, ou ainda como alucinações dos personagens. 

Como uma boa lenda, seus personagens são arquétipos, e o roteiro pouco os estuda além disso. O herói consumido pela vingança, o traidor, o tolo, a bruxa aliada (esta última vivida por Anya Taylor-Joy, que volta a trabalhar com o diretor que a descobriu) e por aí vai. O elenco entrega a intensidade que estes perfis de poucas camadas pedem. Skarsgård é o destaque, trazendo em sua linguagem corporal toda a raiva reprimida ao longo de anos. A personagem de Kidman é a exceção, fugindo do arquétipo de mãe sofredora. Gudrún trazendo um ponto de vista diferente e atitudes inesperadas. Mostrando que a realidade, o que conhecemos, e o que ficará para a posteridade podem não ser exatamente a mesma coisa. 

Esta talvez seja uma das maiores reflexões do filme, a forma com as lendas surgem, são romantizadas e influenciam aqueles que acreditam nela. Amleth é guiado pelas lendas com que foi criado, e se tornará lendário. Influenciando outros, que ouvirão a versão heroica e romântica de sua jornada. Eggers nos mostra a versão crua, cruel e realista desta lenda. 

A devoção à vingança e seu eterno ciclo são outros pontos de discussão do longa. A vingança é a missão que consome o protagonista, e o cega para outras possibilidades de vida, mesmo quando estas lhes são oferecidas de bandeja. E seu ciclo se repete, e se mantém, consumindo geração após geração. 

O épico viking definitivo, é assim que O Homem do Norte deveria ser vendido ao público. Ao invés de blockbuster de ação medieval que o material promocional oferece. Tecnicamente perfeito, visualmente deslumbrante, o longa é uma jornada de vingança violenta, visceral e animalesca. É um excelente filme, mas não deve, e nem pretende, agradar a todos. 

O Homem do Norte (The Northman)
2022 - EUA - 137min
Ação, Aventura, Drama



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